Lula diz que as mesmas pessoas que falam em corte de gasto são as que têm isenção
Em entrevista, presidente também disse que é contra taxação de blusinhas, mas que fez acordo com Haddad
- Data: 18/06/2024 12:06
- Alterado: 18/06/2024 12:06
- Autor: Redação
- Fonte: Marianna Holanda e Mariana Brasil/Folhapress
Presidente Lula (PT)
Crédito:Ricardo Stuckert/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (18) que as pessoas que falam em corte de gasto são as mesmas que têm isenção.
O chefe do Executivo disse ainda, em entrevista à CBN, que quer discutir com empresários e parlamentares uma solução para a desoneração da folha de 17 setores, após a devolução da MP do Pis/Cofins. Mas completou: “Não me venha falar de ajuste em cima das pessoas mais humildes deste país”.
Lula criticou ainda a taxação das compras internacionais de até US$ 50, a chamada “taxa das blusinhas”, mas disse que vai sancionar a proposta, “pela unidade do Congresso, do governo”.
“O que me deixa preocupado é que as mesmas pessoas que falam que precisam parar de gastar, são as pessoas que têm R$ 546 bilhões de isenção, de desoneração na folha de pagamento, isenção fiscal. Ou seja, são os ricos que se apoderam de uma parte do orçamento do país. E eles se queixam daquilo que você está gastando com o povo pobre”, afirmou.
A declaração ocorre na esteira de queda da Bolsa de Valores e alta do dólar na semana passada, enquanto investidores pressionam por corte de gastos no governo e temem enfraquecimento do ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Lula cobrou de empresários contrapartidas pela lei que prorrogou a desoneração da folha de 17 setores e cortou a alíquota previdenciária de prefeituras, algo que ele havia vetado, mas o Congresso derrubou.
“Acabamos de aprovar uma desoneração para 17 setores da indústria brasileira. Qual é a contrapartida que esse setor está dando para o trabalhador? Qual é a estabilidade no emprego que ele garante, qual o aumento de salário? Nenhuma”, disse.
“Apenas pega a isenção fiscal, não tem nenhum compromisso com o trabalhador, apenas em aumentar o lucro e acham que isso é normal. Nós não achamos, e eu estou disposto a fazer essa discussão com os empresários em qualquer lugar para que a gente coloque as verdades em cima da mesa e a gente saiba quem é que está gastando”, completou.
O benefício da desoneração da folha foi criado em 2011, no governo Dilma Rousseff (PT), e prorrogado sucessivas vezes. A medida permite o pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários para a Previdência.
A desoneração vale para 17 setores da economia. Entre eles está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha de S.Paulo. Também são contemplados os segmentos de calçados, call center, confecção e vestuário, construção civil, empresas de construção e obras de infraestrutura, entre outros. A prorrogação do benefício até o fim de 2027.
Em outra frente, Lula admitiu também preocupação com o crescimento dos gastos com a previdência social. Mas disse que é preciso “consertar” dos dois lados, tanto crescimento de despesas, quanto da desoneração.
Questionado se está descartada a desvinculação da Previdência do salário mínimo ou mudança nos pisos de saúde e educação e na Previdência dos militares, Lula disse que nada está descartado.
“Eu sou um político muito pragmático. Na hora que as pessoas que me mostrarem as provas contundentes de que coisas estão equivocadas ou estão erradas, a gente vai mudar”, afirmou, sem maiores detalhes.
Essas medidas vinham sendo estudadas pela equipe econômica, mas foram alvo de críticas mesmo dentro do governo e da base política do governo no Congresso. O PT, partido do presidente, soltou nota em defesa desses temas na segunda-feira (17).
“Temos quase R$ 1 trilhão com a Previdência Social. É muito. Agora, se tem muita gente para se aposentar vai sempre aumentar. O que é muito é você ter quase R$ 600 bilhões de isenção, R$ 400 bilhões de desoneração. Isso não é possível, é preciso a gente consertar, e consertar dos dois lados”
Ainda na toada das críticas, o presidente se queixou da taxação das compras internacionais de até US$ 50, a chamada “taxa das blusinhas”, do comportamento do empresariado neste tema e na aprovação da medida pelo Congresso. Ainda assim, contudo, disse que vai manter o acordo de sancionar a medida, que já está no Palácio do Planalto.
“Por que taxar um pobre e não taxar o cara que vai no freeshop gastar US$ 1.000? É uma questão de consideração com o povo mais humilde desse país. Gastar US$ 50 e pagar imposto e o cara que gasta US$ 2.000 não paga”, disse.
“Vetei, depois houve tentativa de algum acordo e assumi compromisso com Haddad que aceitaria botar PIS/Cofins de 20%, isso tá garantido. Estou fazendo isso pela unidade do Congresso, governo e pessoas que queriam. Eu, pessoalmente, acho equivocado a gente taxar pessoas humildes”, completou.
Ele disse ainda que ficou “profundamente irritado” com o fato de a proposta ter entrado como “jabuti” – quando algo é colocado dentro de um projeto que não tem a ver com a sua temática original – no projeto do Mover, que cria um programa para incentivar a descarbonização de carros.
A isenção de imposto de importação beneficia lojas online conhecidas, como Shopee e Shein. Hoje, os produtos de até US$ 50 vendidos nesses sites já são taxados pelo ICMS, que é estadual e tem alíquotas que variam entre 17% e 19%.
Para os produtos mais baratos, a taxa de importação será de 20% sobre o valor, conforme o projeto aprovado nesta terça. Para itens acima de US$ 50, o imposto previsto é de 60%, mas também foi criada uma faixa intermediária, entre US$ 50 e US$ 3 mil, que terá um desconto de US$ 20 na taxação.