CPT-SESC lança nova coleção digital do acervo histórico de“Drácula e Outros Vampiros”
Inspirada no romance “Drácula” (1897), do escritor irlandês Bram Stoker, a montagem de 2016 teve direção geral de Antunes Filho
- Data: 21/02/2024 20:02
- Alterado: 21/02/2024 20:02
- Autor: Redação
- Fonte: Secom-SESC
Crédito:Bob Sousa
A partir de 21 de fevereiro (quarta-feira), o acervo do espetáculo teatral “Drácula e Outros Vampiros” (2016) passa a integrar as Coleções e Acervos Históricos do CPT_SESC, realizado pelo Sesc Memórias, na plataforma do Sesc Digital.
Composta por fotos dos figurinos – feitas por Bob Sousa, após trabalho de higienização e reparos dos itens realizado pelo Sesc Memórias –, além de fotos de cena e peças gráficas, a 20ª Coleção da série conta ainda com trechos de entrevistas do sonoplasta Raul Teixeira e de Emerson Danesi, que foi ator, produtor e diretor no Centro de Pesquisa Teatral (CPT). O conteúdo é ilustrado com trechos do espetáculo.
Drácula e Outros Vampiros é uma obra que se enquadra como continuidade dos ensaios de Antunes Filho em torno da sinergia do Mal. A temática, iniciada em Nova Velha Estória, Trono de Sangue e Vereda da Salvação, revelou a progressiva decantação dos processos criativos do CPT, ao mesmo tempo em que propunha reflexões sobre o Bem e o Mal e a condição humana na última década do século XX. Gilgamesh, ao lado da obra foco da nova coleção, deram sequência ao tema, mas levando-a à poética da Imortalidade e ao mito da Árvore da Vida.
Partindo disso, o espetáculo traz para a cena o Mal em plena atuação, corrompendo o sonho da imortalidade e o canalizando para uma realidade mórbida, delirante. O vampirismo se manifesta na vida cotidiana, por meio dos que sugam a energia alheia e exploram o outro, convertendo-se em sede de poder e levando-a às últimas consequências: torturas, perseguições, genocídios e holocaustos. Esses são os ingredientes para compor essa metáfora aos tiranos e ao radicalismo no poder que marcaram o final do milênio, sob o ponto de vista de um humor cáustico característico de Antunes Filho.
Concepção e referências da obra
O livro Em Busca de Drácula e Outros Vampiros, de Raymond T. MacNally e Radu Florescu, somado a outras referências literárias, como o clássico Drácula de Bram Stoker, teve importância primordial na pesquisa do CPT para a criação do espetáculo. O livro de MacNally e Florescu resgatou a memória de Vlad Tepes, príncipe romeno que se destacou entre tantos fatos hediondos da Idade Média, principalmente por sua crueldade sanguinária, e serviu de inspiração para Stoker na composição do personagem que se tornou símbolo no imaginário popular. Dessas referências, Antunes Filho colheu a matéria-prima para estabelecer o conceito de vampiro que pretendia mostrar, além da estética e ideologia.
Neste espetáculo, inclusive, o encenador voltou a ser o centro do processo criativo. Ao contrário das obras apresentadas antes, desde Nova Velha Estória, cujos movimentos cênicos nasciam dos próprios atores, nesta o diretor é quem os cria, orientando o elenco nas marcações.
Para a concepção cênica, ele recorreu às formas que o vampiro assumiu em diferentes meios expressivos, como filmes, abordagens plástica e literária e histórias em quadrinhos. A mais importante referência, no entanto, vem da “dança macabra” do balé A Mesa Verde, de Kurt Jooss, um dos mais expressivos nomes da dança no século XX. A coreografia gira em torno do poder e da morte, em uma marcha militar que dizima tudo e todos, e inspirou a elaboração cênica de Antunes.
Neste espetáculo, o fonemol, linguagem imaginária que utiliza uma junção de fonemas aleatórios, também está presente. O recurso, que tem o propósito de possibilitar aos atores desenvolverem outras potencialidades da atuação dramática para além do texto falado, aparece em algumas situações, convivendo com o português.
Em relação à direção de arte, a peça reeditou a parceria com o cenógrafo J.C. Serroni. O espaço cênico trouxe uma rica sugestão gótica e os figurinos, que podem ser vistos na nova coleção do Sesc Digital, trazem referências dos desenhos do artista, ilustrador e quadrinista italiano Guido Crepax, da estética nazista, da Ku Klux Klan e de capas de discos de heavy metal.
Para a cenografia, uma novidade no CPT: o uso de maquinaria, com efeitos de luz, para reproduzir raios, fumaça e até elevadores, num cenário robusto, de três andares. A iluminação e os efeitos especiais ficaram a cargo de David de Brito.
A trilha sonora da peça Inclui Black Sabbath, Verdi, música oriental, discurso do Hitler e tangos, com direção de Raul Teixeira, cuja entrevista também compõe os materiais encontrados na plataforma do Sesc São Paulo.
A nova coleção visa promover a história construída pelo encenador Antunes Filho, proporcionando uma imersão nos detalhes e bastidores da produção. Além disso, a difusão do acervo – idealizado com a finalidade de preservar a memória do teatro e da cultura brasileira – pretende contribuir com estudiosos e estudantes de cultura em geral.
Serviço
DRÁCULA E OUTROS VAMPIROS – COLEÇÕES E ACERVOS HISTÓRICOS CPT_SESC
A partir de 21 de fevereiro de 2024
Acervo digital composto de fotos dos figurinos – feitas pelo fotógrafo Bob Sousa, a partir do trabalho de higienização e reparos do acervo realizado pelo Sesc Memórias -, peças gráficas, fotos de cena e entrevistas com o elenco da peça.