Ator humaniza sequestrador de Silvio Santos em filme
Em entrevista, Johnnas Oliva falou sobre sua preparação imersiva e os desafios de viver Fernando Dutra Pinto em Silvio, já em cartaz nos cinemas
- Data: 14/09/2024 16:09
- Alterado: 14/09/2024 16:09
- Autor: Redação
- Fonte: FolhaPress/Anahi Martinho
Crédito:Divulgação
No filme “Silvio”, que estreou nesta semana nos cinemas, o apresentador Silvio Santos, vivido por Rodrigo Faro, passa oito horas refém do sequestrador Fernando Dutra Pinto (1979-2002). Enquanto relembra momentos marcantes de sua vida, o apresentador trata o próprio algoz com doçura, com tom quase paternal.
Dutra Pinto é interpretado por Johnnas Oliva, que também viveu o papel na série “O Rei da TV” (Star+). O ator conta que estudou o personagem a partir da biografia “Você Acredita em Mim?”, do jornalista Elias Awad, que entrevistou o sequestrador de Silvio e Patrícia Abravanel na cadeia, onde ele morreu aos 22 anos, cerca de seis meses após o crime.
Em entrevista à reportagem, Oliva conta que primeiro passou no teste para o papel de Gugu Liberato em “O Rei da TV”, mas sentiu que tinha “uma dívida” com o personagem do sequestrador, que havia estudado anos antes para “Silvio”. Com o filme adiado por conta da pandemia de Covid, escolheu viver Dutra Pinto na série. Pouco tempo depois, o longa voltou a ser rodado e o ator topou repetir o papel.
Na produção para o streaming, Dutra Pinto é retratado em outro registro, na avaliação do ator. “É um Fernando mais violento, que bateu no Silvio, falava muito palavrão, tinha outra linguagem”, descreve. Já no filme, o sequestrador é mostrado como um garoto atrapalhado e ansioso, que mete os pés pelas mãos numa ação descoordenada, quase causando uma tragédia.
“A gente procurou humanizar e retratar esse rapaz ambicioso, megalomaníaco, que queria acontecer, e que, no fim das contas, também é uma vítima da sociedade”, diz Oliva. O produtor Roberto DÁvila, da Moonshot Pictures, concorda.
“Ele representa esse lugar a que a gente está submetendo a juventude: um capitalismo exagerado, extremo, que vende uma imagem de vida feliz ligada ao ter”, afirma. “Isso vai gerando ansiedade a ponto de o cara sair de si, pegar uma arma e querer conquistar isso por um meio mais rápido.”
“Ele não era um bandido contumaz; nem era bandido”, continua DÁvila. “Toda a ação é muito amadora, baseada em uma ansiedade que ele tinha de ser percebido pelo ter, pelo possuir, pelo material.”
FILME É SOBRE PATERNIDADE
Nas cenas de flashback em que Silvio rememora a própria vida, o longa explora a fundo a relação do apresentador com seu grande mentor, o radialista Manuel de Nóbrega (1913-1976), pai de Carlos Alberto de Nóbrega e fundador do Baú da Felicidade.
Silvio e Manuel nutriam uma relação de pai e filho, já muito documentada, e até apontada como alvo de ciúmes por parte de Carlos Alberto. “Acabou sendo um filme sobre paternidade”, avalia D’Ávila.
“Desde os traumas que ele tinha na relação com o próprio pai, de como ele falhou como pai para com a [filha] Cíntia, do ímpeto de ver na figura do Manuel um pai, até a paternidade que ele desenvolve com o Fernando naquela situação”, diz o produtor. “Não é um filme sobre um cara apontando uma arma para o outro. É sobre a intimidade desses dois indivíduos.”