Operação na Baixada Santista é a mais violenta da PM paulista desde massacre do Carandiru
A ofensiva policial na região foi motivada pelo assassinato de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, força de elite da PM) na semana passada.
- Data: 02/08/2023 14:08
- Alterado: 02/08/2023 14:08
- Autor: Redação
- Fonte: FolhaPress
Crédito:Reprodução
A megaoperação policial em andamento na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, já deixou 16 mortos, de acordo com o governo estadual. A ação é a mais violenta da PM paulista desde o massacre do Carandiru, em 1992, episódio que terminou com a morte de 111 detentos após rebelião no presídio.
Diante de denúncias de possíveis abusos cometidos por agentes de segurança em comunidades de Guarujá e Santos, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nega excessos e defende a atuação da PM. “Não existe combate ao crime organizado sem efeito colateral”, disse Tarcísio na última terça-feira (1º).
A ofensiva policial na região foi motivada pelo assassinato de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, força de elite da PM) na semana passada. Nesta quarta-feira (2), um homem considerado como o último suspeito de participação no crime foi preso.
Os primeiros meses de gestão Tarcísio no governo de São Paulo têm sido marcados pelo aumento nas mortes provocadas por policiais. De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), 155 pessoas foram mortas por PMs em serviço no primeiro semestre desse ano, alta de 26% em relação aos óbitos registrados no mesmo período de 2022.
Ao defender mortes pela PM, o governador repete discurso linha-dura de antecessores, que defenderam ações letais da corporação.
Relembre as operações mais letais realizadas pela PM de São Paulo:
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MASSACRE DO CARANDIRU (1992) – 111 MORTES
O episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru deixou 111 detentos mortos após intervenção policial na Casa de Detenção, onde ocorria uma rebelião de presos. 74 policiais militares foram condenados pelo assassinato de 77 pessoas com armas de fogo – a Promotoria excluiu 34 vítimas por suspeita de que tenham sido atacadas pelos presos.
OPERAÇÃO CASTELINHO (2002) – 12 MORTES
Ocorrida na região de Sorocaba, a operação Castelinho (nome como é conhecida a rodovia Senador José Ermírio de Moraes) deixou 12 mortos, supostamente membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que estariam se organizando para efetuar um roubo. Investigações da Promotoria comprovaram que a ação foi forjada por agentes estatais, que armaram emboscada para executar os suspeitos. Uma perícia realizada na época indicou que as vítimas não trocaram tiros com a polícia. Anos depois, a Justiça absolveu 53 PMs envolvidos na operação.
GUARAREMA (2019) – 11 MORTES
Depois de tentar roubar dois bancos em Guararema, na Grande São Paulo, uma quadrilha foi confrontada por policiais da Rota e 11 suspeitos foram mortos. Na época, agentes disseram ter agido em legítima defesa, mas relatório da Ouvidoria das Polícias apontou para indícios de excessos em ao menos 4 mortes.
CARAGUATATUBA (2014) – 10 MORTES
Em quatro dias de perseguição, policiais mataram dez suspeitos de participar de um assalto em um shopping de Caraguatatuba, no litoral.
VÁRZEA PAULISTA (2012) – 9 MORTES
Policiais militares da Rota mataram nove suspeitos em ação na cidade de Várzea Paulista, no interior do estado. Cerca de 40 agentes se envolveram em perseguição e troca de tiros com grupo suspeito de integrar tribunal do crime. Nenhum policial se feriu na ocasião.
A atuação dos agentes de segurança na Baixada Santista será investigada pelo Ministério Público estadual, que designou três promotores para analisar a legalidade da Operação Escudo. Residentes afirmaram que policiais militares torturaram e mataram ao menos um homem e prometeram assassinar 60 pessoas em comunidades de Guarujá.
Entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, a Ouvidoria das Polícias e a Defensoria Pública criaram comitê de crise para acompanhar a situação na Baixada e conversar com familiares dos mortos.
Nesta terça (1º), durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, o governador Tarcísio de Freitas disse que a gestão tem sido transparente na condução da operação, e que as imagens das câmeras corporais dos agentes serão utilizadas para investigar eventuais abusos. “A gente não vai se furtar a investigar nada. Se houver excesso, se houver falha, nos vamos punir os responsáveis”, disse.