Haddad enfrenta desgaste político após polêmica do Pix e do dólar
Ministro da Fazenda sofre pressões internas e externas enquanto governo lida com crescente desconfiança econômica.
- Data: 19/01/2025 11:01
- Alterado: 19/01/2025 11:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
A recente reversão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à polêmica sobre o sistema de pagamentos instantâneos, o Pix, resultou em um novo desgaste para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Este já havia enfrentado uma significativa derrota política no final do ano passado, quando a isenção de Imposto de Renda para rendimentos acima de R$ 5.000 se tornou tema controverso.
Fontes ligadas ao governo relatam que Haddad saiu prejudicado dessas duas situações. Apoiadores do ministro sugerem que o presidente Lula deveria demonstrar um apoio mais firme a ele, visando fortalecer sua posição dentro do governo.
A administração atual lida com uma crescente desconfiança acerca da trajetória econômica e das políticas fiscais implementadas, o que intensifica a preocupação com a evolução da dívida pública brasileira. Este fator se tornou uma das principais inquietações entre economistas e no próprio Ministério da Fazenda.
Dentro da equipe econômica, há um entendimento de que é fundamental melhorar a coordenação das expectativas e reduzir os ruídos que afetam a percepção pública, mas a imagem de um Haddad enfraquecido não contribui para essa estratégia.
Apesar de continuar sendo um dos conselheiros mais próximos de Lula, aliados de Haddad destacam que conversas com interlocutores externos, incluindo representantes do mercado financeiro, revelam uma falta de credibilidade em relação à condução das políticas econômicas sob sua liderança.
Esses aliados observam que, embora existam questões específicas relacionadas às despesas e receitas a serem tratadas, o contexto geral reflete uma apreensão sobre a capacidade da equipe econômica de implementar as medidas necessárias para assegurar a saúde fiscal do país.
Um ministro, que preferiu permanecer anônimo ao falar com a Folha, expressou que a necessidade de Haddad negociar todas as propostas econômicas internamente antes mesmo de serem apresentadas ao Congresso — muitas vezes enfrentando forte resistência de colegas — tem contribuído para seu desgaste.
Esse interlocutor argumenta que Lula deve estabelecer um pacto claro com Haddad e manifestar publicamente seu apoio ao titular da Fazenda. Sem essa demonstração de unidade, as incertezas podem se agravar, levando o Brasil rumo a uma crise fiscal com possíveis impactos negativos nas eleições de 2026.
Uma fonte próxima ao governo mencionou que, em momentos em que Haddad desfrutava de maior força política, indicadores econômicos eram mais favoráveis, o dólar estava mais baixo e as expectativas estavam mais alinhadas. Entretanto, conforme aumentou a percepção de vulnerabilidade do ministro, a situação se deteriorou rapidamente.
Atualmente, o dólar ultrapassou a marca dos R$ 6 e os juros dispararam após uma das derrotas significativas enfrentadas por Haddad. Essa derrota ocorreu quando a isenção do Imposto de Renda foi atrelada ao anúncio de um pacote de contenção fiscal.
A equipe econômica se opôs à combinação dessas medidas; no entanto, cedeu à pressão política por um discurso que amenizasse a impopularidade dos cortes orçamentários. O resultado foi visto como uma vitória pela ala política do governo, mas acabou obscurecendo os esforços para conter gastos e suscitou dúvidas sobre o comprometimento de Lula com ajustes fiscais.
A inclusão da isenção do IR no pacote recebeu apoio do publicitário Sidônio Palmeira, agora ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom). A maneira como Haddad anunciou essa medida em cadeia nacional foi interpretada como uma demonstração de influência do marqueteiro ainda antes da oficialização de seu cargo.
A entrada formal de Sidônio na equipe governamental, segundo aliados do presidente Lula, modifica as relações internas e fortalece o papel do ministro Rui Costa (Casa Civil) nas disputas com Haddad sobre as diretrizes econômicas.
Até o fechamento desta matéria, tanto o Ministério da Fazenda quanto a Secom não forneceram comentários sobre os eventos recentes.
Na última semana, Sidônio teve um papel crucial na resolução da crise envolvendo o Pix, que levou à revogação de uma norma da Receita Federal sobre a declaração das transações financeiras. Informações falsas circulavam nas redes sociais afirmando que essa norma acarretaria tributação sobre o Pix. A oposição também utilizou este episódio para reforçar sua crítica ao governo Lula, associando-o à ideia de aumento de impostos.
Durante as discussões para solucionar essa crise, Haddad inicialmente defendeu os méritos da norma da Receita. No entanto, diante das repercussões negativas nas redes sociais e da exploração política do caso por seus adversários, acabou por não resistir fortemente à revogação da medida.
Sidônio foi um dos principais defensores dessa revogação e contou com o respaldo de Rui Costa. Esse episódio marcou a primeira grande divergência entre Haddad e Sidônio desde que este último assumiu seu cargo ministerial.
Pós-crise, um auxiliar próximo a Haddad tentou minimizar qualquer percepção negativa entre os ministros envolvidos e enfatizou a necessidade de cooperação entre suas equipes. Contudo, permanece no ar a dúvida sobre até onde irá a influência de Sidônio nas decisões econômicas futuras, especialmente considerando que sua opinião já prevaleceu em duas ocasiões relevantes. Essa preocupação se intensifica à medida que as eleições presidenciais se aproximam.