Tabata Amaral cobra PSDB e vê traição
Pré-candidata mantém oferta de vaga de vice para romper isolamento; PSB avisou a tucanos que retirará apoio em outras capitais se partido descumprir acordo em SP e oficializar Datena
- Data: 05/07/2024 09:07
- Alterado: 05/07/2024 09:07
- Autor: Redação
- Fonte: Joelmir Tavares/Folhapress
Tabata Amaral (PSB)
Crédito:Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A pré-candidata Tabata Amaral (PSB) subiu o tom na relação com o PSDB e reagiu ao lançamento da pré-candidatura de José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo, contrariada com o que considera descumprimento no acordo para que os tucanos indicassem o apresentador para ser vice dela.
Em operação acompanhada pela deputada federal, o PSB avisou ao PSDB que, se não receber a adesão do partido na capital paulista, vai retirar o apoio a candidatos tucanos em duas capitais onde já estavam costuradas alianças, Campo Grande e Vitória, e interromper conversas em Florianópolis.
Tabata tem evitado comentar a decisão dos tucanos de lançarem Datena candidato a prefeito, depois que ela articulou a migração do jornalista, até então filiado ao PSB, para ser o vice em sua chapa.
Aliados da deputada enxergaram quebra de acordo.
Há relatos de que ela usou os termos traição e desrespeito, em conversas privadas, embora frise manter o interesse na composição com os tucanos, o que poderia atenuar a imagem de isolamento e impulsionar sua campanha. Procurada, a assessoria dela não comentou.
A convenção do PSB foi confirmada para o dia 27 de julho. Já a data do evento do PSDB para formalizar a posição na eleição municipal ainda não foi divulgada. As convenções têm que ocorrer de 20 de julho a 5 de agosto, e o prazo para o registro das candidaturas se encerra em 15 de agosto.
Os tucanos só discutirão o apoio a Tabata se Datena desistir da candidatura, o que ele já fez em outras eleições. Também está colocada a opção de se unir ao projeto de reeleição de Ricardo Nunes (MDB), ideia defendida por parte dos filiados, mas vetada em votação da executiva em março.
A pré-campanha da deputada avalia a adoção da reciprocidade menos como uma retaliação ao PSDB e mais como um ultimato. Tabata quer que líderes do partido se comprometam publicamente com o que sinalizam nos bastidores – que estarão com ela caso a candidatura de Datena não se confirme.
As negociações até aqui se desenrolaram tanto com o presidente municipal do PSDB, José Aníbal, quanto na esfera nacional, com o presidente Marconi Perillo e o deputado federal Aécio Neves (MG), que tem influência no comando e vocaliza a ideia de renascimento da legenda após derrotas em série.
A leitura do grupo de Tabata é que o partido vinha tratando a aliança como uma questão local e era importante sinalizar que está em jogo uma relação nacional. O objetivo é colocar um prazo para o PSDB anunciar sua posição, o que passa também pelo Cidadania, com o qual forma federação.
Outra fonte de irritação na pré-campanha da parlamentar foi o rumor de que tucanos fariam um convite para ela ser vice de Datena. A proposta não foi feita, mas será prontamente rechaçada se ocorrer. Interlocutores da pré-candidata dizem que isso seria descabido e acintoso.
Aníbal declarou em entrevistas nos últimos dias que não acha que Tabata se sinta traída após a mudança de rota e que oferecer a vaga de vice a ela “não é algo que esteja na ordem do dia” dos tucanos. Reforçou, contudo, ter interesse em algum “entendimento” com a deputada. O discurso dele e de Datena é que há convergências com a adversária, mas é preciso respeitar as escolhas dela e do partido.
Uma aliança com o PSDB favoreceria Tabata na divisão do tempo de propaganda em TV e rádio, além de emprestar à candidatura a imagem de um partido que já governou a cidade e dispõe de quadros com experiência. Ela tem nomes ligados ao tucanato na equipe que formula o programa de governo.
Auxiliares da deputada trabalham com a hipótese de que Datena acabará recuando, o que tem sido desmentido pelo PSDB e endossado pelo apresentador, que se afastou de seu programa na Band no último fim de semana, dentro do prazo exigido pela legislação.
Sem o jornalista, são citados como nomes que poderiam ser indicados para vice de Tabata o ex-vereador Mario Covas Neto, conhecido como Zuzinha, o ex-deputado Ricardo Trípoli e Aníbal, que é ex-senador.
Se tiver que ir com uma chapa puro-sangue, a deputada considera sondar no PSB Lúcia França, que foi candidata a vice de Fernando Haddad (PT) na eleição para o governo paulista em 2022, e Lu Alckmin, esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), entusiasmado apoiador da candidatura. Outra opção mencionada é o ex-secretário Floriano Pesaro, hoje em cargo vinculado a Alckmin no governo federal.
Outros partidos, como Podemos, Avante, Solidariedade, Republicanos e União Brasil, foram procurados por emissários da deputada, mas devem mesmo integrar a coligação de Nunes.
Desalojada da terceira posição nas pesquisas após a entrada de Datena e de Pablo Marçal (PRTB) no páreo, Tabata está empenhada em afastar insinuações de que aceitaria ser vice e até de que desistiria. Ela tem a promessa do PSB de que sua campanha será uma das que receberão mais recursos.
Para dissipar o risco de desânimo entre militantes e apoiadores, a deputada compartilha sondagens contratadas pelo partido segundo as quais ela se mantém competitiva. O maior obstáculo continua sendo sua alta taxa de desconhecimento, mas há evidências de que ela tem eleitores convictos.
A estratégia para se tornar conhecida é aproveitar entrevistas e investir nas redes sociais. Postagens em que respondeu a provocações de Marçal contribuíram, segundo diagnóstico da pré-campanha, para a postulante “furar a bolha” e aparecer para eleitores que não a seguem.
A deputada trocou de marqueteiro e, no lugar de Pablo Nobel, colocou Pedro Simões, que estabeleceu o universo digital como prioridade. Além da aposta de que o debate neste ano será fortemente guiado pelas redes, a decisão ajuda a compensar a fatia reduzida que ela deverá ter no horário eleitoral.
Em outra frente, Tabata quer manter as críticas a Nunes e à atual gestão e, numa linha propositiva, tentar conquistar eleitores de Boulos. A ideia não é atacar o pré-candidato apoiado pelo presidente Lula (PT), mas buscar simpatizantes dele que apontam a deputada como sua segunda opção de voto.
A pré-candidata disse na semana passada ao podcast RivoTalks que tem “um sonho e um propósito muito grande de ser prefeita de São Paulo por oito anos” e é movida por isso. “E acredito que, independentemente do que acontecer nesta próxima eleição, é isso que vai continuar me movendo.”