Bolsonaro e aliados adaptam versões sobre joias diante do avanço da investigação da PF
Operação da PF trouxe à tona suposto esquema de desvio de joias recebidas como presentes de autoridades estrangeiras
- Data: 20/08/2023 11:08
- Alterado: 01/09/2023 16:09
- Autor: Redação
- Fonte: Folhapress
Ex-presidente Jair Bolsonaro
Crédito:Alan Santos/PR
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados têm dado diferentes versões sobre as joias sauditas desde que o caso passou a ser investigado pela Polícia Federal.
Uma operação da PF trouxe à tona, segundo as investigações, um esquema de desvio de joias recebidas como presentes de autoridades estrangeiras pela Presidência da República no mandato de Bolsonaro.
Em 11 de agosto, a polícia fez buscas contra aliados próximos ao ex-presidente e apontou Bolsonaro como suspeito de ter montado um esquema para isso durante o seu mandato.
Veja o que já foi dito até aqui:
– ‘Estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi’
Em março, o ex-presidente Bolsonaro disse não ter pedido nem recebido qualquer tipo de presente em joias do governo da Arábia Saudita.
Bolsonaro afirmou que não providenciou a ida de integrantes da FAB (Força Aérea Brasileira) para tratar da liberação das joias nem abusou de sua autoridade no cargo.
“Eu agora estou sendo crucificado no Brasil por um presente que não recebi. Vi em alguns jornais de forma maldosa dizendo que eu tentei trazer joias ilegais para o Brasil. Não existe isso”, afirmou.
– ‘Eu não fiquei sabendo’
Ainda em março, Bolsonaro afirmou que estava no Brasil quando as joias sauditas foram ofertadas para o ministro das Minas e Energia. “O assessor dele trouxe em um avião de carreira e ficou na alfândega, eu não fiquei sabendo”, disse.
Segundo o ex-mandatário, dois ou três dias depois, a Presidência notificou a alfândega de que as peças deveriam ir para um acervo.
“Até aí tudo bem, nada de mais, poderia, no meu entender, a alfândega ter entregue. Iria para o acervo, seria entregue à primeira-dama. E o que diz a legislação? Ela poderia usar, não poderia desfazer-se daqui. Só isso, mais nada.”
– ‘Quer dizer que ‘eu tenho tudo isso’ e não estava sabendo?’
Em uma postagem nas redes sociais, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro negou ter sido a destinatária das joias, mas não deu mais explicações e ironizou: “Quer dizer que ‘eu tenho tudo isso’ e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa imprensa [sic] vexatória”.
– ‘Alvo de mentiras’
O advogado Frederick Wassef disse, no dia 13 de agosto, que estava sendo “alvo de mentiras” e negou participar do esquema de venda de joias de Jair Bolsonaro.
Wassef é advogado do ex-presidente e amigo da família. Antes do caso das joias, ele se envolveu em outros episódios de investigações envolvendo familiares de Bolsonaro. O mais conhecido de todos é o da “rachadinha” que envolvia o senador Flávio Bolsonaro.
O advogado foi um dos alvos de operação da Polícia Federal deflagrada para apurar um esquema de venda de joias recebidas no governo anterior.
A PF considerou Wassef suspeito de integrar uma “operação resgate” de um relógio de luxo que tinha sido vendido nos Estados Unidos e que, por ordem do TCU (Tribunal de Contas da União), precisaria ser devolvido por Bolsonaro ao governo federal.
“Como advogado de Jair Messias Bolsonaro, venho informar que, uma vez mais, estou sofrendo uma campanha de fake news e mentiras de todos os tipos, além de informações contraditórias e fora de contexto”, disse.
“Nunca vendi nenhuma joia, ofereci ou tive posse. Nunca participei de nenhuma tratativa, e nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta ou indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda”, completou.
– ‘Eu comprei o relógio. A decisão foi minha’
Em 15 de agosto, Wassef mudou o tom do discurso e afirmou que comprou nos Estados Unidos, com a intenção de entregar às autoridades do governo brasileiro, um relógio dado de presente ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas ressaltou que a decisão foi pessoal e lícita.
Em entrevista coletiva em São Paulo, Wassef negou que tenha havido uma “operação resgate”, mas confirmou a compra da peça nos Estados Unidos.
“Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos, eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos, em um banco em Miami, e usei do meu dinheiro para pagar o relógio. Então, o meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente para devolver à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, e isso, inclusive, por decisão do Tribunal de Contas”, disse.
– ‘Pra quê quebrar meu sigilo bancário e fiscal? Bastava me pedir’
O STF autorizou no dia 17 de agosto a quebra de sigilo fiscal e bancária de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. O objetivo é saber se o dinheiro da venda de joias da Presidência chegou até o ex-presidente.
Michelle reclamou da determinação do ministro Alexandre de Moraes. “Pra quê quebrar meu sigilo bancário e fiscal? Bastava me pedir”.
– ‘Ele [Mauro Cid] tem autonomia” e “Não mandei ninguém vender nada’
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro disse na sexta (18) que o tenente-coronel Mauro Cid tinha “autonomia” como seu ajudante de ordens na Presidência da República.
O ex-mandatário comentou a apuração sobre a venda de joias do governo brasileiro e disse que queria esclarecer o caso “o mais rápido possível”.
A PF investiga a venda de presentes dados a Bolsonaro em agendas oficiais. “Ele [Mauro Cid] tem autonomia. Não mandei ninguém vender nada. Não recebi nada”, afirmou ao jornal.
A declaração de Bolsonaro foi dada um dia após o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, afirmar que o cliente faria uma confissão à PF e que a venda de joias ocorreu a mando de Bolsonaro.
– “O presidente Bolsonaro nunca recebeu de Cid’
Ainda na sexta, Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos defensores do ex-mandatário, afirmou que ele nunca recebeu dinheiro de Cid. “O presidente Bolsonaro nunca recebeu valor em espécie do tenente-coronel Mauro Cid referente à venda de nada”, disse à GloboNews.
Bueno argumentou, ainda, que o ex-ajudante de ordens tinha autonomia para exercer o cargo e resolver demandas sozinho, e disse que Bolsonaro poderia vender os itens por ele recebidos, apesar do acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) que regula o tratamento destes bens.
“Quando um chefe de Estado, o presidente da República brasileiro recebe um presente, esse presente é diretamente direcionado ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, […] onde ele recebe esse tratamento, que é um tratamento binário: ou ele ingressa pro acervo público, e aí ele permanece no Palácio do Planalto, ou ele ingressa no acervo privado de interesse público, e aí ele vai para o titular do Executivo.”
– ‘Comprou e vendeu’
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, disse que iria confessar ter negociado nos Estados Unidos, a mando do ex-presidente, as joias recebidas pelo governo brasileiro e que são alvo de investigação da Polícia Federal.
A estratégia de admitir sua atuação e indicar Bolsonaro como mandante da negociação foi revelada pela revista Veja e confirmada à Folha de S. Paulo pelo seu advogado, Cezar Bitencourt.
“Ele confessa que comprou as joias evidentemente a mando do presidente. Comprou e vendeu. ‘Resolva esse negócio e venda’, [teria dito Bolsonaro]”, disse Bitencourt sobre a venda das joias e relógios.
O advogado ainda afirmou à Veja que Cid entregou a Bolsonaro, em espécie, o dinheiro da venda do Rolex negociado nos Estados Unidos. À Folha de S. Paulo o defensor disse que o militar não se beneficiou com o negócio e que não se lembra do destino dos recursos.