A CASA discute causas da baixa cobertura vacinal no SUS

Agentes podem contribuir para resolver o problema

  • Data: 19/01/2023 07:01
  • Alterado: 19/01/2023 07:01
  • Autor: Redação
  • Fonte: A CASA
A CASA discute causas da baixa cobertura vacinal no SUS

A CASA

Crédito:Divulgação

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Aumentar a cobertura vacinal é um dos grandes desafios da saúde brasileira. Pensando em como contribuir com esse objetivo, A CASA – espaço de conexão dos agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate às endemias (ACE), oferece atualização profissional aos mais de 400 mil agentes atuantes nos 5570 municípios brasileiros como forma de promover a adesão às campanhas de vacinação. A CASA é uma iniciativa do Instituto de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Social (IPADS) em parceria com a Confederação Nacional dos Agentes Comunitário de Saúde e Agentes de Combates às Endemias (CONACS) e Confederação Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). 

Se em 2015 a vacina contra poliomielite alcançou 98,29% das crianças até um ano, em 2018 seu alcance baixou para 89,54%, chegando a 73,53% da população alvo em 2022, mesmo com a prorrogação da campanha de imunização. Assim como outras vacinas que fazem parte do Programa Nacional de Imunização (PNI, criado em 1973), a cobertura da vacina Tríplice Viral, dada em duas doses para proteger contra sarampo, caxumba e rubéola, também ficou distante da meta. Dos 92,61% atingidos em 2018, chegou a 77,96% da população em 2022. Já a segunda dose foi recebida por 54,94% do público alvo (pessoas de 12 meses a 59 anos de idade, sendo recomendadas duas doses até 29 anos). Os dados extraídos do TABNET/DataSUS apontam:

Imunizações – coberturas vacinais por ano – 2018-2022

Imuno

2018

2019

2020

2021

2022

BCG

99,72

86,67

77,14

74,59

80,97

Hepatite B em crianças até 30 dias

88,40

78,57

65,77

66,61

72,58

Rotavírus Humano

91,33

85,40

77,94

71,70

73,01

Meningococo C

88,49

87,41

79,23

72,07

74,99

Hepatite B

88,53

70,77

77,86

71,44

73,61

Penta

88,49

70,76

77,86

71,44

73,61

Pneumocócica

95,25

89,07

82,04

74,74

77,75

Poliomielite

89,54

84,19

76,79

70,96

73,53

Poliomielite 4 anos

63,62

68,45

67,58

54,58

65,58

Febre Amarela

59,50

62,41

57,64

58,15

58,09

Hepatite A

82,69

85,02

75,90

67,48

70,43

Pneumocócica (1º ref)

81,99

83,47

72,14

66,08

68,94

Meningococo C (1º ref)

80,22

85,78

76,55

68,63

72,78

Poliomielite (1º ref)

72,83

74,62

69,30

60,45

65,41

Tríplice Viral D1

92,61

93,12

80,88

74,89

77,96

Tríplice Viral D2

76,89

81,55

64,27

53,13

54,94

Tetra Viral (SRC+VZ)

33,26

34,24

21,01

6,24

9,25

DTP REF (4 e 6 anos)

68,52

53,74

73,49

57,95

65,01

Tríplice Bacteriana (DTP) (1º ref)

73,27

57,08

77,21

63,60

65,10

Dupla adulto e tríplice acelular gestante

44,99

45,02

22,89

18,97

19,47

dTpa gestante

60,23

63,23

46,37

43,11

45,73

Varicela

0,00

0,00

74,43

66,96

70,42

A vacinação contra a covid-19, que será incluída no calendário anual do PNI, também preocupa. Embora a confiança na vacina tenha aumentando entre 2021 e 2022 na maioria dos 23 países participantes de uma pesquisa sobre hesitação vacinal publicada recentemente na revista Nature Medicine, no Brasil a resistência dos pais em vacinar os filhos contra a doença subiu de 8,7% para 12,6%.

“A maior parte das vacinas tem a meta de atingir 95% da população alvo. Mas a cobertura começou a cair em 2012 e essa tendência se acentuou de 2016 até os dias atuais. O principal risco trazido pela baixa cobertura é o ressurgimento de doenças imunopreveníveis graves e já erradicadas, como a poliomielite e o sarampo”, observa o epidemiologista André Ricardo Ribas Freitas, consultor científico da A CASA e Professor de Epidemiologia e Bioestatística na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP).  

Diante do agravamento desse cenário, agentes de todo o país que participam das atividades da A CASA têm dialogado sobre as causas e abordagens possíveis para elevar a cobertura vacinal. Uma das principais necessidades apontadas por esses profissionais é consolidar estratégias de comunicação e argumentos para contrapor à desinformação e as notícias falsas espalhadas sobre as vacinas. “Segundo os agentes, as pessoas deixam de se vacinar muito mais por não darem importância à vacina do que por uma atitude antivax”, diz André Giglio Bueno, médico infectologista da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e também consultor científico da A Casa.

Nas conversas, treinamentos e oficinas oferecidos pelo projeto, a comunicação é valorizada para ajudar os agentes a se contrapor à ideia falsa de que ela não é importante e para descontruir o conceito equivocado de que a vacina causa problemas à saúde. “A onda de desinformação vista nos últimos três anos, aliada a um movimento organizado forte contra as vacinas, foi inicialmente direcionada à covid-19, mas obviamente impactou também as outras coberturas”, diz o especialista.

O fortalecimento dos vínculos com a população do território após a pandemia é outro tema presente. “A qualidade da relação entre os agentes e a população influencia diretamente a confiança nas informações que são dadas por esses profissionais para que as pessoas não tenham receio de se vacinar”, descreve o infectologista Bueno.

Na visão de Ilda Angélica Correia, presidente da Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde, a desvalorização do trabalho dos agentes de saúde é mais um fator que colabora para a queda das coberturas vacinais. “Somos o elo entre a Unidade Básica de Saúde e a população do território. Desde 2016, estamos sendo deixados de lado. Antes éramos informados em primeira mão sobre as alterações do calendário vacinal, a chegada de novas vacinas e campanhas. A gente levava essa informação e garantia a presença das crianças, adultos e idosos nas campanhas de vacinação.” Na atualidade, segundo a presidente da CONACS, muitas vezes os profissionais ficam sabendo das alterações na vacinação pelo cidadão que vai utilizar o serviço. “No meu ponto de vista, sem dúvida isso contribuiu e contribui para a queda da cobertura vacinal”, diz Ilda, que atua em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará.

A representante nacional reivindica maior engajamento dos agentes comunitários no processo de planejamento e definição das prioridades das equipes de saúde da família e o compartilhamento de informações mais constante e cuidadoso. “Se a gente retomar como prioridade a busca ativa dos faltosos da vacina, seja criança, adulto ou idoso, certamente daremos uma contribuição muito importante para a reversão da baixa cobertura vacinal. Sabemos onde estão essas pessoas”, conta ela. Para os coordenadores do projeto A CASA, a busca ativa e orientação das pessoas para aumentar a aceitação das vacinas é uma medida urgente.

A CASA identificou mais algumas questões que influenciam o alcance da vacinação. “O horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde e a disponibilidade da vacinação precisam ser pensados para que as pessoas não vejam o ato de vacinar como um problema que vai prejudicar no trabalho ou atrapalhar demais a rotina. Os agentes falam muito sobre isso”, pontua Bueno.

Sobre A CASA – Construída em 2022 para abrigar os profissionais que atuam como Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE), protagonistas da promoção da atenção primária à saúde no país. A CASA é uma realização do IPADS em parceria com o CONASEMS, CONACS e a Fundação Johnson & Johnson. Este espaço reúne uma série de conteúdos, em diferentes formatos, selecionado pela equipe do projeto A Casa, sobre questões relacionadas à atuação e à qualidade da formação dos agentes.

Sobre o IPADS – O IPADS é uma organização sem fins lucrativos, que atua na perspectiva de contribuir com o desenvolvimento social e com a melhoria da qualidade de vida da população, apoiando a formulação, implantação e avaliação de políticas, programas e projetos. O trabalho do Instituto é caracterizado pela interdisciplinaridade, principalmente pela atuação conjunta de seus associados que buscam uma abordagem integral das necessidades do cidadão.

Sobre o CONASEMS – O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) nasceu a partir do movimento social em prol da saúde pública e se legitimou como uma força política, que assumiu a missão de agregar e de representar as 5570 secretarias municipais de saúde do país. Desde 1988, promove e consolida um novo modelo de gestão pública de saúde baseado em conceitos como descentralização e municipalização.

Sobre a CONACS – A Confederação Nacional dos Agentes de Saúde (CONACS) foi uma entidade criada em 1996 pelos ACS e ACE com o objetivo de ser a representante máxima dessas categorias. Atua como importante força política em prol dos direitos associados ao trabalho dos agentes de saúde. É formada por sindicatos e associações desses profissionais e na década de 1990 sua atuação foi fundamental para consolidação de leis que criaram a profissão e regulamentaram o vínculo empregatício. A CONACS tem forte potencial de mobilização junto a ACS e ACE de todo o país.

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  • Data: 19/01/2023 07:01
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