‘Campanhas de desinformação estão mais profissionais’, diz pesquisador

Estudo da Universidade de Oxford mapeou campanhas de manipulação da opinião pública na internet em 70 países

  • Data: 10/10/2019 11:10
  • Alterado: 10/10/2019 11:10
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
‘Campanhas de desinformação estão mais profissionais’, diz pesquisador

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No Brasil, pesquisadores identificaram sinais de uso de estratégias para atacar adversários, confundir o debate político e provocar divisões na opinião pública. “Questionar a autenticidade das urnas eletrônicas foi uma estratégia repetida no Brasil, na Argentina e no México. São campanhas cada vez mais fortes e com mais recursos”, disse o pesquisador da Universidade de Oxford Caio Machado, brasileiro que participou do levantamento e realizou estudos sobre notícias falsas nas eleições de 2018.

Qual é a tendência no Brasil em termos de campanhas de desinformação?
É a institucionalização do que chamamos de propaganda computacional. Em países como China, Rússia e EUA, existem superpoderes que já têm um aparato estatal muito desenvolvido para fazer propaganda política digital e usá-la como estratégia de interferência em outros países. Não temos registro de que o Brasil esteja interferindo em outros países, mas o aparato está crescendo muito. Passou a ter uma estrutura física, com empresas privadas e contratos caros. E isso é uma tendência na América Latina inteira, sair do amadorismo e se tornar algo estatal profissional. Isso é preocupante. Por exemplo, questionar a autenticidade das urnas eletrônicas foi uma estratégia repetida no Brasil, na Argentina e no México. São campanhas cada vez mais fortes e com mais recursos.

Quais plataformas estão sendo usadas nessas campanhas?
Já havíamos identificado no ano passado, e voltamos a ver neste ano, a desinformação passar a aplicativos de mensagem, fechados. O WhatsApp é um exemplo, mas não é exclusivo. Olhando para o resto do mundo, identificamos desinformação em todas as plataformas: Telegram, Line, WhatsApp, Instagram. Até no Tinder. Não é um problema de uma plataforma só.

O Facebook continua a ser a principal plataforma para desinformação, segundo a pesquisa.
O Facebook ainda é a plataforma principal, mas detectamos outras muito relevantes, como Instagram e YouTube. As iniciativas que o Facebook tem feito (de combate à desinformação) são insuficientes, mas talvez seja a plataforma mais fácil de resolver, porque é um ambiente aberto. É mais fácil usuários e autoridades identificarem o que está acontecendo ali. Um ambiente muito mais difícil de compreender é o YouTube, que não é uma rede social, é um acervo de vídeos. A pesquisa recente mostra que tem gente se aproveitando do algoritmo de recomendação do YouTube para promover radicalização, algo muito difícil detectar. É a mesma coisa para o Instagram, onde as pessoas costumam ter mais contas fechadas. É muito difícil ver o que está acontecendo.

O número de países mapeados pela pesquisa com campanhas de manipulação aumentou 150% nos últimos dois anos.
Qualquer país que olharmos vai usar desinformação. Isso prova que é um fenômeno global. Há uma variação, de país a país, de institucionalização, de estratégias. Mas o preocupante é que é uma prática que se disseminou no mundo inteiro, que passou de algo completamente amador para algo profissional, institucional, permanente. Esse grau de especialização preocupa muito.

A pesquisa diz que o Brasil tem uma “tropa virtual” de capacidade média. O que isso significa?
Nos países de alta capacidade, como China e Estados Unidos, você tem o uso institucional de “guerra informacional”. A escala nesses países é impressionante: tem uma estrutura permanente de produção de desinformação, múltiplos contratos (de empresas) e o uso dessa estratégia com fins bélicos, seja na política interna, seja para influenciar outros países. No Brasil, não identificamos o uso para influência externa nem nenhum documento para comprovar que a estrutura de campanha fosse permanente ou com estrutura organizacional refinada. Aqui, é algo grande, custoso, mas não é uma operação militar. Essa pesquisa tem que ser entendida como o mínimo, a ponta do iceberg. O que está embaixo é muito maior, mas só olhando a ponta a gente consegue entender que o problema é muito grave.

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  • Data: 10/10/2019 11:10
  • Alterado:10/10/2019 11:10
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  • Fonte: Estadão Conteúdo









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