CARNAVAL-HISTÓRIA: “Emprestar uma calcinha? Eu não tinha.”

Carnaval com modelo sem calcinha expôs Itamar a risco de golpe e impeachment há 30 anos

  • Data: 13/02/2024 07:02
  • Alterado: 13/02/2024 07:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: Angela Pinho/FolhaPress
CARNAVAL-HISTÓRIA: “Emprestar uma calcinha? Eu não tinha.”

Carnaval com modelo sem calcinha expôs Itamar a risco de golpe e impeachment há 30 anos

Crédito:Reprodução

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Seja em músicas, seja em fantasias, é provável que nenhum presidente brasileiro tenha escapado de sátiras de foliões. Mas só Itamar Franco (1930-2011) saiu de um Carnaval com um episódio que derrubou ministro, levantou vozes pelo impeachment e motivou até articulação por golpe.
O caso, há 30 anos, envolveu a modelo Lilian Ramos, cuja foto constava de catálogos de agências de acompanhantes de São Paulo e que anos antes havia posado nua descrita como sósia da cantora Fafá de Belém.

CARNAVAL-HISTÓRIA

O deputado depois se envolveria em episódios mais graves, sendo preso no mensalão e, na última quinta-feira (8), por posse ilegal de arma. Mas, naquele 1994, foi Itamar quem sofreu as consequências.
O presidente, então com 64 anos, e Lilian, com 27, passaram três horas no camarote da Sapucaí, onde a modelo cochichou em seu ouvido e recebeu carícias. Tudo registrado pelos repórteres fotográficos, que também notaram algo a mais.
Naquele momento já sem a fantasia da Viradouro, Lilian vestia um camisetão, uma meia calça transparente e… mais nada.
“Combinamos de cada um registrar um rolo de filme, de 36 poses, e, após isso, avisar o segurança presidencial”, narrou anos depois o fotógrafo de O Estado de S. Paulo Wilson Pedrosa.
O ângulo mais famoso da imagem foi o registrado por Marcelo Carnaval, então no jornal O Globo. A imagem mostra Itamar e, a seu lado, a modelo de braços levantados, deixando à mostra o que a calcinha esconderia.
Sem a repercussão imediata na internet, o presidente teve 12 horas para aprofundar seu envolvimento na história.
Reportagem da Folha no dia seguinte narra que, na mesma madrugada, Itamar e Lilian seguiram juntos para o Hotel Glória, onde o presidente estava hospedado.
Diante da aglomeração de jornalistas, ele reclamou: “Vocês não percebem que eu preciso conversar com ela?”. Não deu certo, e a modelo foi para sua casa, onde recebeu 1 de 4 telefonemas que o presidente lhe faria ao longo do dia.
Ele desmarcou a viagem que faria a Juiz de Fora (MG) e combinaram um jantar, que acabou cancelado depois do Jornal Nacional. O programa mostrou Lilian ao telefone com o presidente, repetindo em voz alta frases dele -como uma em que se dizia apaixonado.
O caso foi parar no noticiário colado na palavra impeachment. O temor era que o presidente fosse afastado por falta de decoro menos de dois anos depois de Collor ter tido o mesmo destino, em meio a acusações de corrupção.
Então cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns disse que a cena era chocante. “Não sei, porém se é muito justo o presidente pagar por todos aqueles que exageraram no Carnaval”, ponderou.
Entre os que saíram em defesa do político mineiro estava Lula (PT), adversário da chapa de Itamar na eleição presidencial anterior. “Acho que nenhum brasileiro é contra o Itamar namorar”, disse o petista, que em seu terceiro mandato brincaria com a promessa de um Ministério do Namoro.
Outro que teve de botar panos quentes diante da crise da (falta de) calcinha foi Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda.
A história foi revelada no livro “A História Real – Trama de uma Sucessão”, da Folha e editado pela Ática, com autoria de Gilberto Dimenstein e Josias de Souza. Posteriormente, o relato foi ampliado na publicação dos diários de FHC.
O tucano contou que, à época, foi procurado pelo general Romildo Canhim, então ministro da Secretaria de Administração Federal.
Canhim lhe disse que o episódio do Carnaval tinha pegado muito mal na caserna e que chefes militares queriam saber se, em caso de deposição de Itamar, FHC aceitaria permanecer como ministro da Fazenda.
Ainda segundo seu relato, FHC teria recusado e sugerido a demissão do então ministro da Justiça, Maurício Corrêa, que se mostrou embriagado no camarote. Corrêa saiu dois meses depois, a pretexto de disputar eleição, e acabou indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Lilian teve a vida escrutinada, posou para a revista Playboy argentina e se mudou para a Itália.
No país, participou de programas televisivos e se disse próxima de personalidades como o premiê Silvio Berlusconi -outro que teve o envolvimento com mulheres misturado ao noticiário político.
Anos depois, Lilian afirmou ter ficado deprimida com a repercussão do episódio do Carnaval. Hoje, aos 59 anos, demonstra alegria. Posta com assiduidade fotos e vídeos em rede social, dançando, com amigos, na praia ou fazendo tratamentos estéticos. A reportagem tentou contato com ela, mas não teve retorno.
Segundo o noticiário da época, Itamar ficou ressentido com a cobertura do episódio. Declarou a jornalistas, no dia seguinte, que não sabia que a modelo estava sem calcinha.
“Ninguém avisou. E, se avisasse, o que eu ia fazer? Emprestar uma calcinha? Eu não tinha.”

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  • Data: 13/02/2024 07:02
  • Alterado:13/02/2024 07:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: Angela Pinho/FolhaPress









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