Metade dos matriculados na Unicamp em 2024 são oriundos do ensino médio público
Os dados dos estudantes vindos da rede pública apontam para uma consolidação, quando se observa o percentual obtido nos últimos anos
- Data: 25/04/2024 11:04
- Alterado: 25/04/2024 11:04
- Autor: Redação
- Fonte: Governo de SP
Crédito:Governo de SP
O percentual de estudantes que cursaram o ensino médio na rede pública e que se matricularam na Unicamp este ano passou de 50,1% (1.776 estudantes), em 2023, para 50,8%, em 2024, um total de 1.787 estudantes dos 3.516 ingressantes deste ano. O índice considera os matriculados em todas as modalidades de ingresso: Vestibular Unicamp, Enem-Unicamp, ProFis, Vestibular Indígena e Vagas Olímpicas.
Os dados vieram da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp, que divulgou o balanço sobre os índices de inclusão social obtidos nas diferentes modalidades de ingresso nos cursos de graduação da Universidade. O percentual de estudantes pretos e pardos matriculados também subiu ligeiramente, passando de 30% (1.019 matriculados), em 2023, para 30,5%, em 2024, ou seja 1.071 estudantes, considerando todas as modalidades.
Segundo a Comvest, os dados sobre os estudantes oriundos da rede pública apontam para uma consolidação, quando se observa o percentual obtido nos últimos anos: em 2022, o índice foi de 45,7% do total de matriculados; em 2021, de 47,5%; em 2020, de 45,4%; e, em 2019, o índice foi de 47,9%.
O diretor da comissão, José Alves de Freitas Neto, avaliou os índices como um reflexo das medidas adotadas nos últimos anos pela Unicamp, tais como adequação das provas e inclusão de novas formas de seleção, a exemplo do Provão Paulista, lançado pelo governo do Estado de São Paulo em 2023 e que oferece 315 vagas na Unicamp.
“O cenário das nossas politicas de inclusão mostrou uma estabilidade desejável, a partir das políticas adotadas pela Unicamp nos últimos anos. Passada a pandemia, observamos que há, em relação aos matriculados de escola pública, um índice um pouco maior que nos anos anteriores, de 50%, que é a meta da Universidade”, disse Freitas Neto.
Ainda de acordo com o balanço divulgado pela Comvest, entre os candidatos isentos do pagamento da taxa de inscrição, que apresentam um perfil de vulnerabilidade socioeconômica, o índice de matriculados ficou em 14%contra 14,7% no ano anterior. O percentual considera as modalidades Vestibular Unicamp e Enem-Unicamp, para as quais é concedida a isenção da taxa, de acordo com o perfil dos estudantes. Nas modalidades Vagas Olímpicas, Vestibular Indígena e ProFis, as inscrições são gratuitas.
A estudante Maria Vitória Ramos Vieira, de 18 anos, cursou escola pública e foi aprovada na Unicamp neste ano, para o curso de Administração Pública, ministrado na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Ela falou sobre a desvantagem dos alunos da rede pública no momento de preparação para os exames vestibulares.
“Nós sofremos para nos preparar diante da desvantagem em relação a estudantes de escolas particulares, que têm acesso a outras oportunidades, muitas vezes não disponíveis para nós. Acredito que, sem as políticas de ação afirmativa, o acesso à universidade pública não chegaria para todos. Por isso, esse índice de 50% de estudantes de escolas públicas na Unicamp é, para mim, um marco, um avanço e uma oportunidade que no futuro vai ser devolvido ao nosso país”, disse a estudante.
De acordo com Freitas Neto, as politicas de ação afirmativa são importantes para corrigir disparidades como, por exemplo, a proporção de estudantes do ensino médio matriculados em escolas públicas e particulares. “Apenas 15% dos estudantes estão em escolas particulares e os outros 85%, em escolas públicas, percentual que não se reflete nas universidades públicas. A disparidade e a diferença entre as escolas tornam a concorrência desfavorável para os estudantes da rede publica. Por isso é fundamental que a universidade pense políticas de ação afirmativa quanto ao ingresso”, defendeu.
Projeto Cria Unicamp
Nesse sentido, para interagir e contribuir com a preparação dos estudantes de ensino médio, a Comvest lançou, de maneira inédita, em 2023, um projeto batizado Cria Unicamp. O evento, feito de palestras e aulas gratuitas, ocorre aos sábados, na sede da comissão, no campus de Campinas. Em 2023, o Cria Unicamp alcançou um público de 1.310 estudantes, em um total de nove encontros, entre os meses de abril e outubro. Um dos resultados comemorados pela Comvest é que 112 estudantes inscritos no Cria no ano passado conseguiram ingressar na Unicamp em 2024, sendo 42% deles vindos de escolas públicas.
Para este ano, estão previstas quatro edições do projeto. Os dois primeiros encontros aconteceram em abril e reuniram cerca de 400 estudantes. As aulas abordaram dois dos livros cuja leitura será exigida no Vestibular Unicamp 2025: A vida não é útil, de Ailton Krenak, e Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu.
As inscrições são realizadas pela página eletrônica da Comvest, e podem participar do projeto estudantes regularmente matriculados no ensino médio de escolas públicas e particulares da Região Metropolitana de Campinas (RMC), além das de Limeira e Piracicaba. Das 250 vagas, metade fica com alunos da rede particular de ensino e metade, com alunos da rede pública.
A estudante recentemente aprovada no curso de Administração Pública acompanhou o projeto e esteve presente em quase todas as edições realizadas em 2023. Segundo ela, a iniciativa ajudou em sua preparação. “Como eu estudava em uma escola pública de período integral, a fim de me preparar para o vestibular, eu tive que abrir mão de várias coisas, inclusive dos sábados, quando vinha participar do Cria. Apesar de cansada, tentei manter uma rotina de estudos, sempre pensando no resultado desejado e hoje sou muito grata por ser aluna da Unicamp”, disse.
Visando incentivar um número maior de estudantes a participar do projeto e se dedicar à preparação para o Vestibular, alguns dos aprovados matriculados na Unicamp em 2024, como a agora estudante de Administração Pública, foram convidados pela Comvest para dar as boas-vindas no evento de estreia do projeto Cria, realizado no início de abril. Eles falaram sobre sua experiência e sobre como tem sido o início da vida acadêmica na Universidade.
O projeto conta com a colaboração da Secretaria Executiva de Comunicação (SEC) da Unicamp, que realiza a gravação de todas as aulas e disponibiliza o conteúdo pelo canal do YouTube da Universidade. Assim, as palestras ficam sempre disponíveis e podem ser vistas, entre outros, pelos estudantes que não conseguiram participar dos encontros presenciais.
Retrospectiva
No ano passado, o primeiro evento aconteceu em abril, com aulas sobre o livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, e sobre biologia. No segundo encontro, a obra escolhida foi Niketche – Uma História de Poligamia, Paulina Chiziane, e a disciplina, geografia. No terceiro Cria, foi a vez da disciplina de matemática e do livro Seminário dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles. O quarto encontro tratou da química e o livro Olhos D’Água, de Conceição Evaristo.
No evento do dia 12 de agosto, os palestrantes falaram sobre física e a obra O Ateneu, de Raul Pompeia. A aula do Cria de 26 de agostoabordou a obra Tarde, de Olavo Bilac, e a disciplina de língua portuguesa. Em 16 de setembro, falou-se sobre o estudo da história e a obra Casa Velha, de Machado de Assis. Na edição de 30 de setembro, foi a vez de inglês e da obra Carta de Achamento a el-rei D. Manuel, de Pero Vaz de Caminha. O evento de encerramento ocorreu em outubro, no Teatro de Arena da Unicamp, e tratou da obra do compositor Cartola.