Calor intenso gera questionamentos sobre horários do Carnaval de rua em SP
Calor intenso e a possibilidade de chuvas irregulares geram preocupações para os foliões.
- Data: 16/02/2025 12:02
- Alterado: 16/02/2025 12:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Com a chegada do Carnaval de rua em São Paulo, a cidade se prepara para enfrentar um cenário de altas temperaturas, que pode impactar diretamente a realização dos desfiles. A previsão meteorológica indica que as temperaturas podem alcançar até 0,5ºC acima da média na capital, enquanto o restante do estado poderá registrar um aumento de até 1ºC, conforme informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Além das temperaturas elevadas, o Inmet também alerta para a possibilidade de chuvas abaixo do esperado durante o período carnavalesco. Essa combinação de calor intenso e precipitações irregulares levanta preocupações sobre a segurança e o bem-estar dos foliões.
Em resposta a essas condições climáticas adversas, a administração do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda não definiu estratégias específicas para lidar com eventos climáticos extremos durante os dias de festa. Em comunicado oficial, a prefeitura anunciou que reuniões com organizadores dos blocos estão previstas para discutir a logística em dias chuvosos. A questão da distribuição gratuita de água também permanece sem solução.
A legislação federal aprovada no ano passado garante acesso à água potável em grandes eventos, uma medida impulsionada pela trágica morte de Ana Clara Benevides, ocorrida durante um show no Rio de Janeiro em novembro de 2023. Durante o evento, a temperatura sentida no local atingiu 60ºC, contribuindo para sua morte por parada cardiorrespiratória após desmaios.
Recentemente, um grupo composto por cerca de 80 blocos enviou uma carta aberta à prefeitura solicitando a criação de um gabinete de crise, que discutiria ações como a distribuição gratuita de água e alterações nas datas e horários dos desfiles diante da previsão de eventos climáticos extremos.
No Carnaval do ano passado, o bloco liderado pela cantora Pabllo Vittar foi encerrado precocemente devido ao calor intenso que levou muitos foliões a passarem mal. Durante o evento, os bombeiros foram acionados para oferecer água à multidão como forma de amenizar os efeitos do calor.
O professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o corpo humano demanda mais água e energia para regular sua temperatura quando exposto ao calor excessivo. Segundo ele, a perda de fluidos se intensifica em temperaturas acima de 30ºC e umidade baixa, resultando em sintomas como palpitações e tonturas.
Em situações severas, essa desidratação pode comprometer o funcionamento cardíaco, levando a arritmias potencialmente fatais. O professor recomenda que os eventos carnavalescos sejam agendados para horários mais frescos, como no início da manhã ou no final da tarde.
Na cidade do Rio de Janeiro, essa prática já é uma realidade. Os megablocos têm início às 7h da manhã, em uma decisão conjunta com autoridades municipais visando minimizar os impactos das altas temperaturas. Dos 482 blocos cadastrados na capital carioca, apenas 10 seguem esse modelo matutino.
Desde o final do ano passado, o Rio também estabeleceu um protocolo que prevê medidas preventivas para eventos ao ar livre baseadas em uma escala de cinco níveis de calor.
Embora tais iniciativas sejam raras em outras cidades brasileiras, Elcio Batista, coordenador do programa Cidades + 2ºC do Insper, destaca a importância da formação de grupos compostos por representantes da sociedade civil e instituições para discutir as implicações das mudanças climáticas nos grandes eventos. Ele enfatiza que a criação de um comitê de planejamento é fundamental para mitigar os riscos associados às variações climáticas.
A flexibilidade nos horários dos blocos é vista por Batista como uma abordagem necessária para abordar essa questão crítica. Ele sugere que a população deve ser informada com antecedência sobre quaisquer mudanças nos horários tradicionais das festividades.
Na capital paulista, a gestão Nunes estipulou que os blocos devem encerrar suas atividades até às 19h. O cronograma permite que cada bloco tenha um tempo total máximo de cinco horas para realizar suas apresentações.
Dessa forma, as festividades concentram-se principalmente entre o final da manhã e o início da tarde — períodos reconhecidamente mais quentes do dia.
A prefeitura declarou que serão disponibilizados 20 postos médicos e tendas para triagem médica, proporcionando espaços para descanso e hidratação aos participantes durante os desfiles.