Entenda por que Bolsas ao redor do mundo desabam nesta segunda
Bolsa japonesa fecha com a maior queda da história; europeias operam em baixa de 2%
- Data: 05/08/2024 13:08
- Alterado: 05/08/2024 13:08
- Autor: Redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Divulgação
Os mercados de ações ao redor do mundo desabam nesta segunda-feira (5), em um cenário influenciado principalmente pelo temor de uma recessão nos Estados Unidos. Dados do mercado de trabalho da maior economia do mundo, que mostraram uma piora nas contratações, refletem nas decisões de investidores no primeiro pregão da semana após a divulgação dos dados.
A Bolsa de Valores do Japão despencou 12%, no pior dia em 37 anos, e o índice europeu Stoxx 600 acumulava queda de mais de 3% durante o início da manhã. Nos EUA, Wall Street afundou na abertura. O S&P 500 perdia 3,66% e o Dow Jones recuava 1,71%, enquanto o Nasdaq despencava 6,34%.
Além do temor quanto aos EUA, também interferiu no mercado japonês o aumento das taxas de juros de 0% a 0,1% para 0,25% pelo Banco Central do Japão. A decisão foi uma resposta à elevação da inflação, que superou a meta de 2% do BC japonês. A sinalização de novos aumentos fez com que o principal índice acionário do país, o Nikkei 225, encerrasse as negociações com perdas por três dias consecutivos.
“Os investidores apostavam em um diferencial de juros que existia entre o Japão e os demais países. Essa alta, junto com a expectativa de queda de juros nos EUA, deixa o cenário menos atrativo, e você tem o desmonte de operações”, afirma Thaís Marzola Zara, economista senior da LCA Consultores.
“Você pegava emprestado em iene, com taxa de juros mais baixas, e aplicava nos EUA, por exemplo, que tinha taxas mais altas, ou até mesmo no Brasil. Agora, temos uma reversão desse movimento.”
Especialistas consultados pela Folha de S.Paulo atribuem as quedas mais a um nervosismo e especulações por parte de agentes de mercado do que à possibilidade real de uma recessão na maior economia do mundo.
“Não tem nada no horizonte que indique isso, é especulação. A economia dos Estados Unidos está bem, com baixo desemprego e inflação controlada”, afirma o economista e professor da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Feldman.
Os dados liberados pelos EUA seriam compatíveis com um “pouso moderado”, situação em que a economia desacelera de forma gradual e controlada, sem entrar em recessão, de acordo com Samuel Pessôa, economista e colunista da Folha de S.Paulo.
Pessôa também credita as quedas acentuadas refletem movimentos precipitados de investidores. A instabilidade causada pelas expectativas pessimistas acaba, por si só, ajudando a deteriorar o ambiente econômico, afirma.
“A expectativa está ruim, mas a economia em si não está ruim. Porém, se todo mundo acreditar que a situação está ruim, ela pode ficar”, diz.
O “payroll” (folha de pagamento, em inglês) mostrou que os EUA criaram 114 mil vagas no mês passado, ante expectativa de 175 mil, e a taxa de desemprego acelerou para 4,3%, quando agentes financeiros esperavam manutenção em 4,1%.
Com isso, levantou-se a hipótese do atual patamar dos juros norte-americanos, mantidos na taxa de 5,25% e 5,50% pelo Fed, estar levando a maior economia do mundo a um processo de desaceleração.
Um corte na taxa de juros americana poderia até fortalecer a renda fixa do Brasil, detentor de uma das maiores taxas de juros do mundo.
O cenário, entretanto, não se reflete na renda variável, já que a mudança no cenário dos juros americanos serviria como um sinalizador para os investidores de que a maior economia do mundo estaria desacelerando. As Bolsas brasileiras devem acompanhar movimentos de pares internacionais.
“As bolsas não são afetadas só pelo efeito estrito da taxa de juros. São afetadas pela expectativa do desempenho positivo das empresas. Para o investidor na Bolsa, o mais importante é o que vai acontecer na economia daqui alguns meses. Se a economia vai crescer, ele coloca dinheiro; se não vai crescer, ele tira”, diz Feldman, da USP.
“No caso do Brasil, a B3 anda muito em função do que acontece lá fora. Se outras Bolsas caem, aqui cai também, apesar de não termos horizonte negativo para nossa economia.”
O dólar apresenta forte alta nesta segunda. Por volta das 11h40, a divisa norte-americana subia 1,23%, cotada a R$ 5,779, em meio a um cenário de aversão ao risco generalizado. Na máxima da sessão, chegou a R$ 5,865. Já a Bolsa brasileira operava em queda firme de 1,18%, aos 124.362 pontos.
Os mercados somam as expectativas com a economia norte-americana a um possível alastramento do conflito no Oriente Médio, que poderia afetar a produção e venda de petróleo e tensões comerciais entre EUA e China.
Um ataque matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Terãa, na última quarta-feira (31). Um dia depois, o governo de Israel anunciou a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado judeu, em um bombardeio no mês passado.
“A rivalidade entre EUA e China tem aumentado muito, com os EUA dificultando a entrada de produtos chineses. A diminuição ainda maior no comércio entre os dois países, aliada a problemas internos da China, como o setor imobiliário, poderá esbarrar na taxa de crescimento mundial e afetar sobretudo países emergentes, como o Brasil”, afirma Feldman.