Olimpíadas: Paris 2024 terá surfe no mar dos ‘crânios quebrados’
O surfe olímpico este ano não acontece na Europa, e sim na Polinésia Francesa
- Data: 12/03/2024 12:03
- Alterado: 12/03/2024 12:03
- Autor: Redação
- Fonte: Uol/Folhapress/BEATRIZ CESARINI
Time Brasil enfrentará ondas perigosas no Tahiti durante as Olimpíadas de 2024
Crédito:ISA/Sean Evans
A competição de surfe das Olimpíadas de Paris não será disputada na capital da França, mas sim na praia de Teahupoo, no Taiti. O lugar que está na Polinésia Francesa é conhecido como o mar dos “crânios quebrados”, expressão que teve origem graças aos povos originários, mas acabou ficando popular por causa das ondas temidas e desafiadoras.
Teahupoo é diferente, porque a onda começa a se formar em uma fossa abissal — área profunda do oceano — e passa rapidamente para as águas rasas, sem perder força, até quebrar sobre uma bancada de corais venenosos. A combinação forma ondas incríveis, porém muito perigosas.
A reportagem conversou com alguns atletas especialistas em desbravar o mar de Teahupoo para entender os riscos que os surfistas que estarão nas Olimpíadas podem correr.
“A onda de Teahupoo tem como característica principal o tubo. É extremamente perigosa, também, por causa da força e da bancada de coral, que é muito rasa e afiada. É o que nós chamamos de onda de consequência”, explicou Bruninho Santos, o primeiro atleta brasileiro a vencer uma etapa do Circuito Mundial no Taiti, em 2008.
Apesar de confiar em todo o esquema de segurança especial que é montado durante as competições em Teahupoo, o presidente da CBSurf Teco Padaratz tem reticências com o local escolhido para as Olimpíadas. A apreensão do também surfista é com os atletas que não estão acostumados a pegar a temida onda do Taiti.
“É um lugar extremamente perigoso. Os surfistas que nesta terça-feira (12) competem por lá estão acostumados. Eles vêm de um treinamento crescente. A minha maior preocupação é com os surfistas que vão surfar talvez pela primeira vez essa onda, surfistas que se classificaram em outras condições de mar e de repente vão ter que encarar aquela onda”, comentou Teco, que já viu seu irmão Neco quase morrer afogado em 2000 ao ficar preso nos corais de Teahupoo.
Neco tomou uma onda na cabeça e foi arrastado para as fendas dos corais. Suas pernas e a cordinha da prancha ficaram presas na barreira e ele só conseguiu se soltar e ser, então, resgatado após minutos desesperadores embaixo da água.
“A maioria das pessoas não têm ciência do quão bem planejado é o esquema de segurança para o campeonato em Teahupoo hoje em dia. Indiferente de ser um Mundial ou Olimpíada. O que me preocupa é realmente o lado psicológico e a experiência de vários atletas. Eu competi muitas vezes e a gente sabe que no Taiti a gente sempre sai arranhado, sempre vai levar um cortezinho para casa. Você vê sangue com facilidade e isso talvez não seja muito positivo para o espírito olímpico”, disse Teco.
“Eu tenho certeza que a segurança preparada para esse evento não vai deixar algo mais sério acontecer. Agora, que a gente vai protagonizar, a gente vai assistir a cenas difíceis, cenas impactantes, isso a gente vai, porque o mar de Teahupoo é um mar assustador. É perfeito, parece um desenho de um quadro, mas tem uma onda muito pesada”, complementou o presidente da CBSurf.
Desbravador das ondas de Teahupoo, o potiguar Jadson André tem a mesma preocupação de Teco. Alguns dos surfistas classificados para as Olimpíadas conseguiram a vaga por critérios de universalidade, mas nunca tiveram tempo de treino e competição em Teahupoo.
“Vai ter muita gente que, dependendo das condições, não vai conseguir surfar, não vai conseguir nem pegar onda, porque ela exige muito. É uma onda muito delicada, perigosa e exige muita experiência. Por ser Olimpíadas, terão alguns atletas que vêm de países que não têm tanta tradição no surfe e não tenham performance alta, mas pela nacionalidade conseguiram a vaga. Esses podem passar por dificuldades. Até os mais preparados às vezes não conseguem surfar, então imagina pessoas que não têm tanta experiência. Mas acho que vai ser um evento muito interessante de assistir”, analisou Jadson.
Em maio de 2014, Jadson caiu quando surfava no mar da Polinésia Francesa, foi arremessado pela onda, bateu a cabeça na bancada de corais e chegou a desmaiar. O brasileiro foi resgatado rapidamente pelo jet-ski de segurança e não sofreu graves consequências.
“Não existe onda que se compare a Teahupoo. Na minha opinião, é a onda mais perigosa do mundo, tanto que a tradução de Teahupoo é ‘quebra-crânios’, é uma onda muito forte, muito poderosa, que quebra numa bancada muito rasa e só quem já surfou lá, só quem já foi lá sabe do que eu estou falando. Em todas as condições você está em perigo constante”, completou o surfista, que crê na “Brazilian Storm” como candidata às medalhas olímpicas.
Em Paris, o Brasil será representado por seis surfistas: Tati Weston-Webb, Tainá Hinckel e Luana Silva, no feminino, e entre os homens Filipe Toledo, João Chianca e Gabriel Medina, que é considerado um dos maiores especialistas nas ondas de Teahupoo.