Celulares minimalistas apostam no ‘detox digital’ com recursos básicos e foco no design
Fundador da The Light Phone diz que aparelhos devem ser vistos como ferramentas, não como o centro da vida
- Data: 02/09/2024 09:09
- Alterado: 02/09/2024 09:09
- Autor: Redação
- Fonte: Gustavo Soares/Folhapress
Light Phone 3
Crédito:Divulgação/The Light Phone
Entre os smartphones tradicionais e os chamados “dumbphones”, aqueles celulares sem acesso à internet, há um tipo de aparelho em ascensão que surfa no desejo das gerações mais novas de se afastar do uso excessivo da tecnologia.
Marcas estrangeiras como The Light Phone, BoringPhone, Palma e The Minimal Company apostam em uma espécie de terceira via do detox digital, aliando uma falta de recursos intencional com um design de produto refinado e uma filosofia avessa às grandes empresas do setor.
Mais do que modelos para pais que querem blindar os filhos da superexposição às telas, como é o caso dos “telefones burros”, essas empresas miram um estilo de vida minimalista, com suas campanhas e sites alertando para as vantagens de uma vida longe da lógica dos feeds infinitos e da coleta de dados pessoais.
O principal exemplo é o Light Phone, com recursos básicos como chamadas, SMS, calculadora, alarme e notas, mas propositalmente sem acesso a um navegador de internet e a apps como o WhatsApp, o Spotify e o Instagram.
Na versão Light Phone 2 (US$ 299, R$ 1.685, sem considerar os impostos), o destaque fica para a tela do tipo papel eletrônico, ou E Ink, comum em leitores digitais como o Kindle, da Amazon.
A tecnologia é caracterizada pelo baixo consumo energético e alta visibilidade mesmo em contato direto com a luz solar, apesar de não ter a mesma velocidade de atualização e exibição de cores que as telas comuns.
Esses aspectos negativos, no entanto, são vantagens desta vez, principalmente porque não cansam os olhos e poupam bateria. O Light Phone 3, modelo mais robusto que inclui uma câmera, está em pré-venda por US$ 499 (R$ 2.810).
O que pode ser caro demais para recursos de menos já tem seu público fiel -o modelo atual já vendeu quase 100 mil unidades, a maior parte delas para pessoas de 20 a 35 anos, segundo o fundador da empresa, Kaiwei Tang.
“A ideia era criar algo que fosse o oposto do que significa sucesso entre os investidores de tecnologia, fazer nossos celulares serem ferramentas de novo, como um martelo, uma chave de fenda, e não o centro da sua vida”, disse Tang.
Recursos postos de lado, o que chama atenção, paradoxalmente, é o design minimalista. Retangular, com tela fosca e interface “clean”, o aparelho lembra o monólito de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.
“A razão pela qual o Light Phone tem uma tela discreta é porque não queremos que o celular seja o destaque. Ele deve ser uma ferramenta que é invisível quando não é necessária”, disse.
O design é tão importante nessa tendência que a HMD, empresa que assumiu os direitos do Nokia “tijolão”, lançou celulares flips sem redes sociais voltados justamente para uma geração Z que já vê os anos 2000 com nostalgia.
Uma campanha da Heineken com a Bodega e a LePub promove um sorteio do chamado Boring Phone (celular chato), um aparelho da HMD com a carcaça transparente ao estilo dos iMacs da virada do milênio.
A fabricante ainda lançou no dia 28 de agosto um modelo em parceria com a Barbie todo em rosa que acompanha acessórios e adesivos.
Voltando ao mundo em preto e branco, a marca The Minimal Company adotou uma estratégia semelhante à da Light Phone, embora seja menos espartana.
O Minimal Phone (US$ 399, R$ 2.245) oferece acesso completo à Play Store, loja de aplicativos do Android, e um teclado físico no estilo dos celulares BlackBerry. O aparelho também promete uma bateria que dura dias, no plural, espaço para dois chips e também a tela do tipo E Ink.
Outra proposta é a da Ghost Mode, que revende celulares Pixel, do Google, com um sistema operacional próprio que limita o acesso a redes sociais e à navegação na internet, mas sem deixar de lado vantagens como a qualidade da tela e das câmeras. Já a marca Palma produz os Boox, leitores digitais com acesso a aplicativos e telas do tipo E Ink.
“Algumas pessoas chamam de celular minimalista, acho que funciona. Mas eu me recuso a chamá-los de dumbphones, porque uma ferramenta não é burra nem inteligente. A ferramenta deve apenas fazer alguma coisa bem, ajudar a concluir uma tarefa rapidamente e sumir”, disse Tang, da Light Phone.
Se a ideia é ser minimalista também nos gastos, é possível transformar celulares Android em aparelhos mais limitados e menos chamativos com a interface “Minimalist Phone”, com mais de 1 milhão de downloads na Play Store. Para usuários de iPhone, o aplicativo Opal é a melhor opção para reduzir o tempo de tela.
Os próprios sistemas operacionais dos smartphones, e aplicativos como Instagram, Facebook e TikTok, também oferecem funções para alertar o usuário após determinado período de uso.