Balanço da Brock – 03/10/2022

Onda Bolsonaro

Indiscutível dizer que a grande surpresa dessas eleições até o momento se deu na virada de Bolsonaro no Estado de São Paulo. Contrariando as pesquisas eleitorais, Tarcísio Gomes de Freitas saiu na frente de Fernando Haddad e ambos foram para o segundo turno. Tarcísio fechou com 42,32% dos votos válidos e Fernando Haddad com 35,70%.  A onda bolsonarista no Estado também se repetiu contra o candidato ao Senado, Márcio França, que foi governador de São Paulo, e que perdeu para o candidato bolsonarista, o astronauta Marcos Pontes, ex-ministro de Bolsonaro. Na Câmara Federal dos eleitos por São Paulo, Carla Zambelli, aliada do presidente, foi a segunda mais bem votada do Estado, com 946 mil votos, seguida por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que aparece como terceiro mais bem votado com 741 mil votos. Embora tenha sido o terceiro mais bem votado no Estado, Eduardo perdeu 1 mihão de votos se comparado à eleição passada. 

Em São Paulo, Bolsonaro venceu Lula, com 47,7% dos votos válidos. Já Lula teve 40,8%. Porém, na Capital, Lula venceu com 45,5% dos votos válidos contra 43,24% de Bolsonaro. 

Fenômeno acontece 

O fenômeno da virada acontece e não se pode culpar ou dizer que os institutos produziram situações inverídicas. Tanto que, nos outros Estados, a situação encerrada na eleição de ontem bateu muito com o que vinham divulgando os institutos. É o caso do Distrito Federal, que desde o início das pesquisas apontava preferência por Bolsonaro. Já o Nordeste sempre apareceu com preferência para Lula. 

Esquerda, presente!

Embora a onda conservadora tenha sido forte no Estado de São Paulo na última semana, o candidato Guilherme Boulos, do PSOL, foi o vencedor de votos no Estado, com mais de um milhão de eleitores digitando seu número nas urnas. Aliado do ex-presidente Lula, Boulos tem forte atuação no movimento dos trabalhadores sem teto. Terá papel importante na campanha de segundo turno tanto de Fernando Haddad como de Lula. Hoje, em sua conta no Twitter, Boulos publicou uma foto com Lula e Haddad com os seguintes dizeres: “Hoje começa uma nova batalha. Agora é força total para eleger Lula Presidente e Haddad Governador. Pra cima”. Hoje Boulos participará do programa Roda Viva, da TV Cultura.  

Ganhou, mas perdeu

A grande verdade é que, embora não tenha ganho as eleições no primeiro turno como chegou a prever alguns institutos de pesquisas, Lula sai vitorioso desse primeiro turno. O ex-presidente ganhou em 3.378 cidades brasileiras e Bolsonaro venceu em 2.192 cidades. 

Em 2018, quando disputou com Fernando Haddad, Bolsonaro ganhou em 2852 cidades. Ou seja, de 2018 para cá, Bolsonaro perdeu 660 cidades. Já naquela eleição, Haddad ganhou em 2.614 cidades, o que representa que Lula conquistou nessas eleições 764 cidades a mais que Haddad. 

O destaque para Lula se deu no Ceará, Paraíba, Piauí e Sergipe. Já Bolsonaro se destacou em Rondônia e Distrito Federal. 

O IBGE conta como cidades, além dos 5.568 municípios, Brasilia como cidade coextensiva ao Distrito Federal e o Distrito de Estadual de Fernando de Noronha, totalizando 5.570 cidades. 

Simone em terceiro 

Outra virada inesperada foi da senadora Simone Tebet, que aparecia em quarto lugar nas pesquisas de intenções de votos e na última semana conseguiu fôlego para passar na frente do candidato presidenciável Ciro Gomes, do PDT, que encerrou com 3,06% dos votos válidos. Simone fechou as urnas com 4,16% dos votos válidos e mostrou garra e coragem, pois carregou uma campanha sem apoio de seus parceiros de legenda. Poucos foram os candidatos de seu partido e coligação que defenderam seu nome. No Grande ABC, por diversas vezes esta colunista constatou que candidatos da coligação de Tebet, como Rodrigo Garcia, Edson Aparecido, entre outros candidatos a deputados estaduais e federais, sequer faziam menção a Simone nas atividades de campanha. Alguns cientistas políticos arriscaram dizer que se Simone Tebet tivesse tido mais apoio, terminaria as eleições com maior expressividade nas urnas. Vale ressaltar que Tebet contou com o apoio do presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi, que durante toda a campanha se mostrou um aliado da candidata. 

Fim trágico

Uns arriscaram dizer que ele estava a serviço de Bolsonaro. Outros acreditavam que em determinado momento ele iria apoiar o candidato Lula. Mas a verdade é que o candidato Ciro Gomes, PDT, terminou muito mal na campanha. Em 2002, Ciro também foi candidato, perdendo para Lula. Na época Ciro terminou a disputa em quarto lugar, com 12% dos votos válidos. Entre 2003 e 2006 ele ocupou o cargo de ministro da Integração Nacional do governo Lula. Em 2018, Ciro disputou as eleições e terminou em terceiro lugar. Ao longo dessa campanha foi acusado de aproximar suas estratégias de comunicação junto aos bolsonaristas. Alguns membros do PDT chegaram a pedir que ele retirasse sua candidatura, mas ele manteve seu nome. Durante a campanha chegou a romper com seus dois irmãos, Cid Gomes, que é Senador pelo PDT do Ceará e Ivo Gomes, prefeito de Sobral, ambos aliados de Lula. No final da campanha Ciro já havia manifestado que, caso perdesse as eleições, deixaria a vida pública para cuidar de sua família. Ontem, ao encerrar o fechamento das urnas, Ciro disse que queria um tempo para conversar com seu partido e amadurecer as ideias. 

Tucanos desidratados 

O PSDB era o partido que, claramente, vinha perdendo gordura durante a campanha eleitoral. A perda de Rodrigo Garcia marca o fim de 28 anos de mandato dos tucanos no Estado de São Paulo. Com 18,40% dos votos válidos, Garcia afirmou que continuará trabalhando para o Estado. Os três prefeitos tucanos das principais cidades do Grande ABC, Orlando Morando, de São Bernardo, Paulo Serra, de Santo André e José Auricchio Júnior, de São Caetano, apostaram todas as fichas na reeleição de Garcia. Os três sempre afirmaram em palanque que o tucano foi o governador que mais atenção dedicou para as demandas do ABC e que tirou do papel obras aguardadas há mais de 20 anos nas cidades, como o Piscinão Jaboticabal, localizado na divisa de São Caetano e Santo André. 

Em 28 anos de governos tucanos, as únicas duas vezes em que políticos de outros partidos assumiram o governo de São Paulo foi em 2006 e 2018, quando Claudio Lembo (PFL) e Márcio França (PSB) assumiram os cargos após José Serra e Geraldo Alckmin irem para a disputa presidencial. Partido deverá liberar seus membros para apoiarem no segundo turno candidatos de sua escolha. 

Show de horrores 

Foi um verdadeiro show de horror, preconceito e ofensas alguns memes que circularam hoje pelas redes sociais com mensagens contra os nordestinos em virtude de Lula ter ficado à frente de Bolsonaro no Estado. As mensagens foram atribuídas a grupos bolsonaristas. Lula venceu em toda a região Nordeste. Mensagens como: Imbecis e jumentos, povo ignorante e mal informado, Cuba do Sul, entre outras, circularam durante o dia nas redes sociais. Vale ressaltar que nos últimos anos a Justiça vem condenando por racismo pessoas que proferem ofensas nas redes sociais.