Piora da seca deve dificultar navegação no rio Amazonas e pode aumentar preço de produtos
Atualmente, pelo menos 36 dos 62 municípios do estado estão com difícil acesso em razão do baixo nível das águas
- Data: 03/09/2024 20:09
- Alterado: 03/09/2024 20:09
- Autor: Redação
- Fonte: FolhaPress/João Gabriel e Renato Machado
Crédito:Reprodução
Já na próxima semana o rio Amazonas deve ficar inavegável para navios, e a projeção é de agravamento da seca no Norte do país durante o mês de setembro.
Uma estrutura logística foi montada para que nem a Zona Franca de Manaus nem a capital do estado sofram com desabastecimento de insumos e produtos, mas o governo local admite a possibilidade de alta nos preços.
Atualmente, pelo menos 36 dos 62 municípios do estado estão com difícil acesso em razão do baixo nível das águas -que não atinge só o Amazonas, mas é recorde no Solimões e no Madeira- e no mínimo 77,5 mil famílias já sofrem efeitos da estiagem extrema.
“No ano passado, os portos ficaram dois meses sem funcionar, sem receber carga. Isso causou prejuízo, desabastecimento no comércio Neste ano, não há expectativa disso em razão desse movimento [logístico], mas haverá um aumento inevitável no preço dos produtos”, afirmou à reportagem o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil).
A Casa Civil, responsável por coordenar a sala de situação da seca na Amazônia, disse que monitora os estoques de combustíveis e energia, e que trabalha com alternativas para atendimento das demandas, mesmo com as baixas dos rios, utilizando embarcações de menor porte.
“Desde a estiagem de 2023, os órgãos federais têm se preparado para uma possível repetição de seca extrema”, afirma a pasta. E acrescenta que finaliza a contratação, por cinco anos, de dragagem as hidrovias da região.
O governo do Amazonas diz que distribuiu 730 toneladas de alimentos pelo estado, e irá destinar 6.000 caixas d’água de 500 litros para a população, além de instalar purificadores e estações de tratamento.
Há a expectativa que uma reunião com os governadores do Norte aconteça no Palácio do Planalto, inclusive com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para tratar da situação, mas o encontro ainda não tem data marcada.
Segundo boletim divulgado nesta terça-feira (3) pelo Cemadem (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia), a seca em agosto foi menos grave do que em julho, mas a situação deve piorar novamente em setembro.
A projeção do centro aponta que o número de municípios em situação de seca extrema (a penúltima mais grave pela graduação do órgão) deve subir de 201 para 232 neste mês.
“Essa situação exige atenção e ações preventivas para minimizar os impactos socioeconômicos e ambientais, sobretudo em relação ao maior risco de propagação do fogo”, diz o Cemadem, que extende o diagnóstico também para Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
A expectativa do governo é que o rio Amazonas fique inavegável para navios a partir do próximo dia 9 -essas embarcações conseguiriam trafegar, no máximo, até a região de Itacoatiara.
Por isso, foram montadas portos temporários nesta altura do Amazonas, para que dali em diante produtos e insumos subam o rio em balsas menores, para garantir que a cidade de Manaus não fique desabastecida.
O custo dessa operação gira em torno de R$ 40 milhões e foi financiada pela iniciativa privada, e por isso deve impactar o preço dos produtos para o consumidor final.
Segundo dados da defesa civil nacional, compilados pelo governo estadual, a seca atinge com mais força as regiões do Alto e do Médio Solimões, do Juruá e de Purus, onde todos os municípios tem acesso difícil.
As regiões do Madeira, Baixo Solimões e Baixo Amazonas também apresentam este quadro, em menor grau.
O cenário real pode ser pior, uma vez que as informações são inseridas no sistema pelos próprios municípios, e é muito provável que haja subnotificação.
Todo o estado está em estado de emergência e também enfrenta uma onda recorde de incêndios, que são potencializados pela seca histórica que atinge a região Norte.
O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) marcou nos próximos dias atos e protestos em todos os estados da Amazônia reivindicando ações de proteção e reparação às comunidades mais vulneráveis e impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas.