Comissão global propõe mudanças no diagnóstico de obesidade
Especialistas sugerem que o IMC seja apenas um indicador, e não critério único para diagnosticar a obesidade.
- Data: 14/01/2025 21:01
- Alterado: 14/01/2025 21:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Governo de SP
Um grupo internacional de pesquisadores, incluindo especialistas brasileiros, está promovendo uma mudança significativa na forma como a obesidade é diagnosticada. Eles argumentam que o Índice de Massa Corporal (IMC) não deve ser o único critério para determinar a condição de obesidade, uma vez que essa métrica não mede diretamente a gordura corporal, não reflete sua distribuição no organismo e não fornece informações suficientes sobre a saúde individual.
De acordo com as recomendações desses especialistas, o IMC deve ser utilizado apenas como um indicador substituto de risco à saúde em estudos populacionais ou para fins de triagem epidemiológica. Atualmente, considera-se que uma pessoa está com sobrepeso se seu IMC é igual ou superior a 25, enquanto um índice de 30 ou mais é classificado como obesidade.
Na nova proposta, além do IMC, será necessário avaliar o acúmulo de gordura corporal e outros componentes clínicos para um diagnóstico mais completo.
Essas questões foram abordadas em um artigo publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, fruto dos trabalhos da Comissão sobre Obesidade Clínica. A comissão é composta por 58 profissionais de áreas diversas como endocrinologia, medicina interna, cirurgia, biologia, nutrição e saúde pública, além de representantes de pessoas que convivem com a obesidade. O trabalho conta com o respaldo de 75 organizações médicas ao redor do mundo.
Para melhorar a avaliação da gordura corporal e sua distribuição, os pesquisadores sugerem os seguintes métodos: realizar pelo menos uma medição do tamanho corporal (como circunferência da cintura ou relação cintura-quadril) como complemento ao IMC; fazer duas medições corporais independentes do IMC; medir diretamente a gordura corporal por meio de técnicas como densitometria óssea ou Dexa; ou assumir a presença de adiposidade em indivíduos com IMC superior a 40.
Além disso, a comissão propõe um novo modelo para classificar as doenças associadas à obesidade em duas categorias: pré-clínica e clínica. Ricardo Cohen, coautor do estudo e chefe do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que agora a obesidade deve ser vista como uma doença crônica e progressiva, caracterizada por sinais e sintomas específicos. “Obesidade pré-clínica refere-se à condição sem sinais visíveis; apesar de um IMC elevado e excesso de gordura, o paciente apresenta apenas um fator de risco,” esclarece Cohen.
Cohen também observa que as estratégias de tratamento devem variar conforme o diagnóstico: indivíduos com obesidade clínica necessitam de intervenção imediata, enquanto aqueles com obesidade pré-clínica devem ser submetidos a medidas preventivas adequadas ao seu perfil de risco.
Os autores definiram 18 critérios diagnósticos para adultos e 13 para crianças e adolescentes. Cohen ressalta que essa nova abordagem pode ser aplicada globalmente, mas destaca que os fatores de risco podem variar conforme a região geográfica. “Cada paciente possui riscos diferentes dependendo do país onde vive; por exemplo, quem reside no Brasil pode ter um perfil distinto em comparação a alguém na Índia. A medicina atual se pauta pela precisão e individualização,” afirma.
A Comissão Global visa oferecer um diagnóstico mais detalhado sobre o que significa viver com obesidade. Essa distinção é vital para entender que nem todas as pessoas com excesso de gordura corporal apresentam uma doença manifesta no momento do diagnóstico. No entanto, muitas estão em situação de risco e requerem acompanhamento adequado.