‘Brechas Urbanas – A cidade construída pelo jornalismo’ no Itaú Cultural
Participam da conversa os jornalistas Guilherme Belarmino e Kemilly Matos, ambos com o olhar voltado às periferias de São Paulo
- Data: 19/08/2019 14:08
- Alterado: 19/08/2019 14:08
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Kamilly Matos
Crédito:Vinicius Cordeiro
O Brechas Urbanas de agosto acontece no dia 21 (quarta-feira), às 20h, no Itaú Cultural. O tema desta edição explora a influência e o impacto do jornalismo na construção das cidades. Para debater com o público do instituto as questões que nascem dessa proposição, foram convidados os jornalistas Guilherme Belarmino e Kemilly Matos. Ele é integrante do programa Profissão Repórter, da TV Globo, e há 13 anos cobre políticas públicas de segurança e violações de direitos humanos, com foco em violência policial. Ela, é formada pela agência de jornalismo Énois, co-autora do Prato Firmeza, guia gastronômico das quebradas de São Paulo, e uma das idealizadoras da Pa Nois Tirar Um Lazer, newsletter que faz curadoria de conteúdo periférico. O debate tem mediação da também jornalista Monique Evelle.
Os convidados partem da premissa de que a cobertura jornalística, seja ela impressa, radiofônica, televisiva ou online, fornece todos os dias significados à cidade. Eles desenrolam o debate partindo de experiências distintas, mas com pontos de vista convergentes. Para Belarmino, um dos grandes problemas do jornalismo, na atualidade, é o perigo de trabalhar apenas uma versão dos fatos, principalmente em alguns ambientes como o centro e as periferias de São Paulo.
Segundo o repórter, este olhar direcionado do jornalismo acaba por estabelecer modos de ver, fabricando estereótipos, e de viver, já que o cotidiano dos habitantes destas regiões pode ser profundamente afetado, chegando a influenciar a política pública direcionada para estes locais. Um exemplo deste impacto é uma reportagem, ainda em curso, que ele está fazendo na Favela São Remo, Zona Oeste da capital paulista. No local, o repórter conversou com pessoas que enfrentam dificuldades para encontrarem emprego, devido à região onde moram. “Elas estão traumatizadas com a imprensa por acharem que somente o tema da violência será explorado, como se fosse inerente a essas comunidades”, conta Belarmino concluindo que esta junção de fatores muitas vezes impede a contratação destes indivíduos.
Durante a pós-graduação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Belarmino integrou um projeto cujo propósito era justamente ampliar a voz de moradores destas áreas para que eles também pudessem noticiar o que acontecia à volta. “É necessário um olhar diferente sobre os mesmos lugares, fugir da construção imediatista. O jornalista pode ouvir as pessoas tirando esse vício negativo da imprensa que coloca as periferias como locais de violência. Precisamos ultrapassar as camadas superficiais”, conta.
O estigma gerado pelo direcionamento das narrativas jornalísticas cria ainda uma consequência muito mais ampla, que diz respeito ao desenvolvimento destas áreas à margem e até à expectativa de vida de seus moradores. “Reservam para a periferia políticas públicas voltadas à repressão e à violência, que são mais imediatistas. Isso acaba virando um ciclo e excluindo as políticas mais profundas de desenvolvimento humano, como educação, por exemplo,” ele conclui. O repórter, em 2016, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos pela matéria que fez para o Profissão Repórter sobre a chacina de Osasco.
Também com um olhar voltado às periferias, nascida e criada no Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, Kemilly reforça o papel fundamental do jornalismo na construção e manutenção da democracia. “Eu me tornei jornalista por querer que as pessoas que vieram de onde eu vim tivessem acesso à informação. Quando ela chega na periferia já está distorcida”, conta. “Quando eu era pequena, tudo o que eu queria saber encontrava na imprensa, não existiam bibliotecas onde cresci”, emenda ela.
Autora de dois projetos que deslocam essa referência negativa construída pela mídia a respeito das periferias, o Prato Firmeza, guia gastronômico dos bairros além centro, e o Pa Nois Tirar Um Lazer, newsletter de conteúdo periférico, Kemilly relembra: “Eu só via a periferia no Datena, relacionada a morte e violência, mas nessas regiões também tem muita coisa boa. O problema é que nunca as exploram,” ela finaliza.
SERVIÇO:
Brechas Urbanas – A cidade construída pelo jornalismo
Com Kemilly Matos e Guilherme Belarmino
Dia 21 de agosto, às 20h
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: Livre
Sala Multiuso – piso 2
100 lugares
Entrada gratuita
Distribuição de ingressos:
Público preferencial: uma hora antes do evento | com direito a um acompanhante
Público não preferencial: uma hora antes do evento | um ingresso por pessoa
Interpretação em Libras.