Brasil registra aumento nos casos de febre amarela em janeiro de 2025
Número de óbitos e infecções aumenta em São Paulo devido à recusa pela vacinação e expansão urbana.
- Data: 29/01/2025 19:01
- Alterado: 29/01/2025 19:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Rio de Janeiro - Rio Imagem abre posto de vacinação contra a febre amarela, no centro do Rio, com funcionamento das 7 às 22h. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Crédito:Tomaz Silva / Agência Brasil
No mês de janeiro de 2025, o Brasil confirmou quatro mortes e oito casos de febre amarela, todos ocorridos no estado de São Paulo. Em contraste, o ano anterior contabilizou apenas nove infecções e três óbitos no país. Especialistas indicam que a recusa em se vacinar e a urbanização crescente em áreas florestais podem estar contribuindo para essa escalada nos números.
A febre amarela apresenta dois ciclos de transmissão, afetando tanto humanos quanto primatas. No ambiente silvestre, a infecção é transmitida por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nas áreas urbanas, a transmissão pode ocorrer por meio do mosquito Aedes aegypti; no entanto, os últimos casos urbanos da doença no Brasil foram registrados em 1942.
De acordo com Regiane de Paula, coordenadora de controle de doenças da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, todas as vítimas fatais não estavam vacinadas e tinham visitado regiões florestais onde provavelmente tiveram contato com os mosquitos transmissores. A vacinação é considerada a principal forma de prevenção contra a febre amarela.
Além da baixa taxa de vacinação, fatores como desmatamento, expansão urbana em áreas antes florestais, queimadas e mudanças climáticas têm intensificado o contato entre humanos e mosquitos silvestres. A bióloga e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Márcia Chame, enfatiza que “a fumaça dos incêndios desloca os mosquitos silvestres em busca de novos locais, levando-os a encontrar humanos nos fragmentos florestais que restaram após o desmatamento”.
Os macacos também têm se adaptado aos ambientes urbanos, transitando entre áreas silvestres e urbanas, o que facilita a propagação do vírus. É importante destacar que esses primatas não transmitem diretamente a febre amarela; eles atuam como hospedeiros do vírus.
Entre o Natal e o Ano Novo de 2024, a unidade da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto identificou quatro macacos bugio mortos no campus, com laudos confirmando a presença da febre amarela. Chame ressalta que “os macacos são tão vítimas quanto os humanos” e sua presença serve como um indicador crucial da circulação do vírus na região.
A especialista observa que as mudanças climáticas também contribuem para o surgimento de áreas propensas à transmissão do vírus em locais anteriormente florestais agora desmatados para construção de condomínios. Cidades como Rio de Janeiro e campi universitários, incluindo Ribeirão Preto, contêm áreas arborizadas que favorecem a presença do mosquito vetor.
Embora ainda não tenham sido registrados casos de infecção por febre amarela em mosquitos Aedes aegypti, Chame alerta que se isso ocorrer, o potencial para disseminação da doença aumentaria significativamente devido à preferência desse mosquito pelo sangue humano e seu habitat urbano. Ela afirma: “Ainda não há evidências concretas disso acontecendo atualmente”.
Fernando Bellissimo, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, complementa que não houve registros de epidemias urbanas desde 1942. No entanto, ele ressalta que é impossível determinar qual mosquito seria o transmissor caso ocorra uma nova infecção urbana: “É crucial torcer para que o Aedes aegypti não esteja contaminado”.
A febre amarela está atualmente em seu período sazonal, que vai de dezembro a maio, quando as condições climáticas favorecem um aumento na população de mosquitos e na replicação do vírus. Chame aponta: “As alterações climáticas elevam as temperaturas e provocam padrões irregulares nas chuvas”.
Os principais sintomas da febre amarela incluem febre súbita, calafrios, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas e fraqueza. A vacina contra a doença está disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e integra o calendário nacional de vacinação. Crianças menores de cinco anos devem receber duas doses da vacina, enquanto adultos necessitam apenas de uma dose única.
Regiane de Paula aconselha: “Caso você ainda não tenha sido vacinado, busque uma unidade de saúde para receber a imunização. Se planeja visitar áreas com circulação do vírus, vacine-se ao menos dez dias antes”.
O projeto Saúde Pública conta com o apoio da Umane, uma associação civil dedicada ao fortalecimento das iniciativas voltadas à promoção da saúde.