Desigualdade na arborização de São Paulo aumenta riscos climáticos
A cobertura vegetal na capital paulista varia significativamente entre bairros, impactando o clima e a qualidade de vida, conforme revela estudo sobre a arborização urbana
- Data: 25/02/2025 13:02
- Alterado: 25/02/2025 13:02
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
A cidade de São Paulo conta com um bom índice médio de cobertura vegetal, mas a grande disparidade na distribuição das árvores entre os bairros, ditada pela desigualdade socioeconômica, provoca variações climáticas acentuadas entre as regiões da capital.
As árvores bloqueiam a incidência direta dos raios solares e tornam o clima mais úmido pelo processo de evapotranspiração. Uma cobertura vegetal ampla é essencial para mitigar os efeitos do aquecimento global nos centros urbanos.
Como outras cidades da América Latina, São Paulo é extremamente desigual em termos socioeconômicos. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) geral da cidade é muito alto, mas varia bastante de acordo com a região.
Disparidades no índice de cobertura vegetal
A desigualdade no desenvolvimento se reflete na arborização da cidade, como atestam dados da Prefeitura de São Paulo sobre o Índice de Cobertura Vegetal (ICV), analisados pelo Prof. Dr. Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), no artigo Árvores urbanas em São Paulo: planejamento, economia e água.
A cidade conta, de maneira geral, com uma boa arborização. Há cerca de 650 mil árvores nas ruas da capital, que se somam às existentes em dezenas de parques. A cobertura vegetal é especialmente densa nos extremos Sul (região de Parelheiros) e Norte (Perus e Jaçanã) do município, onde se encontram remanescentes de florestas.
Excluindo-se essas áreas com matas, São Paulo tem uma média estimada de 0,6 árvore por habitante. A relação varia drasticamente de acordo com a região. É próxima a zero no Itaim Paulista (0,06 árvores por habitante), São Miguel (0,08), Vila Prudente/Sapopemba (0,10) e Vila Maria/Vila Guilherme (0,10). Em contraste, as regiões do Butantã (1,95), Pirituba (1,78) e Santo Amaro (1,76) contam com quase duas árvores por habitante.
A região “perdedora” em termos de arborização urbana, ressalta Marcos Buckeridge no artigo publicado em 2015, ocupa uma faixa contínua do Centro (Sé) até o extremo Leste (Itaim Paulista e Guaianases), além do Jabaquara.
Benefícios das árvores urbanas
Além da mitigação do calor, as árvores de ambientes urbanos prestam outros serviços importantes, como filtrar a poluição de material particulado que causa doenças pulmonares e sequestrar carbono em sua madeira. Elas propiciam também o benefício imaterial da contemplação da beleza do verde e estudos apontam que pessoas que vivem em cidades arborizadas têm menor tendência ao estresse e à depressão, relata o biólogo.
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Uma das espécies mais abundantes na arborização de rua em São Paulo é a tipuana (Tipuana tipu), originária do norte da Argentina e sul da Bolívia e bem adaptada à cidade. Elas são numerosas sobretudo em bairros nobres da capital, como Higienópolis, Pacaembu e Perdizes, onde foram plantadas principalmente pela companhia inglesa City na primeira metade do século XX.
As outras três espécies bastante comuns nas ruas da cidade são a sibipiruna (Poincianella pluviosa) e o pau-ferro (Casealpinia ferrea), nativas da Mata Atlântica, e o alfeneiro (Ligustrum sp.), originário da Ásia.
Envelhecimento das árvores e desafios para o futuro
O principal problema da arborização em São Paulo, além da distribuição desigual entre as regiões, é o envelhecimento das árvores, que em sua maioria têm entre 60 e 70 anos, aponta o Dr. Giuliano Maselli Locosselli, docente e pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP).
Segundo o biólogo, as administrações municipais historicamente pecaram no cuidado com a arborização ao se furtarem de fazer a essencial substituição gradual dos indivíduos velhos por novas mudas. Houve também desleixo com o manejo ao longo de décadas, tanto pela falta de poda quando necessária, quanto pelos cortes para adequar as copas à fiação nos postes, que podem desestabilizar as árvores.
Giuliano Locosselli elogia os esforços recentes da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que em 2021 publicou o Plano Municipal de Arborização Urbana, e a promulgação da lei nº 17.794, de 27/4/2022, que disciplina a arborização urbana, quanto ao seu manejo, visando à conservação e à preservação. Mas ele ressalta que grande parte das árvores paulistanas estão em situação mecânica delicada.
Anualmente caem cerca de 2 mil árvores em São Paulo, sobretudo durante as tempestades de chuva e vento no verão, o que é um risco para as pessoas e traz prejuízos econômicos.
“Em comparação, em Singapura, uma cidade muito arborizada e também localizada na região tropical, praticamente não há quedas, porque ao longo das décadas eles substituíram as árvores velhas por mudas”, conta Giuliano Locosselli. “Aqui em São Paulo, estamos numa situação difícil. Se a Prefeitura substituir todas as árvores velhas por mudas, a cobertura vegetal vai cair drasticamente. Então, a opção para mitigar o problema das quedas é ir substituindo gradualmente, começando pelas árvores em pior estado”.
Leia mais sobre o tema na revista O Biólogo (LINK), do Conselho Regional de Biologia da 1ª Região (CRBio-01).