Desafios climáticos atingem a produção agrícola no Brasil
Perdas significativas em soja, melancia e leite geram preocupação entre agricultores
- Data: 26/02/2025 08:02
- Alterado: 26/02/2025 08:02
- Autor: Redação
- Fonte: Jornal Nacional
Nos últimos dias, diversas regiões do Brasil têm enfrentado temperaturas que superam os 35º C, criando um ambiente desafiador para os trabalhadores rurais.
A combinação de ondas de calor e a escassez de chuvas durante o período crítico de plantio têm gerado sérios prejuízos no setor agrícola.
Na cidade de Sidrolândia, localizada no coração de Mato Grosso do Sul, uma propriedade agrícola está finalizando a colheita da soja. A falta de precipitação durante a fase de plantio já havia reduzido a expectativa de produção de 60 para 42 sacas por hectare. Com a continuidade da seca, a colheita efetiva caiu drasticamente para apenas 30 sacas por hectare.
“Temos enfrentado um clima extremamente seco, com pouca água e calor excessivo, algo que nunca havíamos presenciado antes“, declarou Jairo Reginato, gerente da fazenda.
A situação climática adversa afeta cerca da metade das áreas cultivadas com soja em Mato Grosso do Sul, abrangendo mais de 2 milhões de hectares que relataram dificuldades. A intensificação do sol e do calor também causou estragos nas plantações de melancia. Neste período do ano, as frutas deveriam estar prontas para a colheita e venda, mas, infelizmente, muitas delas estão irrecuperáveis. O agricultor Geovane Ferreira Santos, que trabalha ao lado da família na lavoura, estima perdas em torno de 20 mil melancias.
“As plantas, que estavam em boas condições, não resistiram ao calor extremo. Cerca de 8 mil pés morreram nesta lavoura que pertence ao meu tio, resultando na perda de entre 12 a 15 mil frutos”, lamentou Santos.
Em Deodápolis, Andreia e Eduardo enfrentam desafios semelhantes com sua produção de morangos. Nos últimos três anos, as altas temperaturas comprometeram significativamente a colheita. Para mitigar os danos futuros, o casal está investindo em uma nova estrutura agrícola.
“Estamos implementando uma cobertura refrigerada que reflete a luz solar prejudicial enquanto permite a passagem da luz benéfica para as plantas. Além disso, aumentamos a irrigação, dobrando as linhas por canteiro para amenizar os efeitos do calor sobre as culturas”, explicou Andréia Soares de Lima.
A situação climática extrema se reflete também no bem-estar dos animais. Segundo Éder Comunello, pesquisador da Embrapa especializado em agrometeorologia, “temperaturas elevadas podem interromper os processos fisiológicos das plantas e afetar igualmente os seres vivos. Isso pode causar inquietação nos animais, prejudicando seu apetite e afetando sua produção de carne ou leite.”
No interior de São Paulo, o pecuarista José Luiz Tavares Sebastião tem enfrentado perdas significativas na produção leiteira, com uma redução diária de até 100 litros devido às condições adversas.
“A produção caiu entre 10% e 20%. Além disso, a fertilidade dos animais diminuiu e eles se tornam mais suscetíveis a doenças. Nosso gado possui pelagem escura e absorve mais calor, o que intensifica o sofrimento dos animais”, afirmou Sebastião.
Com novas previsões indicando uma continuidade das ondas de calor no Centro-Sul até março, as consequências para o setor agrícola brasileiro permanecem incertas e preocupantes.