Cenário improvável: retorno de empresas americanas à Rússia diante da instabilidade

O presidente Donald Trump expressou recentemente sua intenção de estabelecer acordos de desenvolvimento econômico com Moscou.

  • Data: 01/03/2025 10:03
  • Alterado: 01/03/2025 10:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Assessoria
Cenário improvável: retorno de empresas americanas à Rússia diante da instabilidade

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Crédito:RS/ Fotos Públicas

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Um recente afrouxamento nas tensas relações entre os Estados Unidos e a Rússia tem suscitado discussões sobre a possibilidade do retorno de empresas americanas ao mercado russo, um movimento que parecia inconcebível há pouco tempo. Esse cenário emergiu após conversas estratégicas entre o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e autoridades russas, nas quais foram mencionadas as “extraordinárias oportunidades” que poderiam surgir em termos econômicos e geopolíticos, caso a guerra na Ucrânia chegue ao fim.

No entanto, a realidade é mais complexa. O presidente Donald Trump expressou recentemente sua intenção de estabelecer acordos de desenvolvimento econômico com Moscou. Apesar das declarações otimistas, o êxodo massivo de mais de mil empresas globais da Rússia desde a invasão da Ucrânia em 2022 levanta dúvidas sobre a viabilidade desse retorno.

Kirill Dmitriev, líder do Fundo Russo de Investimento Direto, previu que algumas empresas americanas poderiam considerar voltar ao país já no segundo trimestre deste ano. Contudo, especialistas no setor permanecem céticos quanto a essa perspectiva. Janis Kluge, pesquisador do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, ressaltou que o ambiente de negócios na Rússia continua extremamente instável e arriscado. “A reputação das empresas está em jogo; é difícil justificar o risco para um mercado que não oferece grandes oportunidades”, afirmou Kluge.

A dinâmica de negócios na Rússia já era complicada antes da guerra, marcada por corrupção e burocracia excessiva. Timothy Ash, estrategista sênior na RBC Bluebay Asset Management, apontou que a situação se agravou desde 2022 devido às sanções econômicas impostas pelo Ocidente. Entre os principais riscos enfrentados por investidores estrangeiros está a possibilidade do governo russo confiscar ativos. Recentemente, Vladimir Putin promulgou um decreto que permite ao governo assumir temporariamente o controle de ativos estrangeiros, uma medida que culminou na nacionalização dos bens da fabricante francesa Danone e da cervejaria dinamarquesa Carlsberg.

A corrupção também continua sendo um obstáculo significativo. A Transparency International classificou a Rússia como o 136º país em seu índice de percepção de corrupção em 2021, e em 2024, a posição piorou para 154º lugar, empatada com países como Azerbaijão e Honduras.

Além disso, a economia russa tornou-se menos integrada ao comércio global devido às sanções. A exclusão de alguns bancos russos do sistema SWIFT dificultou ainda mais as transações financeiras internacionais. Como resultado, até mesmo operações básicas em moedas ocidentais tornaram-se desafiadoras para empresas que desejam operar na Rússia.

As perspectivas futuras para as empresas americanas são sombrias. Elina Ribakova, pesquisadora sênior no Peterson Institute for International Economics, observou que a Rússia não é mais uma escolha atrativa para investidores estrangeiros. Com os Estados Unidos aumentando sua própria produção de petróleo e gás natural e competindo diretamente no mercado global, a necessidade dos recursos russos diminuiu drasticamente.

Ribakova também destacou o impacto da guerra na classe média russa, que encolheu significativamente devido aos conflitos e à fuga de cidadãos do país. “A economia agora gira em torno do complexo militar-industrial, um setor onde não se espera colaboração entre Estados Unidos e Rússia”, acrescentou.

Analistas alertam ainda sobre a fragilidade das atuais relações diplomáticas entre Moscou e Washington. A incerteza política pode transformar rapidamente um ambiente promissor em um cenário desfavorável para investimentos. “É impossível prever como as políticas podem mudar sob uma nova administração nos EUA”, concluiu Rochlitz.

Em suma, o retorno das empresas americanas à Rússia enfrenta barreiras significativas que vão além das considerações econômicas; trata-se também de navegar por um terreno político volátil e arriscado.

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  • Data: 01/03/2025 10:03
  • Alterado:01/03/2025 10:03
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