Beth Gomes já bateu 35 recordes mundiais
"Eu sei que estou me superando, querendo mais, e tudo é consequência dos treinamentos, eu bater meus próprios recordes", afirmou a atleta paralímpica
- Data: 12/12/2023 11:12
- Alterado: 12/12/2023 11:12
- Autor: Paulo Favero
- Fonte: UOL/Folhapress
Beth Gomes
Crédito:Reprodução Twitter
Já são 35 recordes mundiais e contando. Para Beth Gomes, atleta paralímpica de 58 anos e que foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1993, sua luta é encarar um dia de cada vez. “nesta terça-feira (12) eu posso estar falando, nesta quarta-feira (13) eu não posso, nesta quarta-feira (13) eu posso acordar, depois eu não posso”, disse ao à reportagem.
O currículo da atleta é extenso. Ex-jogadora de vôlei, acabou mudando de esporte após seu diagnóstico da doença neurológica autoimune. Competiu no basquete em cadeira de rodas e agora faz sucesso no arremesso de peso e no lançamento de disco.
“Eu sei que estou me superando, querendo mais, e tudo é consequência dos treinamentos, eu bater meus próprios recordes, então eu fico muito feliz com isso, eu sei que eu estou vivendo, eu sei que a esclerose múltipla ela não vai me dominar, eu vou controlá-la”, afirma a atleta.
CONFIRA A ENTREVISTA COM BETH GOMES
Quando você se descobriu atleta?
BETH GOMES – Eu pratico esporte desde a minha infância. Antes de ficar deficiente, com 14 anos eu iniciei no vôlei e competi até 27 anos. Foi quando eu fui acometida pela esclerose múltipla e encerrei minha carreira sendo tricampeã pela minha cidade de Santos. Para mim a vida tinha acabado, de 1993 até 96 eu fiquei em depressão, não aceitava a minha vida profissional, pensei que tinha acabado. Até que eu iniciei no basquete em cadeira de rodas, conquistei vários títulos e participei das Paralimpíadas de Pequim (2008), e em 2006 eu ingressei para o atletismo de campo, e é onde eu comecei a me destacar e obter bons resultados. Em 2010 encerrei minha carreira no basquete sobre rodas e foquei no atletismo, ingressando na seleção brasileira e é onde eu estou até hoje.
O que a esclerose múltipla faz com a pessoa?
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, desmielinizante, que ataca a bainha de mielina, então pode até deixar sequelas. No meu caso, eu tive sequelas de paraplegia, afetou a minha medula, então preciso controlar a esclerose múltipla com os medicamentos, atividade física, que é muito importante, para você não ficar uma pessoa sedentária. Você pode viver com a esclerose múltipla. Então, você cuidando, como eu sempre digo, a esclerose múltipla é minha amiga, ela caminha do meu lado, mas ela nunca vai estar me vencendo, eu sempre vou estar vencendo ela e a respeitando.
E sua família, como que lidou com tudo isso?
No começo, quando eu fiquei deficiente, tudo era uma novidade, era uma coisa que ninguém esperava, mas eu tive todo o respaldo da minha família, dos meus amigos, graças a Deus.
E as pessoas que têm, o que você recomenda?
Eu sou uma das veteranas com a patologia da esclerose múltipla dentro do esporte, eu fui uma das primeiras atletas a ingressar no paradesporto, então, eu quero dizer que se você foi acometido pela esclerose múltipla, venha para o esporte, seja para alto rendimento, para as suas atividades físicas, para o seu controle de saúde, não deixe de fazer uma atividade física.
Como é ser veterana e conviver com muitos jovens no atletismo, provando que não existe limite para ter um bom desempenho?
Olha, eu sou uma das mais velhas da delegação brasileira, com 58 anos, e a juventude que está aqui, a molecada, é muito gostoso estar com eles, porque eles se respaldam em mim, me pegam como referência, e eu fico muito feliz por ter esse carinho de todos esses atletas. Alguns até me chamam de mãe, eu tenho muitos filhos do esporte, filhos do coração, então é muito gostoso saber que no auge da minha idade eu ainda estou aí deixando alguns legados para quem está vindo para o esporte. Sou um espelho para muitos, tanto aqui no comitê quanto na minha equipe lá em Santos. É muito gratificante isso.
E agora, quais são os seus objetivos? Você é campeã paralímpica e mundial, recordista mundial, o que mais você quer?
Eu estou aí, enquanto eu tiver saúde, eu vou continuar treinando, Paris é logo ali, e vou até onde der.
Você tem uma meta, um número mágico que você sonha em chegar?
Como diz minha treinadora, vamos aí até os 70 anos no atletismo, vamos embora. Se der, estou aí. Os paralímpicos, em algumas provas, não têm tanto o peso da idade, então eu vou continuar, até quando eu conseguir treinar. Desde Tóquio-2020 o ciclo continua. Não parou e os treinamentos continuam.