CCSP apresenta O Dia Seguinte ao 13 de Maio
Projeto que propõe discutir as consequências da Lei Áurea na sociedade e os impactos de uma pós abolição que não garantiu condições básicas de sobrevivência à população negra.
- Data: 12/05/2021 09:05
- Alterado: 12/05/2021 09:05
- Autor: Redação
- Fonte: CCSP
CCSP apresenta O Dia Seguinte ao 13 de Maio.
Crédito:Divulgação/CCSP
Nos dias 14, 15 e 16 de maio, o CCSP apresenta de forma híbrida o projeto “O Dia Seguinte (ao 13 de Maio)”. A programação multidisciplinar reúne mais de 50 artistas pretos(as) que sob várias perspectivas trarão à luz do debate os desdobramentos do pós-abolição, suas marcas e ramificações na atualidade.
No Brasil, último país a abolir a escravidão, pouco se fala do que aconteceu depois do dia 13 de maio de 1888, data que marca a Abolição da Escravatura. Para além dos 133 anos que se passaram, a sociedade ainda lida com as sequelas do tratamento dispensado à população escravizada, uma vez que não houve preparação para um novo regime de organização da vida, da moradia e do trabalho.
Apostar em evidenciar a luta e os desafios da população negra ao longo desses anos é o objetivo dessa potente programação do CCSP, em que as curadorias atuam de forma transversal e complementar.
O quê: O Dia Seguinte (ao 13 de Maio)
Data: de 14 a 16 de Maio de 2021, nas plataformas digitais do Centro Cultural São Paulo
Onde: nas plataformas digitais do CCSP (Youtube, Instagram, Vimeo).
Uma perspectiva preta sobre o 14 de Maio – O Dia Seguinte
“No dia 14 de maio ninguém me deu bola
Eu tive que ser bom de bola pra sobreviver
Nenhuma lição, não havia lugar na escola
Pensaram que poderiam me fazer perder”
A gravidade da voz de Lazzo Matumbi imprime aos versos que fazem as vezes de epígrafe a este texto um tom solene, quase ritual, fazendo ecoar a denúncia, resiliência e tentativa de interrupção da história que a letra da canção invoca e convida a realizar. O tema – o dia seguinte à sanção real que aboliu legalmente (mas não substantivamente) o regime da escravatura no Brasil –, deveria ser nosso velho conhecido. Mas não é. Muito ainda se fala sobre o 13 de maio. Não raras vezes, em tom cívico-romântico, celebratório, quando não de todo falso, como na lorota que recria a imagem da sra. Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon como uma princesa de pura bondade, uma quase-santa branca e dadivosa, que numa canetada rompeu os grilhões da escravidão. Oh!
Apesar dos esforços dos movimentos negros, dos edifícios de memória legados pela ancestralidade-viva, pelas estratégias de revisita historiográfica de nossas intelectuais, pouco se fala das longas e variadas formas de luta negra por liberdade que antecederam, pressionaram e precipitaram as discussões parlamentares que levaram ao fim (jurídico) da escravidão naquele dia. Da queima de engenhos à organização de quilombos, da fuga individual à revolta coletiva, do envenenamento de senhores ao abolicionismo organizado, onde houve escravidão, houve resistência. Fora dos círculos negros, se fala menos ainda a respeito do dia seguinte, da vida depois que “a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou”.
Fato é que a Lei Áurea, apesar do nome, não reluziu por muito tempo. Desacompanhada de qualquer política que garantisse condições mínimas de inserção socioeconômica aos agora ex-escravizados, tampouco de uma reparação à barbárie que lhes foi impingida (e a seus ancestrais) por mais de três séculos, a liberdade que a lei. 3.353 de 1888 prometeu foi uma espécie de rojão molhado. Difícil de acender, mais ainda de projetar, relegando um rastilho de desigualdades racializadas que se estende e reinventa até os dias correntes. Se o 13 de maio foi motivo de celebração, o 14 se inscreveria no calendário nacional como o dia que nunca terminou.
Tal como o racismo antecedeu e preparou terreno para a ideia de raça (e não o contrário, repare), a suposição de igualdade perante a lei lastreou a negação do óbvio: que o racismo fundante e estrutural da sociedade brasileira prescinde do corpo da lei, mesmo de intencionalidade, para ainda assim acontecer. Pois se fez impregnar no cotidiano, linguagem, retinas. A paisagem do dia seguinte, inalterada em relação à véspera, fez conviver entre nós uma fábula de cordialidade e democracia racial em evidente descompasso e dissociação com o genocídio que caracteriza o embaraçoso real em que estamos, ainda, mergulhados como sociedade.
Há décadas, diferentes frentes do movimento negro têm utilizado a factualidade do dia seguinte (ao 13) como metáfora de um passado-contínuo que fez/faz prolongar os efeitos da cultura escravocrata para muito além da oficialidade de seu remate: a abolição de jure não significou uma abolição de facto. No Brasil, último país das Américas a findar legalmente o cativeiro, a violência (física, simbólica, cultural) continuamente perpetrada contra pessoas e coletividades negras, permite afirmar, sem firulas ou escusas formalistas, que ainda vivemos num longo período pós-abolição, num ainda não-cicatrizado e violentíssimo dia seguinte.
Vejamos os índices nacionais de educação, moradia, saúde, emprego, renda, expectativa de vida, encarceramento, vítimas de homicídio, da inapetência do governo em combater a pandemia etc. etc. etc.: pessoas negras seguem compondo, ontem como hoje, a maioria da base da pirâmide. Nem mesmo as conquistas nesses últimos 133 anos (e olha que não foram poucas) dão conta da disparidade histórica.
Mas vejamos também as tecnologias e estratégias de sobrevivência (e de abundância) desenvolvidas pelas pessoas e coletividades negras que nos antecederam. Qual o papel dos clubes sociais negros das primeiras décadas após a abolição? Como operaram as irmandades religiosas e redes de solidariedade de homens e mulheres preta/os do período? A imprensa negra, que temas pautou? Intelectuais negros, políticos negros, escritores negros: quem eram? Como se posicionaram? Os grupos culturais das mais diversas naturezas, do maracatu rural ao funk contemporâneo, como se articula(ra)m?
Mergulhados nesse universo de questões, organizamos uma intensa programação multidisciplinar convidando o público do Centro Cultural São Paulo a deslocar o holofote por anos dispensado ao 13 de maio e jogar luz sobre o dia que lhe sucedeu, o after, aquilo que, baixada a poeira, permaneceu lá. Bem como aquilo que, de lá pra cá, vem mudando, apesar de tudotodo não. Como cantou Lazzo, com seu grave inconfundível, tão suave aos ouvidos:
“Mas minha alma resiste, meu corpo é de luta
Eu sei o que é bom, e o que é bom também deve ser meu
A coisa mais certa tem que ser a coisa mais justa
Eu sou o que sou, pois agora eu sei quem sou eu”
Hélio Menezes é antropólogo e internacionalista, curador de Arte Contemporânea do Centro Cultural São Paulo e Affiliated Scholar ao BrazilLab, da Universidade de Princeton.
AGENDA COMPLETA
ARTES VISUAIS
Jornal O DIA SEGUINTE, editorial jornalístico com a colaboração das seguintes personalidades e temas:
- Poesia: Fogo! Queimaram Palmares Nasceu Canudos.
- Nêgo Bispo: Antônio Bispo dos Santos, pensador quilombola, poeta, ativista político e militante de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra.
- A liberdade como punição (Encarceramento em massa)
Juliana Borges, escritora, feminista negra, autora do livro O Encarceramento em Massa (2019), da coleção Feminismos Plurais.
- A senzala moderna (Eu empregada doméstica)
Preta Rara, rapper, arte-educadora, compositora, autora do livro Eu empregada doméstica: A senzala moderna é o quartinho da empregada (2019).
- Imprensa negra (O papel negro nos veículos de comunicação)
Nabor Jr, fundador e co-editor da revista O Menelick 2º Ato, é jornalista especializado em jornalismo cultural e fotógrafo.
- Os terreiros como resistência (Manutenção e conservação de saberes)
Mãe Sandra de Xadantã, sacerdotisa do Tambor de Mina, Mestra em Cultura, ativista em defesa do direito das mulheres e das religiões de matriz africana.
- Perspectiva do Teatro
Leda Maria Martins: É poeta, ensaísta e dramaturga. Doutora em Letras-Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 1991), tem Mestrado em Artes pela Indiana University (USA, 1981)
- Perspectiva da moda e beleza
Hanayrá Negreiros: Pesquisadora em moda, cultura e práticas curatoriais e mestra em Ciência da Religião pela PUC-SP.
- Perspectiva econômica
- Gabriela Mendes: Economista (PUC-SP), mestra em Economia Política Mundial (UFABC), fundadora da NoFront – Empoderamento Financeiro, plataforma que ensina economia e finanças a partir de músicas de RAP. Também é membra da South Feminist Futures e autora do livro “Economia do Setor Público” .
- O 14 de maio
- Hélio Menezes: Hélio Menezes é antropólogo e internacionalista, curador de Arte Contemporânea do Centro Cultural São Paulo e Affiliated Scholar ao BrazilLab, da Universidade de Princeton
- A publicação
- Ray Anderson: Ator (Universidade Anhembi Morumbi), educador social (Senac), produtor cultural e assistente da curadoria de Artes Visuais no Centro Cultural São Paulo.
Edição e Revisão: Nataly Simões
Ilustração: Thiago Limón
Projeto Gráfico e Identidade Visual: Lucas Cândido
- A publicação poderá ser retirada fisicamente no CCSP.
- Versão digital ficará disponível no site da www.centrocultural.sp.gov.br dia 14 de maio.
Documentário: Cartografias Negras + Black Pipe
Exibição: 14.05
Horário: 21h
Duração: 12 min.
Plataforma: Youtube
Em parceria com o coletivo Cartografia Negra, que desenvolve pesquisa e promove tours em parte dos pontos históricos, de manifestação cultural e religiosa da população negra de São Paulo, juntamente com a produtora audiovisual Black Pipe para captação dos registros.
Projetando Consciência | Fachada Rua Vergueiro (Talude)
Data: 14, 15 e 16 de Maio
Horário: 19 às 22h
As projeções que serão reproduzidas na rampa lateral do CCSP ficam por conta do Coletivo Coletores e do artista Alberto Pitta, com enfoque no período pós-abolição, adentrando ao contexto atual pandêmico, que aponta debates importantes, como o aumento da mortalidade da população negra vítimas do Covid-19. A Ação acontece de forma integrada com a Secretária Municipal de Cultura.
CINEMA
Data: De 14 a 21/05
Transmissões: Plataformas Zoom e SPCine Play.
AFROFUTURISMO
Expressão que aparece pela primeira vez em 1993 no texto “Interviews with Samuel R. Delany, Greg Tate, and Tricia Rose” do crítico cultural estadunidense Mark Dery. Embora recente na história da arte, o termo é presidenciável há séculos nas expressões artísticas culturais negras. Afinal, tratar do afrofuturismo é falar de uma variedade de criações que especulam, fantasiam e fabulam a partir de uma perspectiva afrocentrada.
Programação:
Mostra da curadoria de filmes da professora e pesquisadora Kênia Freitas, Mestre em Multimeios pela Unicamp, Doutora em Comunicação pela ECO-UFRJ e Pós-doutora pela Universidade Católica de Brasília.
A autora de artigos do cinema da diáspora africana, comunicação e identidade, também selecionará produções nacionais e internacionais que ficarão disponíveis na plataforma de streaming SPCine Play. Kenia também ministrará um curso com duração de 4 aulas. A primeira será realizada abertamente, enquanto as demais serão fechadas e realizadas pela plataforma Zoom, com inscrições gratuitas.
MODA
Debate: Moda afro-brasileira: um legado não reivindicado?
Data: 14.05
Horário: 18h
Plataforma: Youtube
A conversa mediada por Hanayrá Negreiros terá a presença das pesquisadoras Cynthia Mariah e Wanessa Yano, traçando e racializando narrativas de histórias da moda brasileira, a partir de protagonismos e agências negras, tanto no continente africano, como no Brasil.
A ideia de legado não reivindicado aparece em um primeiro momento como uma pergunta que servirá como fio da meada para a costura de muitas outras questões. As modas negras poderiam ser consideradas heranças culturais?
Performance: AXÉ
Data: 14.05
Horário: 18h30
Plataforma: Instagram
Fashion Filme de Isaac Silva, estilista soteropolitano, criador de moda inclusiva e sem gênero, com participação da ativista Neon Cunha, publicitária, diretora de arte, negra e trans.
MÚSICA
Show Lazzo Matumbi
Data: 14.05
Horário: 20h
Plataforma: Youtube
Dono de uma voz única e de uma musicalidade potente, que vai do reggae ao jazz, passando por samba, soul e tantos outros batuques de origem africana, Lazzo Matumbi e´ um dos maiores expoentes da música brasileira. Com 39 anos de carreira e oito discos gravados, o músico, cantor e compositor baiano é referência para toda uma geração de artistas. Considerado figura essencial na resistência da cultura negra na Bahia e no Brasil, influencia cantores de várias gerações com sua voz forte e seu suingue cheio de personalidade, e e´ carinhosamente chamado de “A Voz da Bahia” por seus fãs e admiradores.
Rota dos Tambores
Data: 15 e 16.05
Horário: 15.05 Mesa às 18h | Mostra Parte I às 19h
16.05 Mostra Parte II às 19h
Plataforma: Youtube
Representação de liberdade, resiliência e organização, os quilombos são até hoje nosso maior símbolo de resistência: dentro desses espaços foram cultivadas as raízes da cultura afro-brasileira. Para honrar a ancestralidade presente nessas múltiplas manifestações culturais – partindo de uma memória indolor -, o quilombo se torna o centro, o mote principal que ressignifica memórias através da música e da cultura, sendo utilizado como ponto de partida para a construção de uma nova história negra. Dentro deste pensamento, a curadoria de música do CCSP apresenta “Rota dos Tambores”, uma mostra que reúne quatro grupos musicais oriundos de quilombos rurais e urbanos. A programação, toda gravada nos Jardins Suspensos do Centro Cultural especialmente para o projeto, contempla diferentes regiões do Estado de São Paulo e sonoridades distintas mas que possuem o tambor como elemento unificador: tambor de crioula, congado, samba de roda, umbigada, afoxés. Inaugura a mostra uma mesa de discussão formada por Flavia Rios, Marileide Alves e Salloma Salomão que irão discutir as sonoridades trazidas por Rota dos Tambores, assim como o estado atual de outras manifestações musicais e culturais de matrizes afro-brasileiras.
Sábado 15 de Maio
– 18h Mesa de abertura Rota dos Tambores com Flavia Rios, Marileide Alves e Salloma Salomão (YouTube do CCSP)
– 19h, Mostra Rota dos Tambores parte 1 com Batucada Tamarindo e Congada de Santa Efigênia (YouTube do CCSP)
Domingo 16 de Maio
– 19h, Mostra Rota dos Tambores parte 2 com Samba de Roda Nega Duda e Tambô de Crioula de São Benedito Juçaral dos Pretos (YouTube do CCSP)
BIOGRAFIAS DOS GRUPOS
- BATUCADA TAMARINDO
A Batucada Tamarindo é um coletivo que vem ao longo dos seus 14 anos de existência, desenvolvendo uma musicalidade fundamentada nas manifestações negras e brasileiras oriundas dos terreiros, onde a música, dança e a comida estão presentes. Propõe uma releitura dos vários gêneros de sambas e afoxés munidos de instrumentos tradicionais (ilús: instrumentos do Xangô de Recife, candomblé Pernambucano de Nação Nagô), além de baixo elétrico, viola, vozes e performance corporal, montando arranjos próprios e composições inspiradas no cotidiano urbano. Traz a memória dos antepassados como cerne da inspiração poética no trabalho, nos relacionamentos, na relação com a natureza e o meio urbano, e procura um diálogo através da música e da dança, provocando o público a uma interação e evocação da cultura popular e seu potencial criativo nos dias de hoje.
- CONGADA DE SANTA IFIGÊNIA
Em sua quarta geração, a Congada de Santa Ifigênia é a primeira comunidade a trazer uma mulher em sua guarda. Sob o comando de Gislaine Donizete, o grupo é formado por quarenta integrantes – entre crianças, jovens, adultos e anciãos – mulheres e homens que mantêm o legado de Seu Zé Baiano, pai de Gislaine. Vestidos de branco e verde, a Congada surgiu na década de 1950 na região de Conselheiro Lafaiete (MG) e migrou para a região de Mogi das Cruzes (SP) mantendo a tradição nos ritmos (dobrado, marchas lenta e picadas), nos cantos em louvor a todos os Santos e na dança compassada. Atualmente, a comunidade da Congada de Santa Ifigênia é uma das principais manifestações preservadas no Estado de São Paulo.
- SAMBA DE RODA NEGA DUDA
O Samba de Roda Nega Duda tornou-se importante lócus artístico de um rico substrato rico da cultura brasileira. Há 13 anos, o grupo é comprometido com a cultura baiana do Samba de Roda do Recôncavo, manifestação que traz referências do culto aos orixás e caboclos, à capoeira e à comida de azeite, e é reconhecido pela Associação de Sambadores e Sambadoras do Estado da Bahia. Ducineia Cardoso, a “Nega Duda” é referência do samba de roda baiano na capital paulista. Homenageada no carnaval paulista, foi cantada por um coro de aproximadamente 200 mil pessoas durante apresentação do bloco afro Ilú Obá de Min. Há dez anos à frente do coro de cantoras do Ilu, Nega Duda diz que ainda processa o reconhecimento e a homenagem. “O meu nome no Ilú, é tema. Eu sou uma mulher de llú, eu sou iluobática. Quando ouvi as composições que fizeram para mim… Não tem nada que pague, foi e está sendo uma honra. O povo me cantou em São Paulo”.
- TAMBÔ DE CRIOULA DE SÃO BENEDITO JUÇARAL DOS PRETOS
O grupo nasceu em São Paulo, e tem suas origens na região de Alcântara, na comunidade quilombola Juçaral dos Pretos. De branco, saias coloridas, renda branca, as mulheres de turbantes e homens de chapéu de palha fazem – ao som do couro do roncador, do chamador e do crivador – o chão da terra tremer quando tocados e aquecidos no calor da fogueira, magnetizando na dança o sagrado feminino da punga (umbigada). Criado em 2003 pelo pesquisador, luthier, músico e compositor maranhense Alfredo Madre Deus, o grupo possui como madrinha e coreira mór, a dançarina, compositora, atriz e artesã maranhense Mary Mesquita, sendo ambos diretores do grupo, que tem o privilégio de ter como conselheiro e padrinho, o músico e compositor Celso Preto, do Maranhão. O nome do grupo tem como inspiração a música Juçaral dos Pretos, do compositor maranhense Paulinho Acomabú, e é uma homenagem à comunidade quilombola maranhense também chamada Juçaral dos Pretos, que foi fundada por negros fugidos do trabalho forçado durante a escravidão brasileira, e localiza-se na região do Munin, que é banhado pelo Rio Una e compreende as mediações dos Lençóis Maranhenses. Atualmente, o Tambô de Crioula de São Benedito Juçaral dos Pretos aprofunda a pesquisa no tambor de crioula, suas especificidades, sotaques, modo de construção dos instrumentos, diálogo com a sociedade e transmissão dos ensinamentos recebidos dos mestres maranhenses.
- COMPONENTES DA MESA
- Flavia Rios é professora da UFF. Integra o afro/cebrap e coordena o Negra Núcleo de estudos Guerreiro Ramos, o Curso de Ciências Sociais da UFF e o Projeto Gestão municipal da igualdade racial e políticas inclusivas de educação e trabalho no município de Niterói. É coautora do livro “Lélia Gonzalez” (Summus, 2010) e co-organizadora dos livros “Negros nas Cidades Brasileiras” (Intermeios/FAPESP, 2018) e “Por um feminismo afro-latino-americano” (Zahar ,2020).
- Marileide Alves é jornalista, pesquisadora, produtora cultural e autora dos livros “Nação Xambá: do terreiro aos palcos” e “Povo Xambá Resiste: 80 anos da repressão aos Terreiros em Pernambuco”, sendo este último um dos finalistas do Prêmio Jabuti de Literatura em 2019 na categoria Biografia, Documentário e Reportagem. É produtora do Grupo Bongar desde 2004. Realizou a produção executiva de turnês nacionais e internacionais do Bongar e de projetos como Tem Preto na Tela, o DVD Festa de Terreiro e os CD’s 29 de junho, Chão Batido Coco Pisado, Festa de Terreiro, Samba de Gira, Ogum Iê! e Macumbadaboa. É coordenadora do Ponto de Cultura Um Quilombo Cultural Grupo Bongar: Jovens da Comunidade Xambá e do Centro Cultural Grupo Bongar – Nação Xambá. Coordena ainda as ações sócio-educativas-culturais do espaço e a trilha do Turismo de Base Comunitária realizada pelo CCGB no Terreiro Xambá e Comunidade. Junto com o Centro Cultural, integra também a RECRIA, rede de turismo criativo no Brasil. Foi membro titular da cadeira de Produtora Cultural do Conselho de Cultura de Pernambuco e membro titular da Setorial de Mú.
- Salloma Salomão é compositor, educador, ator, dramaturgo auto formado e socialmente construído. Dialogando de forma tensa com a produção artística e cultura hegemônica criou uma obra que se estende dos dias atuais ao início dos anos 1980. Foram 6 cds Gravados, 3 Dvds, textos publicados em revistas e livros impressos e meios digitais. Doutorado em História pela PUC-SP, com estágio na Universidade de Lisboa. Se projeta como intelectual/artista público no ensino superior e projetos continuados de formação educacional e artístico-cultural. Cria e difunde pesquisa e música para teatro, dança e cinema por meio de inúmeras parcerias. Seus trabalhos mais recentes, a peça musical Agosto na Cidade Murada (2018) e a trilha sonora do Filme Todos Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, selecionado para o Festival de cinema de Berlim e Premiado no Festival de Cinema de Gramado em 2020, além de participações dos documentários Dentro da minha pele de Venturi Gomes e Deixe que digam sobre Jair Rodrigues
TEATRO
14.05 | 19h
15.05 | 21h
16.05 | 21h
Cinco histórias a partir do Dia seguinte. Sobre sapatos e paredes, irmandades, cemitérios, casas e não-casas, abrigos e desabrigos, patrícios e chefes, chaves e baús. E sobre peles.
Como se fertilizaram confusos caminhos negros diante da abolição oficial da escravatura em São Paulo? Como sonhos, loucuras e alegrias da população negra afloraram na capital que, em plena sanha de progresso e higienização, ordenava seu projeto de branqueamento? Quais as lâminas nas pontes e esquinas paulistanas? Como ancestrais lidaram com a igreja, os bailes, os funerais e as condições possíveis de trabalho? Quais os labirintos da vendedora de bolinhos de peixe do rio pavimentado, do alfabetizador da Irmandade religiosa, do pai pedreiro que delata quilombolas e da anciã que enterra seus filhos enquanto engana a morte a cada noite?
São os temas destas cinco dramaturgias, vídeo-teatros escritos pelo dramaturgo e historiador Allan da Rosa. Dirigidos pelo ator e diretor Sidney Santiago Kuanza e interpretados por atores e atrizes negros e negras de diferentes gerações. Ficções e ao mesmo tempo testemunhos, pontos de vista sobre o que se chamou “pós-abolicionismo” no Brasil.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia e concepção: Allan da Rosa
Elenco: Eduardo da Silva e Mawusi Tulani
Direção de elenco: Sidney Santiago Kuanza
Assistente geral: Gabi Costa
Os Crespos – Um Certo Olhar
Data: 14, 15 e 16.05
Horário: 17h30
Através de uma pesquisa audiovisual, o projeto: “UM CERTO OLHAR”, vai se debruçar através de dois vídeos curtos sobre os impactos e os reflexos do dia 14 de maio na vida dos negres brasileiros, a partir do recorte de duas personagens do célebre escritor Lima Barreto.
Diante da total ausência de perspectivas perante um projeto político que não incluía a população escravizada, a partir do dia 14 de maio de 1888, a população negra foi relegada a toda sorte de descasos sociais.
A partir das personagens “Escravo Gonzalo” e “Clara dos Anjos”, ícones da literatura barretiana, nós da Cia os Crespos vamos realizar uma dramaturgia audiovisual, inspirada nestas personagens, que darão uma dimensão do abandono, da violência e das barbaridades que foram direcionadas a estas populações como o recorte do negro no cenário urbano.
DANÇA
Data: 16.05
Horário: 16h
Plataforma: Youtube
O Samba do Criolo Doido | Bate-papo + Exibição de filme.
Conversa com Luiz de Abreu, Calixto Neto e Ayrson Heráclito. Discutirá os contextos nos quais a obra foi criada e remontada e refletir sobre a transmissão da herança pessoal e cultural através dos corpos.
Exibição do documentário O Samba do Criolo Doido: régua e compasso. Realização e edição: Calixto Neto / Com: Calixto Neto, Luiz de Abreu, Jackeline Elesbão, Pedro Ivo Santos, Fabricia Martins / Duração: 15min / Filmado em Salvador, Pantin e Reims (FRA) em 2020/ Apoio Institucional: Centre National de la Danse (FRA)
Dezessete anos atrás o Brasil era outro, assim como a dança contemporânea.
O Samba do Criolo Doido foi criado por Luiz de Abreu, em 2004, contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural Dança. Dividindo a cena com mais 13 obras selecionadas pelo programa, O Samba explodiu. Muito bem recebido pelo público da sala Itaú Cultural, basicamente formado por artistas, programadores, teóricos e críticos de dança, intuímos que aquela obra era uma revolução.
Muitos tabus foram expostos. Um homem frontalmente nú apenas calçado com botas prateadas de uma bicha morta por HIV. Uma bicha preta nua em cena a escancarar a resistência do corpo negro, a objetificação desse corpo ao longo da história, apontando o dedo para os colonizadores brasileiros e europeus. Só em cena, sustentando uma postura política e artística. Se hoje vemos artistas afirmando-se desta maneira, o que Luiz fez, em 2004, era inaugural.
O Samba foi apresentado por Luiz por uma década. Em 2017 o solo foi remontado no corpo do bailarino baiano Pedro Ivo dos Santos e se apresentaram em Salvador, Recife, Brasília e Campinas
Em 2020, a convite do Panorama Festival de Dança do Rio de Janeiro em parceria com o Centre National de la Danse, de Paris, o Samba foi novamente remontado, dessa vez com o bailarino pernambucano Calixto Neto. Estreou em Paris e foi apresentado em outras cidades francesas e na Finlândia. A turnê européia foi interrompida devido à pandemia da Covid-19.
No programa O Dia Seguinte (13 de Maio), queremos falar dessa obra que tornou-se referência para a produção de arte negra e branca. Discutir os contextos nos quais a obra foi criada e remontada e refletir sobre a transmissão da herança pessoal e cultural através dos corpos. O Criolo Doido demole com seu samba o discurso branco sobre a escravidão abolida. Se de fato houvesse uma abolição, esse trabalho não existiria.
V E R S O – D A N Ç A D O
Data: 14,15 e 16.05
Plataforma: Instagram
A convite da Curadoria de Dança, dançarines são convidades a dançar uma poesia, um cordel, uma música e esse encontro entre autores da escrita e do movimento, se dará através de vídeo.
Para o mês de maio, no dia 14 de maio – refletimos sobre pós abolição e pandemia com encontros entre oito artistas do sudeste e nordeste.
- MUATO (RJ) E WAND BARBOSA (SP)
Muato é músico, produtor musical e ator. Diretor musical de espetáculos teatrais, recentemente recebeu o prêmio APTR pela música de “OBORÓ, Masculinidades Negras”, ao lado Cesar Lira. data Criador do projeto AfroLoveSongs, sobre música preta urbana.
Wand é cantor, dançarino e ator, foi professor de Stiletto e Afrovibe na escola de dança Bombelela e é idealizador do Projeto Wanchella, um show voltado ao ativismo Negro LGBTQIA+, inspirado no filme Homecoming da Beyoncé.
- LUCAS AFONSO (SP) E SÊMADA RODRIGUES (PE)
Lucas é MC, autor do livro A Última Folha do Caderno, Arte-Educador, Campeão do Slam Brasil e representante do Brasil na Copa do Mundo de Poesia, na França.
Sêmada é professora, coreógrafa, diretora de movimento, preparadora corporal e bailarina. Participou da Cia de Dança Jaime Arôxa, do Ballet da Banda Calypso e integrou o ballet de programas de TV como The Voice Brasil, Criança Esperança e Amor e Sexo.
- VITÓRIA RODRIGUES (AL) E JANIA SANTOS (RN)
Vitória é atriz, cordelista, cantora e compositora alagoana, formada pela Escola de Teatro Martins Penna-RJ. Na TV apresentou o quadro de poesia De Repente Verão na temporada de verão de 2021 do programa Saia Justa no GNT.
Jania é artista da dança, integrante da companhia Giradança, de Natal/RN. Faz parte de espetáculos importantes como Bando: Dança que Ninguém Quer Ver e Proibido Elefantes.
- MALLU MENDES (PI) E EVANDRO DA SILVA MARQUES (PI)
Mallu Mendes, artista negra piauiense, formada na Escola de Teatro Gomes Campos, Especialista em Dança Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia. Comunicadora Popular, Comunicadora performativa e Editora de Cultura do portal de comunicação popular Ocorre Diário. Escritora de rabiscos poéticos. Pesquisa linguagem híbrida, mergulhada na ancestralidade negra de empretecimento, encontrando confluência na comunicação, tecnologia e emoções. Atualmente desenvolve a performance GRITO, um acontecimento nos espaços à margem dos centros.
Evandro da Silva Marques, artista da dança negro, formado em Técnico em Dança pela Escola de Teatro José Gomes Campos. Seus primeiros envolvimentos com a dança foram com a bailarina negra Luzia Amélia Marques, aos 8 anos de idade e desde então tornou-se um incansável aprendiz, absorvendo técnicas com vários artistas piauienses. Participou de companhias como Balé Popular de Teresina, Corpo de Baile Luciana Libanio, Balé de Teresina, Companhia de Dança Cinthia Layane, Organização Ponto de Equilíbrio e atualmente integra o corpo de baile do Studio Le Ballet de Dança.
AÇÃO CULTURAL
Narrativas dissidentes sobre a abolição – História da disputa
Data: 14, 15, 16, 22 e 23
Horário: 18h | Inscrições prévias.
Plataforma: Facebook ao vivo
O curso “Narrativas dissidentes sobre a abolição”, ministrado pelo coletivo História da Disputa: Disputa da História, explora as contradições do processo abolicionista brasileiro, evidenciando o complexo contexto histórico que culminou na Lei Áurea, no seu s