Homens negros no Brasil enfrentam risco três vezes maior de assassinato por arma de fogo
A violência é particularmente prevalente entre jovens: indivíduos entre 20 e 29 anos constituem 43% das vítimas
- Data: 20/11/2024 10:11
- Alterado: 20/11/2024 10:11
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:Tomaz Silva/Agência Brasil
No Dia da Consciência Negra, um estudo do Instituto Sou da Paz revela uma alarmante disparidade racial nos índices de homicídios por arma de fogo no Brasil. Conforme dados de 2022, coletados pelo Ministério da Saúde, a taxa de homicídios entre homens negros é significativamente superior à média nacional para o restante das vítimas masculinas. Especificamente, a taxa entre homens negros atinge 44,7 por 100 mil habitantes, contrastando com 14,7 entre os demais.
Cristina Neme, que coordenou a pesquisa, enfatiza que esta situação tem se mantido ao longo dos anos e requer ações governamentais mais eficazes. “A resposta adotada até aqui não é suficiente para reverter o quadro”, destaca Neme.
O estudo também aponta que 79% das vítimas de homicídios são homens pretos ou pardos, com metade dos casos ocorrendo em vias públicas e 11,2% dentro de residências. A violência é particularmente prevalente entre jovens: indivíduos entre 20 e 29 anos constituem 43% das vítimas, enquanto aqueles de 30 a 59 anos representam 40%.
Regionalmente, o Nordeste apresenta o maior índice de homicídios por arma de fogo, com uma taxa de 57,9 por 100 mil homens, seguido pelo Norte (48,9), Centro-Oeste (26,6), Sul (23,1) e Sudeste (16,2). Embora desde 2018 tenha havido uma tendência de redução nos homicídios, caindo 3,4% entre 2022 e 2023 para cerca de 46 mil registros anuais, a preponderância de vítimas negras permanece inalterada.
O relatório sugere que fatores estruturais e históricos relacionados à herança escravocrata influenciam essa realidade. As dificuldades de acesso a serviços básicos como educação e saúde impactam diretamente na renda e empregabilidade da população negra.
Além disso, os dados sobre agressões armadas não letais reforçam essa desigualdade. Entre 2012 e 2023, as notificações dessas agressões variaram consideravelmente, com um aumento expressivo após as restrições da pandemia.
O Instituto Sou da Paz sublinha a necessidade de medidas integradas que combinem segurança pública eficaz com políticas sociais voltadas para a juventude negra. Isso inclui desde o fortalecimento do controle de armas até melhorias na investigação policial. O objetivo é não apenas reduzir a violência armada mas também abordar suas causas raciais e estruturais.
Casos recentes como a morte do menino Ryan da Silva Andrade Santos em Santos destacam os desafios contínuos em lidar com a violência policial nas periferias. O relatório enfatiza que intervenções repressivas devem ser equilibradas com investimentos sociais para realmente combater as raízes da violência armada no Brasil.