Brasil reforça posição mais ao centro na OMC sobre quebra de patentes de vacina

O Brasil fortaleceu na Organização Mundial do Comércio (OMC) sua posição mais ao centro em relação à questão sobre a quebra de patentes de vacinas contra covid-19

  • Data: 09/06/2021 11:06
  • Alterado: 09/06/2021 11:06
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Brasil reforça posição mais ao centro na OMC sobre quebra de patentes de vacina

Brasil reforça posição mais ao centro na OMC sobre quebra de patentes de vacina

Crédito:Pixabay

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Na prática, o País indicou que está disposto a iniciar uma negociação sobre a suspensão durante a pandemia, o que indica uma mudança de postura sobre o tema. Essa alteração é importante, mas ao mesmo tempo tênue, já que a linha de defesa principal brasileira é a de buscar transferência tecnológica, mantendo a preservação dos interesses das empresas que investiram na busca de um imunizante.

As ações diplomáticas – principalmente quando revelam um desvio de rota – costumam ser feitas de forma muito paulatina. E uma das principais preocupações do Itamaraty é a de que recaia sobre o País a pecha de que é uma nação que não respeita contratos. Por isso, o trabalho diplomático no Congresso para evitar uma ação unilateral do Brasil sobre o tema também tem sido feito de forma incisiva nas últimas semanas.

A decisão do Brasil de evitar negociações nesse sentido era vista com crítica por alguns agentes do terceiro setor. A avaliação era a de que o País não contribuía para que o assunto avançasse dentro da OMC e era um dos poucos entre os emergentes a não apoiarem esse caminho.

O Brasil está pronto para iniciar negociações baseadas em texto sobre a dispensa das disposições do TRIPS (sigla em inglês referente ao acordo que regula propriedade intelectual durante a pandemia). Vamos nos envolver de forma aberta e construtiva em tais discussões visando resultados tangíveis no menor prazo possível“, disse nesta terça-feira, 8, o embaixador Alexandre Parola, no primeiro dia de reunião do Conselho, que continua nesta quarta-feira (9).

Nesse discurso, o representante do Brasil na OMC considerou que o governo brasileiro está “profundamente comprometido” em fornecer soluções dentro da estrutura da Organização para apoiar os esforços globais para acabar com a pandemia. “Não existe uma fórmula simples para enfrentar a ampla gama de desafios envolvidos no desenvolvimento, fabricação e distribuição de vacinas e terapêuticas em todo o mundo”, ponderou Parola, acrescentando que reforça a necessidade de haver uma solução “holística” para o caso.

O embaixador comentou que o Brasil tem trabalhado em diferentes frentes para construir uma estrutura robusta de comércio e saúde para a OMC, que lide com os diversos desafios de uma forma abrangente. “E continuamos abertos a outras propostas que possam contribuir para melhorar ainda mais as ferramentas disponíveis na OMC para responder às crises de saúde”, enfatizou.

Ele disse também que é preciso que os países saiam da atual pandemia mais bem preparados para as próximas. E observou que há muita assimetria no mundo para o enfrentamento do surto. “Esse desequilíbrio é algo que devemos abordar com urgência”, alertou, mencionando que a produção de medicamentos e vacinas está muito concentrada em algumas partes do mundo. “Esta pandemia provou que isso precisa mudar.”

Parola ressaltou que é preciso disseminar o conhecimento que se tem hoje na área da saúde para aumentar o nível de preparação do mundo para ameaças futuras. O Itamaraty argumentou ainda que as discussões no conselho Trips ficaram praticamente apenas com foco na proteção de patentes e apenas “marginalmente” trataram da transmissão de tecnologia e know-how. Para o Brasil, essa transmissão pode “não fluir automaticamente para fabricantes potenciais de vacinas e terapêuticas uma vez que os direitos de patentes sejam licenciados ou renunciados”.

“Gostaríamos de ver discussões mais aprofundadas sobre a operacionalização deste importante aspecto prático, que é fundamental para o sucesso de uma estratégia de isenção de patentes”, sugeriu. “Também estamos interessados em soluções que preservem a transparência e um nível suficiente de segurança jurídica para as partes interessadas, de modo que não atrapalhemos injustificadamente os esforços de colaboração.”

Brics

Nos últimos meses, Índia e África do Sul passaram a liderar um bloco de países em desenvolvimento que pedem na OMC a suspensão de patentes das vacinas. Os Estados Unidos surpreenderam recentemente ao dizerem que estão dispostos a apoiarem essa medida, mas algumas ressalvas foram colocadas. Há preocupações no Brasil, por exemplo, sobre o tempo dessa suspensão, que não foi especificada, e há a avaliação de que deve ocorrer apenas enquanto a pandemia existir, e também sobre os insumos sobre os quais recairá. Há uma expectativa de que Índia e África do Sul apresentem uma nova proposta sobre o tema com mais informações a respeito dessas questões. Não há, no entanto, um prazo específico para que os países entreguem o relatório à OMC.

Com a adesão de China e Rússia à proposta, apenas o Brasil está fora desse apoio dentro do grupo dos Brics (formado exatamente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O acordo Trips e as leis domésticas já são suficientes, na avaliação do Itamaraty, para que haja quebra de patentes, caso seja necessário dentro de um momento extraordinário. Apesar de a pandemia poder ser classificada como tal, a avaliação interna é a de que a falta de insumos se dá pela baixa capacidade do setor privado de oferecer vacinas, e não necessariamente por questões de monopólio de produção.

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