Abrigos de animais no RS sofrem com queda de voluntários, doença e exaustão

Pessoas na linha de frente dos cuidados relatam dificuldade de comunicação com poder público e medo de colapso

  • Data: 11/06/2024 13:06
  • Alterado: 11/06/2024 13:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Isabella Menon/Folhapress
Abrigos de animais no RS sofrem com queda de voluntários, doença e exaustão

Crédito:Rafa Neddermeyer -Agência Brasil

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Mais de 40 dias após o início das fortes chuvas que causaram a mortes e devastação, a queda de voluntários é uma realidade nos abrigos de animais do Rio Grande do Sul.

Em meio à tragédia climática, mais de 12,5 mil bichos foram resgatados em todo o estado. Nos locais que se dedicam a cuidar dos animais, a queda brusca de ajuda foi sentida, o que sobrecarrega os remanescentes. O grupo também critica a ausência do poder público.

A Folha esteve, nesta segunda-feira (10), em três locais que cuidam de cachorros e gatos resgatados em enchentes, dois em Porto Alegre e um em São Leopoldo, a 35 km da capital.

Em supermercado, estacionamento de shopping ou brigada militar, os voluntários encontraram soluções para separar recém-nascidos daqueles mais bravos, deixar idosos e medrosos em salas diferentes e isolar cães com cinomose, infecção viral canina, muito contagiosa. Ela estava presente em todos os locais visitados.

Na linha de frente, os remanescentes categorizam a tragédia em três fases: a primeira a corrida pelo resgate dos animais; a segunda foi a onda de leptospirose; e, agora, a terceira é marcada por um surto de cinomose. Por isso, a atenção é voltada para isolar os bichos e evitar que o problema se espalhe.

Além dos focos de doenças, a rotina envolve o planejamento de alimentação, passeios, limpeza, remédios e entrevistas com os interessados em adotar os bichinhos.

“Estamos colapsando”, diz a bióloga Camila Timm Wood, 38, voluntária do abrigo Centro Vida, na zona norte de Porto Alegre, que acolhe mais de 400 cachorros e 80 gatos.

Ela calcula que o local já teve 50 voluntários por turno e hoje há turnos com apenas duas pessoas – o local conta com veterinários contratados pela prefeitura de Porto Alegre que se revezam, além de funcionários responsáveis pela limpeza.

“A gente passa 80 horas por semana aqui tranquilamente”, diz. Ela relata que está cada vez mais difícil conseguir reforço tanto pela queda na comoção sobre tragédia quanto pelo fato de a maioria da população ter voltado ao trabalho.

“Aqui só está funcionando por doação da sociedade tanto em termos de pessoas quanto material”, diz ela.

Em sua visão, o número de funcionários da prefeitura que atuam no local é muito baixo comparado com a quantidade de trabalho. “Somos uma organização voluntária. Quem sou eu para colocar regra? A gente não tem cultura de voluntariado, o pessoal chega, quer fazer as coisas do próprio jeito. Precisamos de um respaldo do poder público que dite as regras”, afirma ela.

Camila calcula que já teve dia que o local recebeu mais de 50 animais. “Fazemos um milagre por dia.”

A voluntária Gabriela Reinehr de Oliveira, 22, que também atua no Centro Vida, relata que já passou mais de dois dias no abrigo sem voltar para casa.

Ela, que estuda para ingressar na faculdade, afirma que, quando os voluntários solicitam ajuda para a gestão municipal, recebem várias promessas, mas nada é resolvido. “Estamos completamente sobrecarregados e pedindo socorro.”

A reportagem questionou a Prefeitura de Porto Alegre, mas a gestão municipal não retornou até a publicação desta reportagem.

O servidor público Fernando Antunes comanda o Santuário Voz Animal, que há 14 anos trabalha com resgate de animais. Hoje, o projeto lidera dois abrigos localizados em shoppings, um no Iguatemi, com 130 cachorros, e outro no Pontal, que serve como um hospital de campanha.

No subsolo do shopping Pontal, o local é isolado por lonas estampadas com desenhos de crianças.

Antunes resume a situação atual como preocupante e também lamenta a falta de resposta da prefeitura. Atualmente, o abrigo tenta evitar um surto de cinomose e criou alas para que os cachorros contaminados fiquem separados dos sadios.

“Nos prometeram teste de cinomose, mas até agora não recebemos nada. Também pedimos um centro só para os animais que foram positivados, e [até agora] nada”, diz. Ele que calcula que, desde o início das chuvas, já passaram pelos abrigos ao menos mil animais.

A queda de voluntários impacta o dia a dia do local, e isso se reflete na queda da qualidade de vida dos animais que estão em situação de estresse.

“Quem fica é quem já trabalhava com a causa animal antes”, afirma ele. Além dos voluntários, também foi sentida a queda nas doações. Hoje, o projeto acumula ao menos R$ 20 mil de dívidas com clínicas que tratam dos animais que precisam de cirurgias.

Em São Leopoldo, apesar de mais funcionários contratados comparado com os dois abrigos de Porto Alegre, voluntários relatam que falta mão de obra – principalmente na parte da noite.

A reportagem também encaminhou questionamentos para a Prefeitura de São Leopoldo, que não comentou.

O abrigo funciona em um supermercado desativado que foi improvisado para ser o lar de mais de 500 animais. Por lá, corredores de comida hoje são a casa dos cachorros. Geladeiras antigas são mantidas com garrafas de água.

Há sala para os animais com doenças mais sérias, quartos para fêmeas que deram a luz e também carrinhos de supermercado adaptados como “Uber Dog”, para tirar um cachorro para passear sem elevar o ânimo dos demais.

A fim de manter a organização, voluntários adaptaram suas rotinas. Pedro Leonhard, 22, e a namorada Tayane Mazzarino, 22, cuidam dos gatos e vão ao abrigo depois do trabalho, no início da noite, e ficam até de madrugada após medicar e cuidar dos bichinhos.

Eles relatam que, além da vontade de ajudar, acabaram desenvolvendo uma certa ansiedade com medo dos animais passarem necessidade. “Estou no limite. Na quarta-feira é Dia dos Namorados, mas a gente combinou que, depois do jantar, vem para cá.”

Já Arielli Schneider, 28, costuma implorar pelas redes sociais para que amigos e seguidores compareçam no local para ajudar na alimentação dos bichos. Ela também compartilha da culpa quando não está no abrigo.

“A gente se sente culpado por mais que saiba que não é nossa culpa”, diz ela. “Quando vou para casa, fico mal e com medo de não ter ninguém aqui. Não tem segurança para que a gente fique em casa.”

PARA AJUDAR

Abrigo Big Carrefour

Informações sobre voluntariado na página do Instagram @abrigobigcarrefour

Centro Vida

Chave PIX: [email protected]

Santuário Voz Animal

Chave PIX: [email protected]

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  • Data: 11/06/2024 01:06
  • Alterado:11/06/2024 13:06
  • Autor: Redação
  • Fonte: Isabella Menon/Folhapress









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