Bets viram dilema para influenciadores em meio a investigações

Os jogos de azar online foram liberados no país em meados de 2018. Desde então, têm injetado dinheiro em publicidade em diversos setores, de clubes de futebol a artistas.

  • Data: 28/09/2024 14:09
  • Alterado: 28/09/2024 14:09
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Diego Alejandro
Bets viram dilema para influenciadores em meio a investigações

Crédito:Reprodução

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Apesar dos altos valores, alguns influencers estão receosos em fazer publicidade de casas de apostas ou cassinos online. As suspeitas recentes sobre Deolane Bezerra e Gusttavo Lima no âmbito de uma investigação sobre bets acentuam ainda mais essa desconfiança.

Os jogos de azar online foram liberados no país em meados de 2018. Desde então, têm injetado dinheiro em publicidade em diversos setores, de clubes de futebol a artistas. A reportagem conversou com influencers que não aceitaram fazer propaganda do tema. Eles disseram que ficaram balançados com as propostas, e lamentaram o que consideram represálias a categoria devido às polêmicas recentes do setor de apostas.

“Quase todo dia chegam propostas na minha caixa de mensagem. Algumas esperam que respondam, outros já apresentam as condições”, conta Mariana Mendes, que há oito anos produz conteúdo de maquiagem e beleza para seus mais de 180 mil seguidores no Instagram.

“É dinheiro fácil”, diz ao mostrar um dos contatos mais recentes. Uma conta verificada, em nome da casa BET7k, oferece R$ 100 mil antecipado por dois stories por dia durante uma semana, sem metas de engajamento.

“As marcas, com quem trabalho, chegam de um jeito profissional, já me conhecem e conversam com meu propósito”, diz Mariana. “O que eu falo, meus seguidores acreditam. Se alguém for prejudicado, vai ser por minha causa. Que resposta eu vou dar?”, questiona ela.

A influencer afirma que já conviveu com pessoas próximas viciadas em aposta, e, por isso, é totalmente contra.

O professor universitário e influenciador Rafael Belli também já recebeu o que classifica como “propostas escandalosas”. Ele tem 1,4 milhão de seguidores no TikTok.

Uma delas pagaria R$ 20 mil por um vídeo educacional sobre como as pessoas deveriam jogar com responsabilidade. “Quase aceitei, mas percebi que seria mais publicidade velada”, diz. A outra pagava o mesmo valor por mês e mais uma porcentagem de quanto seu seguidor gastava na plataforma.

“O valor é tentador mesmo. Se estivesse numa condição diferente, talvez me balançaria. Mas não sei se conseguiria dormir a noite”, afirma. “Na universidade, já há muitos casos de alunos que pararam de pagar mensalidade para jogar no tigrinho.”

Um de cada três brasileiros de 16 a 24 anos afirma que já apostou, mostra o Datafolha. É o dobro da média de 15% para todo país. Os números ajudam a explicar os quase R$ 50 bilhões gastos por brasileiros em apostas online no ano passado, segundo o Banco Central.

“Estamos vivendo uma epidemia e os influencers tem sua culpa no cartório”, afirma a especialista em marketing de influência Gigi Grandin. E as marcas têm notado isso. “Hoje, é muito comum as empresas fazerem um pente fino na carreira do influenciador antes de uma parceria”. Ou seja, se já anunciou casa de aposta ou cassino, por quanto tempo e de que forma, explica.

“Os influencers precisam se tocar que é desigual o trato entre pessoa física e jurídica”, diz. Quando um canal de TV anuncia em uma casa de aposta, por exemplo, as repercussões são totalmente diferentes das de um influenciador, afirma ela.

As implicações não só impactam a carreira, como também podem gerar processo. “A partir do momento em que um influenciador atrela sua imagem a algum produto, é como se ele desse chancela de qualidade”, afirma Danielle Biazi, advogada especializada em direito civil.

É como se uma varejista vendesse um produto defeituoso. “O consumidor, com razão, iria buscar seus direitos com quem produziu bem como quem vendeu”, diz a advogada. Ela aponta que os Procons (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) pelo país têm aplicado essa interpretação.

As decisões de âmbito civil e penal já abalam o mercado. “As prisões serviram de exemplo, de que não é terra sem lei como achavam. O pessoal vai analisar mais com quem faz parceria”, afirma Eduardo Feltrin, do TuristandoSP, que conquistou 1,1 milhão de seguidores no Instagram através de avaliações de restaurantes e pontos turísticos.

“Nós sempre recebemos propostas estranhas, mas depois da Blaze virou algo generalizado e sem limites”.

A Blaze é um cassino online que atraiu muita atenção em 2023, tanto por patrocinar celebridades quanto por denúncias de usuários de que a plataforma não pagava o que prometia aos jogadores. A Justiça bloqueou R$ 101 milhões do site à época.

Feltrin disse que recebeu uma proposta da plataforma de mais de R$ 1 milhão para divulgá-la em seu perfil. “Nos balançou”, confessa Carol Barduk, co-autora do TuristandoSP e namorada de Eduardo. “Mas vemos que foi a decisão certa. Hoje há um racha em quem anuncia apostas e quem fica de fora. Fico chateado, porque já me afastei de muitas pessoas do meio. Considero falta de caráter.”

A reportagem tentou contato com as casas de apostas mencionadas, que não possuem sede no Brasil, mas nenhuma delas retornou.

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  • Data: 28/09/2024 02:09
  • Alterado:28/09/2024 14:09
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Diego Alejandro









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