Ministro da Fazenda Aponta Influência de Bolsonaro na Crise do Pix
Crise no governo Lula: Haddad aponta Bolsonaro como responsável por pressão contra fiscalização do Pix e revela descontentamento da equipe econômica.
- Data: 17/01/2025 23:01
- Alterado: 17/01/2025 23:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestou sua opinião sobre a crise envolvendo uma nova medida da Receita Federal que visava aumentar a fiscalização sobre transações realizadas via Pix, atribuindo parte dessa situação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo Haddad, as investigações em andamento relacionadas à família Bolsonaro podem ter motivado a reação contra a proposta.
“Acredito que Bolsonaro esteja por trás desse movimento, uma vez que o PL financiou um vídeo do deputado Nikolas Ferreira. O Duda Lima, responsável pela campanha de reeleição de Bolsonaro, foi quem produziu o conteúdo”, comentou Haddad, referindo-se ao descontentamento expressado pelo parlamentar em suas redes sociais.
No dia 14 de novembro, Ferreira publicou uma mensagem criticando o governo por priorizar a arrecadação sem apresentar benefícios em contrapartida, além de acusar o governo de realizar uma “quebra de sigilo disfarçada de transparência”. O post rapidamente ganhou notoriedade, acumulando mais de 300 milhões de visualizações.
O vídeo gerou um forte impacto, levando o governo a reconsiderar sua posição. Apesar de Haddad ter defendido a relevância da medida até o dia 15, quando se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele reconheceu que uma campanha publicitária não seria suficiente para conter as críticas e desinformações em torno da proposta.
Em entrevista à CNN Brasil na sexta-feira (17), Haddad reiterou que Bolsonaro possui um histórico de descontentamento com a Receita Federal devido a questões pessoais. Ele mencionou que a família do ex-presidente enfrenta investigações relacionadas à negociação de joias não declaradas e ao uso de recursos em espécie na compra de imóveis, além das suspeitas envolvendo Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Antes do recuo governamental, Bolsonaro havia anunciado esforços para mobilizar sua bancada no Congresso com o objetivo de revogar a norma proposta. “Com o apoio da nossa bancada e de outros partidos, buscaremos derrubar essa Instrução Normativa imposta pela Receita do governo Lula”, escreveu em sua conta no X (anteriormente conhecido como Twitter).
No dia 15, o governo anunciou oficialmente a revogação da instrução normativa, um movimento liderado por Haddad, junto com Jorge Messias (AGU) e Robinson Barreirinhas, secretário da Receita Federal. Um dia depois, foi divulgada uma medida provisória confirmando que não haveria taxas adicionais em pagamentos realizados por meio do Pix.
Fontes indicaram à Folha que o presidente Lula ficou insatisfeito com a forma como a crise foi conduzida e concordou com a revogação da norma. Avaliações dentro do Palácio do Planalto sugerem que essa situação representou uma derrota para o governo frente à oposição, após uma série de equívocos na discussão sobre a fiscalização do sistema Pix.
Além disso, Haddad expressou preocupação com o agravamento da dívida pública. Ele ressaltou que as previsões anteriores sobre o crescimento econômico foram superadas e citou gastos extraordinários relacionados ao socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes que afetaram o estado desde abril. “O crescimento foi quase 7% nos últimos dois anos contra uma projeção inicial de 2%”, afirmou.
O déficit fiscal do ano passado foi registrado em 0,1%, enquanto as expectativas antes dos desastres naturais apontavam para 0,8%. O ministro destacou ainda que os investimentos realizados no estado afetado totalizaram cerca de R$ 40 bilhões em gastos primários.
A situação atual gerou um alerta entre os membros da equipe econômica quanto à necessidade urgente de reverter expectativas desfavoráveis, mesmo diante das resistências políticas enfrentadas em relação à revisão de gastos ou aumento das receitas.
Nesta sexta-feira, a cotação do dólar encerrou em R$ 6,06. Quando questionado sobre uma possível estabilização abaixo deste patamar, Haddad não respondeu diretamente, mas comentou que “qualquer cotação acima de R$ 5,70 é problemática”. Ele enfatizou que o câmbio no Brasil não é fixo e depende de fatores externos como geopolítica e taxas de juros internacionais.