Campanha Agosto Dourado incentiva o aleitamento materno e a doação de leite
Bancos de leite humano da capital já receberam mais de 1.500 litros de leite doado somente neste ano
- Data: 07/08/2023 12:08
- Alterado: 07/08/2023 12:08
- Autor: Redação
- Fonte: Prefeitura de São Paulo
Amamentação
Crédito:Elza Fiúza - Agência Brasil
Agosto Dourado é o mês que simboliza a luta pelo incentivo à amamentação, uma prática que traz inúmeros benefícios para a saúde do bebê e da mãe, como, por exemplo a redução da mortalidade neonatal, que ocorre antes de 28 dias de vida completos do recém-nascido, além de contribuir na diminuição do sangramento pós-parto e auxiliar o útero a voltar ao normal mais rapidamente.
O ideal é que o aleitamento materno comece a ser realizado logo após o nascimento, pois o leite dos três aos cinco primeiros dias, conhecido como colostro, é rico em proteínas, nutrientes e anticorpos essenciais para garantir imunidade ao pequeno. Após esse período, o leite espesso e amarelado é substituído pelo leite maduro que também é muito nutritivo, afinal, a amamentação por si só é suficiente para alimentar um bebê até os seis meses de vida.
A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a amamentação seja exclusiva até os seis meses de idade e complementada até que a criança faça dois anos. Oferecer o leite materno logo após o parto estimula os hormônios necessários para que a produção aumente, uma vez que quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido.
Muitas dúvidas e inseguranças podem surgir nesse período, por isso tranquilizar e auxiliar a mãe é essencial para tornar o processo o mais prazeroso possível. São muitos os desafios que as mães podem enfrentar na hora de amamentar. Um dos mais comuns é o bebê não conseguir manter a pega da mama.
Segundo a enfermeira Helina Reis Pinto, coordenadora do Banco de Leite do Hospital Alípio Corrêa Netto, localizado em Ermelino Matarazzo, isso pode ocorrer porque algumas mulheres acreditam que o bebê deve mamar no mamilo ou que somente mulheres com bico podem amamentar, e isso não é verdade. Nesse caso, por exemplo, o bebê deve abocanhar boa parte da aréola para mamar. Quando feito corretamente, isso evita dor e rachadura no bico do seio.
“Nosso papel como profissionais da saúde é esclarecer situações como essa e ajudá-las a fazerem corretamente. Na unidade, nós passamos as orientações necessárias sobre como oferecer o peito, fazemos o bebê aprender a fazer a pega corretamente e tiramos todas as dúvidas dessa mãe. Quando ela vai para casa, podem surgir ainda algumas dúvidas ou até mesmo um certo desespero em algumas situações. Então nesses casos, ela pode ligar ou ir até o hospital para ser orientada novamente”, esclarece.
Bancos de leite humano
A rede municipal de saúde dispõe de três bancos de leite humano (BLH), localizados nos hospitais e maternidades Cachoeirinha (zona norte), Ermelino Matarazzo (zona leste) e Campo Limpo (zona sul) que, juntos, coletaram mais de 3.500 litros de leite de aproximadamente 2.200 doadoras em 2022, e que beneficiaram mais de 2.700 bebês. Neste ano, até o momento, foram coletados 1.564 litros de leite para beneficiar mais de 1.300 bebês.
O leite colhido passa por um processo rigoroso que envolve análise, pasteurização e controle de qualidade antes de ser fornecido aos bebês. Para receber leite, o bebê precisa estar internado na unidade neonatal e ter prescrição médica de leite humano. A demanda pode ser desde o do primeiro dia de vida até quanto for necessário, porque cada bebê possui sua necessidade clínica.
Helena Beatriz Pereira da Costa Oliveira começou a doar leite pouco tempo depois do nascimento de sua filha, a pequena Cecília, de 1 ano e 11 meses. “Eu tinha muito leite e minha bebê não dava conta. Na gestação eu estudei sobre a importância do aleitamento materno e, ao conversar com uma prima enfermeira, comentei sobre a quantidade de leite que eu produzia; então ela me falou sobre a doação”, relata.
Hoje, quase dois anos desde a primeira vez que doou para a unidade de Ermelino Matarazzo, Helena não se arrepende de ter dado o primeiro passo. “No começo, conseguia doar semanalmente dez potes de 500 ml. Atualmente a Cecília mama menos, então a minha produção diminuiu bastante. Hoje eu coleto de 200 a 400 ml por semana de leite excedente. Eu faço a coleta, congelo e a equipe vem retirar na minha casa. Sempre que eles vêm, já deixam potes esterilizados para a coleta da próxima semana.”
Helena diz que tomou a doação como uma missão de vida, até que não consiga mais produzir leite. “Sempre senti um imenso prazer com isso. Mesmo que eu não tenha mais leite, quero continuar incentivando outras mães a doarem. Nessa trajetória, minha irmã mais velha e uma amiga também tiveram bebê e como eu já tinha o contato do banco de leite, ambas conseguiram fazer doação também”, conta.
Com o auxílio de mães como Helena, em 2022 o Banco de Leite Humano do Hospital de Ermelino Matarazzo coletou 1.270 litros de leite humano, vindo de 806 doadoras, que beneficiaram 349 bebês. Até junho deste ano foram coletados 486 litros de 365 doadoras para 182 recém-nascidos.
Já o Hospital Municipal e Maternidade- Escola Dr. Mário de Moares Alternfelder Silva – Vila Nova Cachoeirinha coletou 1.047 litros de leite humano com a doação de 493 mães no ano passado, destinados a 1.759 recém-nascidos. Nos seis primeiros meses deste ano foram coletados ao todo 622 litros de leite, de 267 doadoras, que alimentaram 932 bebês.
No Hospital Municipal e Maternidade Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha, no Campo Limpo, em 2022 foram coletados 847 litros de leite de 632 doadoras, para 668 recém-nascidos. Em 2023, já foram coletados 544 litros de leite humano, de 364 doadoras, o que beneficiou 443 bebês internados.
Bebê que não consegue mamar recebe leite doado
Kamilla Mateos Peres, mãe da Eloá Victória, de 2 meses, sabe bem a importância do banco de leite. Sua filha nasceu com a sequência de Robin ou síndrome de Pierre Robin, como também é conhecida a condição, uma anomalia congênita rara caracterizada por micrognatia, quando a mandíbula é pouco desenvolvida; glossoptose, que é a língua deslocada para trás, além de fissura palatina, quando o céu da boca é aberto.
Por conta da má-formação, Eloá está internada na unidade neonatal do Hospital Municipal Alípio Corrêa Netto desde o nascimento. Kamilla conta que conseguiu ordenhar no primeiro mês, porém seu leite secou, já que a bebê não conseguia mamar. “O banco de leite tem sido essencial para minha filha durante esse processo. Eu acho muito importante e nobre o ato de doar leite materno, pois sei que ajuda muitos bebês, incluindo a minha, e traz um certo alívio para as mães que não conseguiram amamentar por algum motivo.”
Já Scarlat da Silva Bezerra, mãe da Lucy Victoria, de apenas 1 mês de vida, conseguiu produzir leite suficiente para amamentar sua filha, que nasceu prematura e passou por complicações. “Eu tenho bastante leite, a cada três horas eu tiro 240 ml e faço reserva para ela. Para mim é um prazer imensurável conseguir alimentar a minha bebê”, afirma.
A enfermeira Helina Reis Pinto, que auxiliou Scarlat, ressalta que para incentivar a amamentação da maneira correta é necessário entender o momento vivido por cada mulher. “As puérperas devem receber todo acolhimento necessário no pós-parto, afinal a fase de amamentação é única para cada mãe e ter uma rede de apoio que a incentive a amamentar, bem como que a explique a importância do aleitamento materno é indispensável”, pontua.
Mesmo com uma rotina exaustiva, já que precisa se dividir em muitos turnos para acompanhar a filha na UTI ao mesmo tempo que cuida do seu outro filho de dois anos de idade, Scarlat sabe a importância do aleitamento materno e espera poder se tornar uma doadora assim que Lucy receber alta. “Quero fazer parte dessa corrente de amor e solidariedade para ajudar outros bebês que estiverem internados”, diz a mãe, que já fez os exames necessários e confirmou estar saudável.
Para doar leite humano é preciso ter produção de leite excedente; não ter recebido transfusão de sangue no último ano; não ter doenças infecciosas como HIV, hepatites, sífilis, doença de Chagas; não fumar; não ingerir álcool, drogas ilícitas e medicamentos não compatíveis com amamentação e doação.