Ação Bicho Vivo leva alimentos a locais remotos do Alto Pantanal
Promovida pelo Projeto Bichos do Pantanal campanha arrecada para salvar animais que sobreviveram ao fogo
- Data: 24/09/2020 10:09
- Alterado: 24/09/2020 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Projeto Bichos do Pantanal
Crédito:reprodução
Os incêndios que já devastaram a região da Transpantaneira no Pantanal atingem a região de Cáceres/MT, sede do Projeto Bichos do Pantanal, realizado pelo Instituto Sustentar e patrocinado pela Petrobras. A Bacia do Alto Pantanal aonde nenhuma ajuda chega e reúne grande número de vida silvestre, com uma das maiores concentrações de onça-pintada do mundo, ganha apoio da Ação Bicho Vivo, criada pelo Projeto com objetivo de levantar fundos para resgatar, tratar e alimentar os animais vítimas dos fogos, além da prevenção de incêndios.
Único Projeto atuando no resgate de animais em Cáceres, Bichos do Pantanal criou o Comitê Fogo da Ação Bicho Vivo – formado por parceiros do ICMBio (gestores da Estação Ecológica (Esec) de Taimã e da Esec Serra das Araras), setor acadêmico (UNEMAT), representantes do Governo (SEMA – Secretaria do Meio Ambiente e Defesa Civil), Reserva Ecológica do Jaguar, ONGs como Instituto Gaia, entre outros – para avaliar e decidir as estratégias e destinos dos recursos arrecadados na Ação Bicho Vivo.
O Comitê Bicho Vivo fez um levantamento dos lugares estratégicos para destinação de reposição dos alimentos. “Em Cáceres, as regiões mais vulneráveis estão concentradas na divisa de áreas terrestres e Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde só é possível chegar de barco”, comenta Jussara Utsch, diretora do Instituto Sustentar e do Projeto Bichos do Pantanal. “Nossa equipe dispõe de duas caminhonetes para deslocamentos terrestres e de dois barcos para percorrer as vias fluviais depositando às margens do rio Paraguai e seus tributários alimentos como frutas e grãos para os animais. Outros pontos estratégicos são abastecidos diariamente com alimentos destinados para diversas espécies concentradas na região”, explica. Contando com os parceiros, temos aproximadamente 10 caminhonetes e 15 barcos que nos ajudam na logística de resgates e alimentação dos bichos”, finaliza Utsch.
Prestação de contas
Até o momento, o montante recebido pela Ação Bicho Vivo está em torno de R$ 25.000,00 doados por pessoas físicas e R$ 150.000,00 pela Petrobras, patrocinadora do Projeto Bichos do Pantanal. O apoio da Petrobras na Campanha permite dobrar a expetativa de arrecadação e atingir R$ 300 mil em prol da fauna impacta com os incêndios no Pantanal.
Com o dinheiro arrecado, um pouco mais de 2 toneladas de grãos, frutas e quirela foram comprados para alimentar os bichos até o momento. Cerca de 35 mamíferos foram resgatados na operação e, deles, infelizmente três sofreram eutanásia.
Ainda não é possível estimar a quantidade de mortes de animais, que aumenta a cada dia, devido a queimaduras, inalação da fumaça, infecções, desidratação e inanição. O avanço do fogo em Cáceres ameaça o ciclo das águas, reprodução dos peixes e plantas da região, impactando negativamente no meio ambiente e no setor pesqueiro, importante atividade socioeconômica dos pantaneiros.
Efeitos das chuvas após os incêndios
De acordo com Claumir Muniz, coordenador de Ictiofauna do Projeto Bichos do Pantanal e professor na UNEMAT, os peixes migratórios são parte da base da pesca no Pantanal. Com as chuvas, inicia-se o período migratório destas espécies. Em consequência dos incêndios, estes peixes vão se deparar com ambientas degradados, também pela Dequada (esgotamento temporal do oxigênio da água) potencializada e não encontrarão frutos dos quais se alimentam. “Isso impacta no desequilíbrio fisiológico que influencia na reprodução dos peixes, que acontece principalmente entre outubro e dezembro”, explica Muniz. “Como o ambiente está impróprio, principalmente para os alevinos (os filhotes dos peixes), a reposição do estoque pesqueiro deve ficar bastante prejudicada”, analisa.
“A tão esperada chuva chegou com pouca intensidade”, prossegue Muniz. Por um lado, a chuva amenizou a situação aumentando a humidade relativa do ar e diminuindo a intensidade de propagação do fogo. Porém, de outro, ainda não é suficiente para encharcar o solo e debelar um fenômeno típico do Pantanal, o fogo subterrâneo. Por causa disso, o ambiente perde a renovação natural de sua vegetação. Em outras palavras, a rebrota natural que deveria acontecer após o fogo, pode ter se perdido pela intensidade do incêndio, podendo gerar um sério problema ecológico para a região.
Dados do Prevfogo, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestais do Ibama, mostram que em 2020 a área queimada no Pantanal já passa de 2,3 milhões de hectares, o que representa quase 10 vezes o tamanho das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas. Somente nos últimos dois meses foram atingidos 1.654.000 hectares.
Recuperação da fauna precisa do apoio da sociedade
“Já tratamos animais como onças, lobetes , iguana, anta, jabuti, garça, jaguatirica, tamanduá, entre outros “ , comenta Douglas Trent, diretor de pesquisa do Projeto Bichos do Pantanal e um dos líderes da Ação Bicho Vivo. “Os cuidados aos animais oferecidos por nossa equipe fazem parte das ações para reduzir os impactos dos incêndios – ainda não mensurados – na fauna e flora”, comenta . “Nós estamos mobilizados para fazer o controle dessa situação desastrosa, junto com toda a comunidade científica, testando novas alternativas para que possamos passar por este momento mitigando e reduzindo da melhor forma os impactos, e também estabelecendo novas estratégias para estarmos de algum modo mais preparados para eventos futuros desta mesma natureza”, finaliza Trent.
Para Ação Bicho Vivo, ainda são necessários recursos para aquisição de cochos e bacias para disponibilização de água aos animais que não conseguem se hidratar nos rios afetados com a seca e os incêndios, além de compras de alimentos, medicamentos para trato veterinário, construção de recinto para recebimento e tratamento de animais resgatados . “É uma situação urgente e precisamos agir muito rapidamente para evitar destruições de intensidade ainda maior . Por isso, a arrecadação de fundos é fundamental para ajudar na recuperação da fauna, que se encontra nesse momento completamente desorientada “ , finaliza a diretor a da Ação, Jussara Ustch.
Você pode participar da Ação Bicho Vivo e ajudar o Pantanal a se recuperar fazendo uma doação. Sua contribuição pode ser feita no site do Instituto Sustentar http://institutosustentar.net/doar/