China protesta pela cultura em “Manual de Sobrevivência para Dias Mortos”
O cantor pernambucano lançou seu novo álbum no final de maio e estreou agora suas apresentações ao vivo
- Data: 01/08/2019 10:08
- Alterado: 01/08/2019 10:08
- Fonte: ABCdoABC
China
Crédito:Rodilei Morais/ABCdoABC
O cantor China fez dois shows para promover o lançamento de seu novo álbum no teatro do Sesc 24 de Maio, nas últimas quarta (24) e quinta-feira (25). “Manual de Sobrevivência para Dias Mortos” é o seu quarto disco completo em carreira solo e contou com a participação de diversos convidados, entre eles Natália Matos, Bell Puã, Uyara Torrente e Neilton da banda Devotos, todos presentes no show.
“Às vezes a gente precisa ser direto, não dá pra ficar enfeitando, fazendo letra bonita”. Foi assim que Flávio Augusto Câmara, o China, descreveu uma de suas novas canções. Em um contexto político turbulento, repleto de intolerância e desvalorização da cultura, seu novo trabalho é muito explícito no discurso que faz. Uma atitude condizente a alguém que participou do movimento punk de Recife e Olinda nos anos 90. O ex-vocalista da banda Sheik Tosado trouxe os riffs rápidos e pesados do estilo em que iniciou sua carreira musical para uma dura crítica a realidade atual do país. Mas mesmo em canções sem estes elementos a crítica se faz presente: como em “Vivo?” que abre o disco questionando o que se fazer para sobreviver nos dias de hoje.
Para passar sua mensagem, China contou com diversos convidados. Entre eles, Neilton da banda Devotos, inspiração para toda a cena punk em que China também estava inserido tocou guitarra em “Fascismo Tupinambá” e “Frevo e Fúria”. A cantora paraense Natália Matos e Uyara Torrente, d’A Banda Mais Bonita da Cidade, fizeram belos duetos com o músico em “Mareação” e “Pó de Estrela”, respectivamente. Por fim, Bell Puã, poeta que faz parte do Slam das Minas de Recife e venceu o concurso Slam BR de 2017 recitou seu impactante verso em “Moinhos do Tempo”, que nas palavras da própria “até dói de tão realista”. Após esta música, toda a banda se sentou para ouvir outro poema de Bell, este tratando da visão xenofóbica da região nordestina propagada nos estados do sul e sudeste. Exaltando importantes nomes de seu seu estado como o educador Paulo Freire, o poeta Manuel Bandeira e artistas como Lia de Itamaracá e Luiz Gonzaga, Bell deixou claro o quão culturalmente diverso e rico Pernambuco é.
Talvez a principal manifestação de China em seu show seja justamente a favor da cultura. Como músico, o pernambucano enxerga a classe artística muito fragilizada e frequentemente má-vista nos dias atuais. Fazendo questão de apresentar cada um da longa lista dos envolvidos na produção do show, o músico falou sobre como o setor cultural emprega pessoas e movimenta a economia, reforçando a importância da cultura para o país.
Os agradecimentos foram seguidos de canções mais antigas da carreira de China. Alternando humores entre a calma “Frevo Morgado”, o único frevo triste segundo o próprio, e a animada “Só Serve Pra Dançar”, China se despediu com um clima de otimismo, apesar de toda a crítica que faz em seu show. Ele próprio afirma que já não acredita que pode mudar o mundo sozinho, mas que se conseguir influenciar meia dúzia de pessoas ao seu redor já está satisfeito. A julgar pelo público no final do show, ele conseguiu muito mais que isso.