Brasil, uma ilha da fantasia
(*) Artigo de Enio De Biasi
- Data: 07/05/2013 13:05
- Alterado: 07/05/2013 13:05
- Autor: Redação
- Fonte: Libris
Testa do Break animou a galera
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O Ministro da Fazenda continua com seu discurso de extremo otimismo. O Brasil vai crescer fortemente em 2013. A inflação brasileira vai diminuir. Os investimentos vão aumentar. Se tomarmos como referência a 18ª edição do Relatório “Economia Brasileira em Perspectiva”, de março de 2013, o Brasil, segundo os economistas da Secretaria de Política Econômica do Ministério, responsável pela elaboração do relatório, parece ser uma ilha de prosperidade.
A cada página só vemos boas notícias e uma visão positiva da economia. Abaixo vamos reproduzir algumas das afirmações do Ministério e, para quem tem tiver interesse em analisar o relatório, basta acessar a página do Ministério da Fazenda na internet.
• – Economia brasileira em processo de aceleração
• – Utilização da capacidade instalada mostra recuperação consistente
• – Safra brasileira em 2013 será recorde
• – Mercado de trabalho continua sólido
• – Rendimento real continua a crescer
• – Inflação dentro da meta desde 2004
• – Queda no atacado ainda vai chegar ao varejo
• – Solidez das contas públicas
Notícia ruim, em todo o relatório, só quando a equipe econômica do governo fala do cenário e das perspectivas do mercado internacional. Será?
Não poderíamos esperar que o Ministério da Fazenda tivesse um discurso de derrota, de pessimismo ou, pior, que pudesse ressaltar as mazelas da economia brasileira. Mas merecemos uma análise mais realista da situação. Afinal, acreditar que tudo vai melhorar é um fator para a paralisia ou a morosidade na tomada de decisões para corrigir desvios e combater perigos que se mostram para a economia nacional.
Se tudo fosse esse ‘mar de rosas’ apregoado pelo Ministro Guido Mantega, por que razão o Banco Central aumentou a taxa básica de juros? É um claro sinal de que a inflação está em patamar elevado, mas o receituário tradicional e indispensável para dominar essa doença do sistema econômico veio tímido e, pior, tardiamente.
Claro que não estamos querendo pintar um quadro desesperador, mas daí a considerar que a situação está confortável, vai uma distância considerável.
A economia brasileira tem dados sinais contraditórios e o governo só parece estar pensando em eleição e em projetos políticos, já que as medidas adotadas só parecem fazer sentido para manter o elevado índice de aprovação da presidenta. Nossa avó já dizia: o que arde cura e o que aperta segura. Não são com medidas politicamente corretas que vamos colocar a economia nos trilhos. O remédio pode ser amargo, mas é fundamental acertar na dose e no tempo.
Não restam dúvidas de que a situação de hoje é melhor do era no passado. O Brasil foi o país que mais reduziu o desemprego desde 2008. Entretanto, como dissemos, os sinais são contraditórios. A taxa de desemprego de março, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi a menor para o mês de toda a série histórica, mas a renda dos trabalhadores já não cresce com o mesmo vigor. A balança comercial dá claros sinais de deterioração, os investimentos privados não deslancham, as contas públicas continuam, como há vários anos, com um equilíbrio frágil e a inflação assusta.
Nesse cenário, os agentes econômicos se retraem, não investem, não confiam no vigor apregoado desde Brasília. Observemos a evolução do índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Se a economia mostra toda essa pujança, não seria razoável supor que os preços das ações das empresas listadas no IBOVESPA estivessem valorizadas? Não é o que acontece. O índice ronda, desde dezembro de 2012, os 55.000 pontos, mais de 20% menor que o verificado no pico de 2008 ou por longo período de 2010.
Enquanto isso, a arrecadação tributária da União e dos estados continua mostrando claros sinais de evolução, a despeito da inflação, do baixo crescimento e das incertezas. É notável a capacidade dos governos em manter o crescimento das suas receitas em níveis muito superiores aos verificados pela economia como um todo.
(*) Enio De Biasi é sócio-diretor da De Biasi Auditores Independentes