Boulos dosa embate com Marçal e vê Tabata usar influenciador como trampolim
Candidato do PSOL frisa bolsonarismo e rejeita 'rolar na lama', e a do PSB ataca para ficar mais conhecida
- Data: 27/08/2024 09:08
- Alterado: 27/08/2024 09:08
- Autor: Redação
- Fonte: Joelmir Tavares e Isabella Menon/Folhapress
Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB)
Crédito:Vinicius Loures/Câmara dos Deputados e Reprodução/Instagram
Os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) traçaram estratégias diferentes no enfrentamento a Pablo Marçal (PRTB), com o primeiro dosando ataques e revides e a segunda puxando uma ofensiva contra o influenciador bem recebida por alas do chamado campo progressista.
Separados por 15 pontos percentuais na mais recente pesquisa Datafolha, Boulos – com 23% das intenções de voto – e Tabata – com 8% – têm como alvos comuns o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que marcou 19%, e o influenciador e autodenominado ex-coach, com 21%.
Com o crescimento de Marçal, agora empatado tecnicamente em primeiro lugar com Boulos e Nunes, as rotas foram recalculadas.
Tabata fez dois vídeos que viralizaram nas redes, o mais recente na madrugada desta segunda-feira (26), sobre processos judiciais e polêmicas que pesam sobre Marçal, com as suspeitas de ligações de aliados com o PCC e a condenação dele por furto por atuar em uma quadrilha de fraude bancária.
Aliado de Lula (PT), Boulos usou debates para fustigar Marçal e recorreu à Justiça contra as insinuações, sem provas, de que ele seria usuário de cocaína, mas optou por dosar os conteúdos contrários ao adversário. A linha é a de rebater o candidato do PRTB, sem ignorá-lo, mas evitando dar palanque a ele.
Na semana passada, o deputado do PSOL desistiu de ir a debate promovido pela revista Veja e disse que não iria cair em jogo “de quem quer fazer da eleição um vale-tudo”.
Nos bastidores, a campanha de Tabata avalia como positiva para ela a decisão de usar o influenciador como um trampolim para o maior objetivo da parlamentar: aumentar a taxa de conhecimento, hoje em 61%. A leitura é que a intenção de voto crescerá à medida que mais eleitores souberem quem ela é.
Assessores afirmam, contudo, que a principal intenção da candidata, apoiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), é chamar a atenção para o passado problemático do influenciador e expor a fragilidade da candidatura, sem um plano de governo tão aprofundado quanto o dela.
Boulos adaptou o discurso com a ascensão de Marçal, incluindo-o no apelo de derrotar o bolsonarismo, o que antes se resumia a Nunes, o nome oficialmente apoiado por Jair Bolsonaro (PL). A aposta é na rejeição ao ex-presidente, já que 63% do eleitorado se negam a escolher um candidato indicado por ele, segundo o Datafolha.
A tônica trabalhada nos últimos dias é a de que Nunes e Marçal são “duas faces da moeda bolsonarista”.
Apesar da decisão de priorizar propostas e o diálogo com eleitores de fora da esquerda que podem ser decisivos em eventual segundo turno, Boulos disparou em suas redes nesta segunda um vídeo que mira igualmente Marçal e Nunes e os associa a Bolsonaro. Diferentemente de Tabata, o deputado não aparece nas imagens.
Em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura nesta segunda-feira (27), Boulos repetiu o raciocínio de que Nunes e Marçal são igualmente bolsonaristas, mas usou termos mais fortes para se referir ao candidato do PRTB, a quem chamou de “coisa abjeta”, criminoso, marginal e bandido.
Com o desafio de suavizar o rótulo de radical de Boulos e distanciá-lo de um tom agressivo, auxiliares do candidato entendem que levá-lo para o ringue seria arriscar um trabalho de reputação construído por meses. O próprio já disse que não vai “rolar na lama” e fazer o jogo de Marçal.
Lula, que em comício no fim de semana rechaçou candidatos que se dizem de fora da política, já tinha aconselhado Boulos a “não dar importância” para o autodenominado ex-coach, mas o deputado reagiu a uma afronta num debate e tentou tirar da mão do rival uma carteira de trabalho que ele agitava para provocá-lo.
Pessoas do entorno do parlamentar dizem que faz mais sentido para Tabata antagonizar Marçal, já que ela parte de um patamar inferior, do que para Boulos, que permanece na liderança – mas reconhecem que ele indiretamente é beneficiado pelas investidas da deputada contra o influenciador.
O deputado trabalha com a ideia de que dedicar energia a Marçal só vai tirá-lo do foco de sua campanha, que é conquistar eleitores citando suas promessas, a presença da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice e a aliança com Lula. Diz, por exemplo, que não vai se guiar por “lacração de internet”.
Ele fez uma transmissão ao vivo nesta segunda para responder a seguidores que o cobraram por estar “pegando leve” e dizer que eleição é algo sério, “não é concurso de quem grita mais alto”.
Na campanha de Tabata, o diagnóstico é o de que os vídeos da deputada com tom investigativo contribuíram para ampliar o engajamento dos perfis dela e torná-la mais conhecida.
Os conteúdos angariaram 5 milhões de reproduções até a tarde desta segunda. Vídeos da candidata também críticos a adversários vinham alcançando, em média, entre 100 mil e 500 mil visualizações. Durante esta segunda, ela apareceu entre os assuntos mais comentados do X (ex-Twitter).
Há uma discussão agora sobre a necessidade de equilibrar os conteúdos provocativos e propositivos. Um dos pontos levantados é que os vídeos com ares de denúncia, se repetidos, podem cansar o público e perder o impacto.
Pessoas próximas da deputada avaliam que Boulos tem preferido responder pontualmente a Marçal e descartado um conflito aberto similar ao de Tabata pelo cálculo de que enfrentar Marçal no segundo turno seria mais favorável do que Nunes. A campanha do PSOL nega que queira escolher oponente.
Ainda na visão de assessores da deputada, o que está em jogo é frear um candidato nocivo ao sistema democrático.
“Queira a gente ou não, o Pablo Marçal é o grande personagem da eleição municipal no Brasil, é o cara que está sendo comentado em todos os lugares. Então, quando a Tabata diz que não vai aceitá-lo como prefeito, isso dá a ela também relevância e força”, diz o marqueteiro dela, Pedro Simões.
“Deixar que ele [Marçal] fale sozinho não é inteligente”, segue o estrategista. “Temos um cara que é perigoso, com financiamento ilegal de campanha, envolvido com um monte de gente esquisita. Quando a gente se furta a falar é antiético.”
A avaliação de Simões é que os conteúdos gerados por Tabata desconstroem a imagem de que candidata frágil, por ser mulher e jovem. “Quando ela ataca o Marçal e mostra quem está envolvido com ele, ajuda a derrubar essa tese. É mais difícil aparecer quem diga que ela é fraca.”