Brasil reverte queda em IDH, mas perde duas posições
País ocupa 89º lugar entre 193 países em ranking da ONU de desenvolvimento humano no último ano da gestão Bolsonaro; recuperação fica abaixo do esperado
- Data: 13/03/2024 13:03
- Alterado: 13/03/2024 13:03
- Autor: Redação
- Fonte: Lucas Lacerda/Folhapress
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Brasil reverteu, em 2022, a queda em dois anos consecutivos do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), mas não conseguiu atingir o nível de 2019, antes da pandemia de Covid-19, e perdeu duas posições no ranking.
Os dados foram divulgados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) nesta quarta-feira (13). O índice de cada país é composto pela média de indicadores de expectativa de vida ao nascer, escolaridade e renda. Quanto mais próximo de 1, melhor o IDH.
No levantamento relativo a 2022, último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), o Brasil atingiu índice 0,760, considerado alto, e ocupa a 89ª posição na lista de 193 nações. No primeiro ano da gestão, em 2019, o IDH havia passado de 0,764 (2018) para 0,766 – ou seja, a nota do país ao fim do mandato ficou pior do que era no início.
Em seguida, ainda sob comando de Bolsonaro e enfrentando a pandemia, foram duas quedas consecutivas: caiu de 0,766 em 2019 para 0,758 em 2020, alcançando 0,754 em 2021. O progresso brasileiro no último ano é visto como acentuado, embora tenha apresentado uma recuperação abaixo do esperado.
À frente do Brasil estão países como Cuba (0,764) e China (0,788), na categoria de desenvolvimento alto. Na categoria de IDH muito alto estão Argentina (0,849) e Bahamas (0,820), por exemplo.
Além de choques como a pandemia, guerras também provocam variações significativas no índice de desenvolvimento dos países. Há dois anos em guerra com a Rússia (0,821), a Ucrânia, por exemplo, caiu de 0,773 para 0,734, regredindo a um patamar de 20 anos atrás, e saiu da 77ª para a 100ª posição.
Não há informações sobre Coreia do Norte e Mônaco. Atualmente, o topo é da Suíça, com 0,967, e em último lugar está a Somália, que registrou 0,380.
Brasil reverte queda de IDH, mas ainda não superou nível anterior à pandemia
0,616 – 1991
0,622 – 1992
0,630 – 1993
0,638 – 1994
0,646 – 1995
0,653 – 1996
0,660 – 1997
0,666 – 1998
0,671 – 1999
0,679 – 2000
0,686 – 2001
0,692 – 2002
0,688 – 2003
0,692 – 2004
0,698 – 2005
0,700 – 2006
0,704 – 2007
0,715 – 2008
0,717 – 2009
0,723 – 2010
0,728 – 2011
0,732 – 2012
0,750 – 2013
0,754 – 2014
0,753 – 2015
0,755 – 2016
0,759 – 2017
0,764 – 2018
0,766 – 2019
0,758 – 2020
0,754 – 2021
0,760 – 2022
Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano 2023/2024 (Pnud/ONU)
Enquanto o impacto da pandemia representou a maior queda do IDH registrada desde o início da série, nos anos 1990, as maiores preocupações para o futuro, segundo o relatório, têm sido a polarização política, marcada pela divisão interna em países e o apoio a líderes que minam a democracia.
“Mais do que pessoas defendendo seu ponto de vista, o que é saudável para a democracia, vemos sociedades divididas em campos beligerantes. Isso envenena a cooperação doméstica e internacional. É uma tendência global desde 2011”, afirmou Pedro Conceição, diretor do escritório da ONU responsável pela publicação.
COMO ESTÁ O PAÍS EM RELAÇÃO À AMÉRICA LATINA
Considerando América Latina e Caribe, o Chile se mantém como a nação com o IDH mais alto. O Brasil, que ocupava a 16ª posição, caiu para a 19ª. Entre outros países, ficou atrás de Argentina, Panamá, Costa Rica, México, Equador, Cuba e Peru – o país andino hoje ocupa a posição que o Brasil tinha no último ranking mundial do IDH.
O Brasil é visto como um ator importante para a região, tanto por vantagens naturais quanto pela capacidade política.
“É preciso lembrar da importância que tem o Brasil na presidência no G20, incorporando com muita força o tema social na discussão com os países do grupo. É uma forte ênfase na abordagem das desigualdades,” afirmou Michelle Muschett, diretora regional do Pnud para a América Latina e o Caribe.
Ela também lembrou da vantagem e da responsabilidade que o Brasil tem para enfrentar questões de desenvolvimento sob a ótica das mudanças climáticas, já que 60% do território nacional é composto pela Amazônia Legal.
A região da América Latina e do Caribe, composta por 33 países, teve a maior queda, na comparação com outras regiões, entre 2020 e 2021. A recuperação em 2022, segundo o relatório, foi menor do que o esperado caso fosse mantida a tendência de crescimento de 2019.
Um dos dados que compõem o IDH, a expectativa de vida na região é 73,9 anos, superior à média mundial de 72 anos.
No Brasil, o dado havia chegado à marca mais baixa em 12 anos em 2021, com 72,8 anos. Já em 2022, a recuperação chegou a 73,43 anos.
No país, a média de anos em escolas teve pouco aumento, saindo de 8,12 em 2021 para 8,27. Já renda per capita anual passou de US$ 14.369,88 para US$ 14.615,89.
Segundo o relatório, os países latinos e caribenhos devem investir em proteção social. O objetivo é ampliar a resiliência contra crises ou a dificuldades políticas e sociais, como o avanço do crime organizado.
“Esse contexto global chega a uma América Latina e ao Caribe que têm desafios estruturais. São profundas desigualdades que afetam a região, a altíssima vulnerabilidade e um crescimento econômico muito mais volátil. Talvez isso explique por que América Latina e Caribe sejam mais vulneráveis a essas crises”, afirmou Muschett, do Pnud.