BYD rescinde contrato com construtora após resgate de trabalhadores em Camaçari
163 trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão pela BYD; construtora é desligada imediatamente.
- Data: 24/12/2024 10:12
- Alterado: 24/12/2024 10:12
- Autor: Redação
- Fonte: IstoÉ dinheiro
Crédito:Reprodução
Na última segunda-feira, 23, uma operação de fiscalização resultou no resgate de 163 trabalhadores que se encontravam em condições análogas à escravidão em um canteiro de obras da montadora chinesa BYD, localizada em Camaçari, Bahia. Em resposta ao ocorrido, a BYD anunciou a rescisão imediata do contrato com a construtora Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela execução dos serviços na obra.
A empresa afirmou que já estava realizando uma revisão minuciosa das condições laborais e habitacionais de todos os seus funcionários nas últimas semanas. No entanto, a situação crítica foi levada à tona após o resgate dos operários e a notificação do Ministério Público do Trabalho (MPT), que trouxe maior visibilidade ao problema.
Vale destacar que relatos anteriores já haviam apontado irregularidades e condições precárias enfrentadas pelos trabalhadores. No início de dezembro, dois acidentes envolvendo operários chineses foram denunciados ao MPT-BA, sendo um deles resultando na amputação de um dedo e o outro em uma fratura na perna, ambos ocorridos em dias consecutivos.
Imagens e vídeos capturados semanas antes mostraram a precariedade das condições de trabalho, com refeições servidas em coolers improvisados e banheiros em estado insalubre. A BYD reafirmou seu compromisso com a legislação brasileira e a dignidade humana em nota oficial.
A notificação recebida pelo MPT destacou as graves irregularidades cometidas pela Jinjiang, levando à interdição de parte da obra da nova fábrica da BYD, que está prevista para ser concluída até o final de 2025. Com um investimento superior a R$ 5,5 bilhões, a nova unidade terá capacidade para montar 150 mil veículos por ano, incluindo modelos elétricos e híbridos.
Como medida imediata, a BYD determinou que os 163 trabalhadores afetados sejam transferidos para hotéis na região. A empresa garantiu que os direitos dos funcionários da construtora não serão prejudicados e que todos os trâmites necessários para assegurar esses direitos estão sendo observados.
Alexandre Baldy, Vice-presidente sênior da BYD Brasil, enfatizou o compromisso da companhia em respeitar integralmente as normas trabalhistas brasileiras e afirmou que a empresa está colaborando com as autoridades desde o início do caso.
A força-tarefa que levou ao resgate e à interdição das obras envolveu diversos órgãos federais, como o MPT-BA, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A suspensão das atividades permanecerá até que as irregularidades sejam totalmente corrigidas.
Uma audiência virtual entre o MPT e o MTE está agendada para quinta-feira, 26, com a presença da BYD e da Jinjiang, visando discutir as medidas necessárias para garantir condições adequadas de alojamento aos trabalhadores. O MPT-BA informou ainda que novas inspeções podem ser realizadas para verificar as melhorias propostas.
As condições de trabalho dos operários eram alarmantes: nos alojamentos, os trabalhadores dormiam sem colchões adequados e tinham acesso restrito a banheiros – um banheiro para cada 31 pessoas – refletindo problemas sérios de infraestrutura e higiene.
Além das condições degradantes mencionadas, também foram identificadas situações de trabalho forçado, onde os operários eram levados a situações em que deixar seus empregos significaria perder todo o pagamento recebido devido ao desconto de despesas relacionadas à sua contratação.