Clima e serviços devem definir se inflação ficará dentro ou fora da meta em 2024, dizem analistas
Economistas analisam que o clima e a variação de preços em energia e alimentos serão determinantes para o IPCA de 2024.
- Data: 29/10/2024 01:10
- Alterado: 29/10/2024 01:10
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Valter Campanato - Agência Brasil
O impacto do clima em energia e alimentos e a variação dos preços do setor de serviços serão peças-chave para definir se o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechará o ano de 2024 dentro ou fora do teto da meta de inflação, conforme economistas consultados pela reportagem.
Na mediana, as projeções do mercado financeiro para o índice oficial aumentaram de 4,5% para 4,55%, de acordo com o boletim Focus divulgado nesta segunda (28) pelo BC (Banco Central).
Se confirmado, o novo número representará um estouro da meta neste ano, já que o teto é de 4,5% nos 12 meses até dezembro.
Para o economista Fábio Romão, da consultoria LCA, o principal fator que pode deixar a inflação dentro ou fora do limite da medida de referência neste ano é o comportamento das chuvas no país.
O volume de precipitações, diz, pode influenciar tanto a inflação da energia elétrica quanto os preços de parte dos alimentos -para baixo ou para cima.
“Me parece que isso virou o fiel da balança. Claro que o IPCA é muito heterogêneo, mas acho que o principal ponto agora é mesmo a questão do clima até o final do ano”, afirma Romão.
Ele reduziu a estimativa para o IPCA deste ano de 4,6% para 4,5% com a confirmação de que as tarifas de energia terão alívio já em novembro com a aplicação da bandeira amarela. A medida reflete a melhora no volume de chuvas no país -a bandeira em dezembro ainda é incerta.
De acordo com Romão, a previsão do Focus para o IPCA ainda não conseguiu captar o provável alívio nas contas de luz. A pesquisa divulgada pelo BC nesta segunda abrange previsões feitas pelo mercado até sexta, o mesmo dia em que foi anunciada a bandeira amarela para novembro.
O centro da meta de inflação é de 3%, e a tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo será cumprido pelo BC caso o IPCA fique no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado dos 12 meses até dezembro.
O economista Alexandre Espirito Santo, da Way Investimentos, prevê inflação de 4,48% neste ano, já considerando a bandeira amarela em novembro. A estimativa anterior era de 4,55%.
Apesar da trégua na projeção, ele não descarta a possibilidade de estouro da meta, já que as estimativas de modo geral seguem próximas do teto.
“Estamos brincando de cabra-cega à beira do precipício. A inflação está batendo no teto ou, eventualmente, vazando o teto. Isso exige um Banco Central vigilante”, afirma Espirito Santo, que também é coordenador de Economia e Finanças na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
O mecanismo à disposição do BC para combater a inflação é o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Em setembro, a instituição elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano, e analistas esperam continuidade no ciclo de alta, com o último Focus projetando taxa de 11,75% no fim de 2024.
Para Espirito Santo, uma questão que deve ser acompanhada de perto neste final de ano é a inflação de serviços, que pode seguir pressionada pela demanda aquecida.
Trata-se de um elemento que pode inviabilizar um patamar abaixo de 4,5% para o IPCA, segundo o economista.
“No fim do ano, a gente tende a ter uma economia mais gastadora, porque tem as festas. A gente consome mais, é natural, é histórico”, diz.
“Aí, eventualmente, vai ter uma pressão sobre o preço dos serviços. A gente tem de observar o tamanho, a intensidade desse movimento”, acrescenta.
Para Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, o comportamento da inflação de alimentos é fator crucial para saber se o IPCA ficará abaixo ou acima de 4,5% até dezembro.
Ela lembra que, tradicionalmente, os preços dessas mercadorias já são pressionados no final de ano e diz que o movimento pode ser intensificado por efeitos climáticos em 2024, como o registro de fortes chuvas após o período de seca.
A situação poderia ameaçar lavouras de ciclo mais rápido, como hortaliças, segundo a economista.
“O nome do jogo é, principalmente, a inflação de alimentação, que pode estar mais pressionada do que já é no final de ano, e aí trazer a inflação [cheia] para cima do teto”, afirma Pinheiro, que por ora prevê IPCA de 4,4%.
O economista André Perfeito, por sua vez, projeta variação de 4,5%. Ele não descarta um estouro da meta, mas diz que a bandeira amarela nas contas de luz em novembro e a queda das cotações do petróleo neste início de semana trazem alívio.
“Outra questão é que o fim do ciclo eleitoral deve abrir espaço para o ministro [Fernando] Haddad se posicionar e falar o que quer fazer, especialmente porque o PT não foi bem nas eleições. Tem mais chances de uma coisa mais ortodoxa do ponto de vista econômico”, afirma.
Quando a inflação fica fora do teto da meta, o presidente do BC precisa escrever uma carta explicando os motivos. Desde a criação do sistema de metas, em 1999, já foram escritas sete cartas. Duas foram de autoria do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Ele será substituído no ano que vem por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula (PT). O IPCA fechado de 2024 será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 10 de janeiro de 2025.
O ano de 2024 será o último do sistema de metas com base no chamado ano-calendário, de janeiro a dezembro. Em 2025, o BC passará a perseguir a meta de forma contínua, sem se vincular ao ano-calendário.
No novo modelo, a medida de referência será considerada descumprida quando a variação dos preços em 12 meses ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.