Tatuzão passará reto por estação atrasada da linha 6-laranja do metrô de SP
Há na 14 Bis-Saracura uma investigação arqueológica, e avanço das obras depende de posicionamento do Iphan
- Data: 01/10/2024 12:10
- Alterado: 01/10/2024 12:10
- Autor: Redação
- Fonte: Fábio Pescarini/Folhapress
Crédito:Divulgação/Governo SP
O tatuzão responsável pela escavação das obras do metrô de São Paulo vai passar reto pela estação 14 Bis-Saracura, a antepenúltima do trecho sul da futura linha 6-laranja.
Com apenas pouco mais de 10% das obras concluídas, segundo informações no site da concessionária Linha Uni, o resgate de um sítio arqueológico na Bela Vista, região central da capital, travou as perfurações no local.
O ritmo dos trabalhos no local contrasta com o das demais 14 estações que estão sendo construídas simultaneamente.
A tuneladora Maria Leopoldina, que começou a perfurar o trecho sul da linha em 16 de dezembro de 2021, chegou no último dia 10 à futura estação Higienópolis-Mackenzie. A previsão é que alcance a 14 Bis ainda neste ano.
O tatuzão, como a tuneladora é chamada popularmente, geralmente faz uma parada para revisão quando chega na estação com acesso ao túnel que acaba de ser escavado até ali. O que não vai acontecer e, segundo fontes ouvidas pela reportagem, pode ser um complicador, por causa da “perna” muito longa até a estação seguinte, a Bela Vista.
Tanto a estação Higienópolis como a Bela Vista têm mais de cerca de 50% das obras concluídas. O poço está perfurado e conta com concretagem, o que não ocorre na estação entre elas.
A Linha Uni, consórcio responsável pela obra e pela gestão do ramal em sistema de concessão por 30 anos, afirma ter apresentado um projeto de aceleração de obras e alternativas técnicas que contemplam a 14 Bis-Saracura.
“Porém, o avanço das atividades depende de posicionamento do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] quanto à conclusão dos resgates arqueológicos no local”, diz.
As escavações na futura estação foram parcialmente paralisadas em maio do ano passado após o encontro de cerca de 4.000 peças supostamente de origem do quilombo Saracura.
“Até o momento, todas as atividades de engenharia possíveis de serem executadas paralelamente ao trabalho de resgate arqueológico já foram concluídas”, afirma a concessionária.
Em nota, o Iphan afirma que não há embargo ao empreendimento e que a empresa de arqueologia contratada pela concessionária segue realizando todas as atividades no canteiro do sítio Saracura, “tendo em vista que há vigente uma portaria de autorização de resgate arqueológico”.
Seguindo a legislação brasileira, diz, há o “entendimento conjunto entre Iphan e governo do estado de São Paulo de que as diferentes etapas do trabalho de obras devem ser precedidas de resgate arqueológico, ora em curso”.
O Iphan diz ter realizado a última fiscalização no local no dia 22 de agosto passado e que encontrou materiais potencialmente relacionados às religiões de matriz africana.
A 14 Bis-Saracura está no local em que ficava a antiga sede da escola de samba Vai-Vai.
“A velocidade e o tempo dessas escavações seguem de acordo com achados e condições hídricas, geológicas e de segurança, considerando alinhamentos entre a equipe de arqueologia contratada pelo empreendedor e a de engenharia encarregada da obra”, afirma trecho da nota do Iphan. “Ao Instituto cabe acompanhar e fiscalizar esse trabalho, além de gerir o patrimônio arqueológico.”
Questionado pela Folha sobre as escavações nesta segunda-feira (30), durante visita às obras de pátio da linha 6 na Brasilândia (zona norte), o governador Tarcísio de Freitas (Repulicanos) disse que o governo não desistiu da estação da Bela Vista.
Segundo ele, no local deve ser usada a mesma técnica de parte da expansão da linha 2-verde do metrô, onde primeiro será escavado o túnel para instalação dos trilhos onde passarão os trens, para depois a construção da estação. “Ela não está descartada.”
Uma fonte do governo explica, porém, que a estação se torna inviável se não estiver conectada ao túnel quando o trem começar a passar por ali.
De acordo com Tarcísio, a expectativa é que o trecho entre as estações Brasilândia e Sesc-Pompeia na zona norte inicie as operações em 2026, último ano de seu governo. O restante da linha, incluindo a estação 14-Bis Saracura, ficaria para 2027.
Como mostrou a Folha, dificuldades geológicas na obra da linha 6-laranja, entretanto, podem atrasar em 1.096 dias, ou seja, em mais de três anos, a entrega do novo ramal de São Paulo.
O prazo consta em um relatório de administração publicado em março passado pela concessionária Linha Uni. O governo descarta o atraso.
A Secretaria de Parcerias e Investimentos diz que foram realizadas reuniões entre governo, concessionária e Iphan para dar celeridade ao processo de resgate arqueológico e proporcionar o avanço das obras.
O instituto do patrimônio histórico confirma as reuniões e da participação em grupos de trabalho. Na nota, afirma tratar como prioridade o empreendimento, “com manifestações feitas com máxima celeridade”.
Prometida inicialmente para começar em 2010, a obra sofreu uma série adiamentos e efetivamente teve início em 2015, com previsão de entrega em cinco anos depois. Porém, a construção acabou paralisada em 2016, sendo retomada em 2020 com a atual concessionária.
Houve ainda a interrupção inesperada de sete meses em parte dos trabalhos, quando uma cratera afundou o asfalto na marginal Tietê, em fevereiro de 2022, por causa do rompimento de uma tubulação de esgoto, que também inundou a tuneladora.
Quando pronta, a expectativa é de transportar 630 mil pessoas diariamente. Para o futuro, há o projeto de ampliação com mais seis estações, duas na zona norte e quarto a partir do centro até a Mooca.