Desabamento na Igreja de Bonfim revela crise de conservação do patrimônio histórico
Especialista do CEUB analisa a responsabilidade pública e privada na preservação de monumentos e os impactos culturais das tragédias recentes
- Data: 13/02/2025 11:02
- Alterado: 13/02/2025 11:02
- Autor: Redação
- Fonte: CEUB
O desabamento recente do teto da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador – que deixou uma turista morta e cinco feridos – é mais um na sequência de desastres que chamam a atenção para a negligência na preservação do patrimônio histórico nacional, afetando não apenas o patrimônio material, mas a memória cultural coletiva do país. Deusdedith Rocha Jr, professor dos cursos de Psicologia, Direito e Jornalismo do CEUB, analisa a responsabilidade das instituições públicas e privadas, os desafios em preservar as edificações históricas e consequências para as futuras gerações.
Casos como o incêndio no Museu Nacional, em 2018, e o desabamento do teto no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Recife, no ano passado, evidenciam um problema estrutural. “A preservação das edificações históricas vai além de uma questão de segurança: trata-se da manutenção da memória, da identidade e da cultura brasileira”, contextualiza o especialista. Embora o Brasil possua legislações que tratam da preservação do patrimônio histórico, a execução dessas leis e o investimento em conservação ainda são insuficientes.
A falta de política de valorização da memória histórica é apontada como um dos fatores para os acidentes envolvendo patrimônio cultural no país. “O Brasil não tem uma cultura sólida de preservação. O governo não investe o suficiente e a sociedade, muitas vezes, não se vê responsável por isso. Essa mentalidade precisa ser superada”, explica. Os países que investem em sua memória cultural, como Cuba e Argentina, têm compreensão mais profunda do valor de suas raízes, algo que – na visão do professor – o Brasil ainda não alcançou.
Conscientização coletiva sobre história e cultura
Além do abandono físico das edificações, o especialista alerta para o desprezo cultural por parte das elites brasileiras, que muitas vezes olham para o exterior como modelo e ignoram a riqueza histórica que o país possui. “A gestão do patrimônio histórico no Brasil ainda é muito distante da ideal. Falta uma educação crítica e uma verdadeira conscientização sobre a importância de preservar nossos espaços e objetos históricos”, ressalta o docente do CEUB.
Para ele, a solução passa por um compromisso coletivo, envolvendo o poder público e a sociedade civil. “Não podemos esperar que a mudança aconteça de um lado só. Todos temos responsabilidade na preservação e, para isso, é preciso educação e um envolvimento maior com as questões culturais e históricas”, finaliza Deusdedith Rocha Jr.