Em 2023, Cemaden registrou maior número de ocorrências de desastres no Brasil
Centro também emitiu no ano passado a terceira maior quantidade de alertas de desastres
- Data: 19/01/2024 14:01
- Alterado: 19/01/2024 14:01
- Autor: Redação
- Fonte: MCTI
Crédito:MCTI
O Brasil bateu recorde de ocorrências de desastres hidrológicos e geohidrológicos em 2023. As informações foram divulgadas na quarta-feira (17) pelo tecnologista Rafael Luiz do Centro Nacional de Desastres Naturais, unidade de pesquisa vinculada do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), durante a reunião mensal de avaliação e previsão de impactos de eventos extremos em atividades estratégicas do Brasil.
Foram registrados 1.161 eventos de desastres, sendo 716 associados a eventos hidrológicos, como transbordamento de rios, e 445 de origem geológica, como deslizamentos de terra. O número supera os registros de 2022 e 2020. As ocorrências seguiram o padrão de locais para onde foram enviados os alertas, com concentração nas capitais e regiões metropolitanas. De acordo com o mapa, a maior parte está localizada na faixa leste do país. O número engloba eventos de diferentes magnitudes, sem classificá-los.
Em relação aos alertas de desastres, o Cemaden emitiu um total de 3.425 alertas para os municípios monitorados ao longo do ano passado, sendo 1.813 alertas hidrológicos e 1.612 alertas geohidrológicos. É o terceiro maior quantitativo de emissão de alertas de desastres desde a criação do Centro em 2011.
A instituição monitora ininterruptamente 1.038 municípios, que representam 18,6% das cidades do país e abrangem 55% da população nacional. O trabalho é realizado 24 horas por dia, 7 dias por semana, por profissionais especialistas das áreas de hidrologia, geodinâmica, meteorologia e vulnerabilidades.
A maior parte dos alertas emitidos foi enviada para regiões metropolitanas, ao Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Petrópolis lidera o ranking de municípios, tendo recebido 61 alertas, seguido de São Paulo com 56, e Manaus 49.
“O ano de 2023 foi peculiar em relação ao clima. Em meados do ano, houve uma transição rápida do fenômeno La Niña para o El Niño. Isso ocasionou uma mudança no padrão das chuvas em relação à média histórica. Os índices de chuva registrados em 2023 foram muito superiores no Sul e inferiores no Norte e Nordeste”, avalia a diretora do Cemaden, Regina Alvalá. “A mudança do clima também contribuiu para todo esse processo. O oceano mais quente significa mais vapor de água na atmosfera e, por consequência, provocam chuvas intensas e concentradas”, complementa.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura média global em 2023 ficou 1.45oC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). As temperaturas mais quentes contribuem globalmente para a intensificação de chuvas e enxurradas, intensificação de ciclones extratropicais com potencial destrutivo, mortes e prejuízos econômicos.
Durante a reunião, o Cemaden também apresentou dados que constam do relatório de danos informados do Sistema Integrado de Informações sobre desastres (S2ID), do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), sobre os impactos dos eventos extremos. Foram registradas 132 mortes associadas a eventos relacionados a chuvas, com 9.263 pessoas feridas ou enfermas, e 74 mil desabrigados. No total, 524 mil pessoas ficaram desalojadas. As regiões mais afetadas foram o Sul do país, municípios de regiões metropolitanas das grandes capitais, vale do Maranhão, sudeste do Pará e municípios ribeirinhos do rio Amazonas.
Em termos de danos materiais, o sistema aponta para mais de R$5 bilhões em obras de infraestrutura e instalações públicas e unidade habitacionais. Os prejuízos econômicos informados pelo sistema se aproximam de R$ 25 bilhões, somadas as áreas pública e privada.
Os dados sobre desastres e seus impactos estão entre os itens relatados pelo Brasil à Convenção do Clima pela Comunicação Nacional na componente de impactos, vulnerabilidades e adaptação à mudança do clima.
Fortalecimento das defesas civis – Alvalá lembra que o ano de 2023 ficou marcado por dois grandes desastres: os deslizamentos de terra em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, ocorrido em fevereiro, que provocou 64 mortes; e no Vale do Taquari no Rio Grande do Sul, em setembro, que registrou 53 mortes e segue com 5 pessoas desaparecidas. Ambos estão relacionados com volumes de chuvas expressivos concentrados em poucas horas. Segundo ela, o Cemaden emitiu alertas antecipados, com 48 horas de antecedência para o evento do litoral de São Paulo e com cinco dias para o episódio no Rio Grande do Sul.
Na avaliação da diretora, os números indicam que os alertas ainda esbarram na falta de estruturação das defesas civis municipais para respostas céleres. “Ainda temos um gargalo”, afirma Alvalá. Segundo ela, é muito importante que os municípios fortaleçam as estruturas de defesa civil para que tenham condições de agir preventivamente e atuar rapidamente ante a iminência de um alerta recebido. Planos de contingência, mapeamento das áreas de riscos atualizados, informações sobre as populações mais vulneráveis – se há idosos, pessoas com deficiências, dificuldades de locomoção ou problemas de saúde, entre outros aspectos, a preparação de abrigos, rotas de fuga que considerem as distâncias que precisam ser percorridas são cruciais em ações de respostas. “As pessoas também devem ter conhecimentos sobre percepção de riscos salvaguarda de suas vidas”, afirma.
Diagnóstico e prognóstico de impactos – Há cerca de cinco anos, o Cemaden realiza mensalmente, e em conjunto com outras instituições, a reunião de avaliação e previsão de impactos de eventos extremos em atividades estratégicas do Brasil. São apresentados balanço e diagnóstico sobre emissão de alertas e registros de ocorrências, registrados no mês anterior. Os impactos das secas na agricultura; nos recursos hídricos (associados a bacias hidrográficas destinadas a abastecimento e geração de energia) além do risco de incêndios de vegetação também são apresentados. “São também apresentados prognósticos para o mês subsequente, os quais são relevantes para tomadores de decisão e para a sociedade. Compartilhamos com toda a sociedade as informações geradas no Centro. É uma ação de transparência”, avalia Alvalá.
A diretora destaca que o índice integrado de seca, que integra informações sobre chuvas, umidade do solo e condições de saúde da vegetação, atualizado periodicamente, possibilita subsidiar o monitoramento dos impactos das secas em todo o país. Além disso, possibilita também monitorar as áreas agrícolas e de pastagens afetadas pelas secas, considerando áreas impactadas por municípios, número de estabelecimentos rurais afetados pelas secas, famílias em projetos de assentamentos com condições de secas severa/extrema, exemplifica Alvalá.