Eventos climáticos extremos impõem às cidades aumento da capacidade de gestão e medidas de adaptação urgentes
Exemplo da dimensão do desastre nas cidades gaúchas deve servir de base para as novas formas de planejar e pensar as cidades
- Data: 23/05/2024 17:05
- Alterado: 27/05/2024 09:05
- Autor: Débora Diogo/ABCdoABC
- Fonte: Débora Diogo
Crédito:Reprodução
As cidades são, ao mesmo tempo, o lugar onde há mais vulnerabilidades diante das mudanças climáticas e também representam onde podem começar as transformações necessárias, para melhor adaptação e proteção aos eventos extremos e desastres.
Grande parte das cidades brasileiras apresenta problemas socioambientais, padrões de desenvolvimento e transformação do espaço desiguais, urbanização de fundos de vales, canalização de rios e córregos, alta densidade demográfica, escassez de áreas verdes, impermeabilização do solo, ocupações em áreas de preservação permanente (APPs).
Desse modo, as medidas para promover a adaptação às mudanças climáticas devem ser gerenciadas por meio de uma governança que inclua os três níveis da federação, exigindo estratégias complementares e sinérgicas dos governos federal, estaduais e municipais.
Isto significa que para definição de medidas eficazes de adaptação também é necessária uma governança vertical. Além de afetarem setores, o impacto da mudança do clima também tem uma natureza territorial bastante enunciada, em que seus efeitos vão variar de acordo com as características ambientais e sociais do território sobre as quais incidem.
O gráfico demonstra que a população mundial está cada vez mais urbana e isso aumenta ainda mais a atenção para a importância da gestão das cidades!
É importante perceber que as ameaças são naturais, os desastres não!
As mudanças climáticas se sobrepõem à vulnerabilidade histórica das cidades, causadas tanto pela desigualdade socioeconômica e ambiental como pelo modelo de construção de um espaço urbano que impermeabiliza as várzeas e ocupa áreas que deveriam permanecer protegidas, promovendo as áreas de risco.
A população mais pobre é a mais vulnerável e exposta aos riscos ampliados pelas mudanças climáticas, o que cria um ciclo perverso de intensificação da pobreza e aumento das desigualdades. A ausência de condições socioeconômicas e de preparo para enfrentar os impactos dos fenômenos climáticos expõem essas pessoas à morte, doenças, aumento da fome, perdas de seus bens (móveis, moradias) além da eliminação dos seus meios de produção e de fontes de renda, dificultando ainda mais seu acesso aos serviços públicos.
O aumento da capacidade adaptativa da cidade, para fazer frente aos impactos da mudança do clima, implica atuar na diminuição das causas de suas vulnerabilidades, reduzindo a pobreza e o déficit habitacional e preparando a população para saber como agir em situações de emergência climática, ampliação do sistema de monitoramento climático para o envio de alerta preventivos, preparo de abrigos e refúgios, formação de quadros de servidores públicos para atuar na assistência humanitária e das empresas e entidades para participarem das ações.
Estamos vivendo uma verdadeira Era da emergência Climática e precisamos agir!
Se as emissões provenientes dos gases que causam o efeito estufa continuarem dentro das tendências atuais, o aquecimento global vai aumentar, podendo chegar a 4,8ºC até 2100, os efeitos negativos se multiplicarão e perturbarão todos os componentes do sistema climático, com graves repercussões sobre o bem-estar da humanidade e de todas as outras formas de vida. As chuvas já estão mais irregulares e os episódios como altas temperaturas, ondas de calor e secas estão mais frequentes e intensos, agravando a nossa condição de vida e a de todos os seres vivos da Terra.
Foto Gustavo Mansur/ Palácio Piratini. Porto Alegre 22/05/24, prefeitura e moradores limpam ruas, lojas e residências atingidas pelas inundações.
As cidades têm papel importante para redução dos gases de efeito estufa, porque várias das ações necessárias são de atribuição do poder municipal, como transporte e trânsito, planejamento territorial, gestão dos resíduos sólidos, além da redução do desmatamento e mudança do uso da terra, mais ligadas a estados e governo federal, mas que podem e devem ser feitas pelos municípios.
Algumas medidas possíveis são: melhorar o planejamento urbano, promover o uso de energias renováveis, incentivar o transporte público e a mobilidade ativa, aumentar a eficiência energética dos edifícios, preservar e ampliar as áreas verdes, pagamento por serviços ambientais, entre outras.
Essas medidas podem trazer benefícios não só para o clima, mas também para a saúde, o bem-estar e o desenvolvimento sustentável das cidades.
Apesar de toda a discussão sobre mudança climática, existe ainda muita dificuldade de implantação das medidas de adaptação. Um dos motivos é que a adaptação está estreitamente ligada com a vida, o uso dos recursos, a infraestrutura local de cada cidade/país.
O poder público deverá estabelecer a obrigatoriedade de avaliação da dimensão climática nos processos decisórios referentes às políticas públicas e para que as cidades brasileiras se tornem mais seguras e resilientes é preciso que adotem uma gestão mais sustentável, com políticas públicas que garantam a articulação entre desenvolvimento urbano com as ações de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas.
Para saber mais acompanhe a elaboração do novo Plano Clima a ser lançado pelo Governo Federal.