Cinema em Tiradentes: Novos Talentos e Desafios na 28ª Mostra
A Mostra de Tiradentes revive talentos com 'Nem Deus É Tão Justo...' e questiona a estética de 'A Primavera'; veja o que esperar do festival!
- Data: 29/01/2025 22:01
- Alterado: 29/01/2025 22:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Divulgação
A seção Aurora, tradicionalmente um dos pilares da Mostra de Tiradentes, desempenhou um papel crucial na consagração de novos talentos no cinema brasileiro. Nos últimos anos, contudo, a seção parece ter perdido parte de seu brilho, tornando-se uma programação secundária na 28ª edição do evento. As sessões das 18h, que anteriormente atraíam grandes públicos, agora enfrentam desafios para manter a relevância.
Em contraste com essa percepção, a estreia do diretor Sergio Silva com o filme “Nem Deus É Tão Justo Quanto Seu Jeans”, apresentada na noite de terça-feira (28), promete reanimar o cenário. A narrativa gira em torno de Marcos, um jovem lidando com depressão que tenta manter um relacionamento amoroso enquanto enfrenta alucinações com Pedro, seu ex-namorado falecido. A situação se complica ainda mais quando sua irmã lhe pede que cuide de sua cachorrinha, Baby, durante suas férias. Para lidar com seus dilemas emocionais, Marcos recorre a uma terapeuta que se mostra ineficaz, deixando Baby como sua possível salvação.
Um aspecto notável do trabalho de Silva é sua capacidade de abordar temas pesados com leveza e humor. Apesar do pano de fundo sombrio da depressão, o filme apresenta momentos cômicos e um ritmo que mantém o espectador engajado. Mariana Ximenes brilha no papel de Baby, oferecendo uma performance cativante como a versão humana da cachorrinha. Além disso, Silva demonstra uma habilidade impressionante na utilização das cores, conferindo ao filme uma estética vibrante e envolvente.
Resumidamente, “Nem Deus É Tão Justo…” se destaca por sua abordagem criativa das complexidades da vida contemporânea e oferece uma experiência cinematográfica divertida e concisa, com apenas 73 minutos de duração. O filme se distancia do mau gosto frequentemente associado ao gênero queer e estabelece expectativas positivas para o futuro do diretor.
Por outro lado, o filme “A Primavera”, dirigido por Daniel Aragão e Sérgio Bivar, apresentado na sequência na seção Olhos Livres, provoca reações mistas. A obra inicia-se com uma estética reminiscentemente semelhante a produções da Netflix, utilizando uma lente grande-angular e movimentos excessivos que podem ser considerados excessivos ou até mesmo desconfortáveis. A trama segue as desventuras de um poeta sem grande talento por Recife, que mais parece um material promocional do que uma representação autêntica da cidade vibrante proclamada pelos diretores durante a apresentação.
Os cineastas prestaram homenagem ao ator Everaldo Pontes durante a exibição. Pontes é conhecido por seu papel como São Jerônimo no aclamado filme de Julio Bressane, e muitos acreditam que ele merecia uma apresentação mais digna.
Finalmente, destaca-se a realização da Plenária do Fórum de Tiradentes neste dia. Idealizado durante o governo Bolsonaro e implementado sob a gestão Lula, o fórum visa colaborar na reinstitucionalização do cinema nacional. Com apoio do Ministério da Cultura e da Ancine, este ano marca a terceira edição do evento, que promete trazer mais significado à proposta inicial. A Carta de Tiradentes, prevista para ser divulgada nesta quarta-feira, tem potencial para transcender o caráter meramente acadêmico.