Filmes sobre povos indígenas e racismo são destaques da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema

Gratuito, evento acontece de 1 a 14/06, em 39 espaços culturais da cidade de SP

  • Data: 22/05/2023 20:05
  • Alterado: 22/05/2023 20:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria
Filmes sobre povos indígenas e racismo são destaques da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema

Escute

Crédito:Divulgação

Você está em:

Questões relacionadas aos povos indígenas e ao racismo estão em destaque na 12ª edição da Mostra Ecofalante de Cinema, um dos maiores festivais do Brasil e o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais, que acontece em São Paulo de 1 a 14 de junho, com entrada gratuita. O evento acontece em salas,  incluindo o Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Centro Cultural São Paulo e Galeria Olido

No cardápio cinematográfico, composto por 101 filmes, estão obras premiadas em festivais como Cannes, Berlin, Cinéma du Réel, CPH:DOX e Tribeca, ao lado de produções em pré-estreia mundial ou inéditas no Brasil. Estão presentes também títulos assinados por cineastas consagrados, como Jorge Bodanzky, Gabriela Cowperthwaite, Eduardo Coutinho, Paul Leduc, Gillo Pontecorvo, Ousmane Sembène, Safi Faye, Marta Rodríguez, Jorge Sanjinés, William Klein.

Na programação estão as tradicionais seções Panorama Internacional Contemporâneo, Competição Latino-americana e Concurso Curta Ecofalante. A Mostra Histórica é dedicada este ano ao tema “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno” e traz 17 títulos icônicos realizados de 1966 a 1984, que discutem a herança do colonialismo em diferentes partes do planeta. Cunhado nos anos 2010 pelas teóricas norte-americanas Donna Haraway e Anna Tsing, o termo Plantationoceno, que está no título da mostra, se contrapõe ao difundido Antropoceno ao reconhecer os fundamentos coloniais e escravagistas da globalização e do sistema socioeconômico hegemônico hoje.

Completam a programação estreias mundiais, uma sessão especial e um programa infantil, um trabalho em realidade virtual, uma série de atividades paralelas que incluem uma masterclass com o pensador martiniquês Malcolm Ferdinand, que também explora  em sua obra o conceito de Plantationoceno, e uma oficina de cinema ambiental com Jorge Bodankzy, além de um ciclo de debates.

Na sessão de abertura, exclusiva para convidados, em 31/05, às 20h00, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta, é projetado o impactante longa-metragem “Nação Lakota Contra os EUA”, de Jesse Short Bull e Laura Tomaselli. A obra utiliza rico material de arquivo e entrevistas íntimas com ativistas veteranos e jovens líderes. O resultado, segundo a crítica, é lírico e provocativo. Exibido nos festivais de Tribeca, Cleveland e Denver, o filme tem entre seus produtores executivos os atores Marisa Tomei (vencedora do Oscar por “Meu Primo Vinny”, 1992) e Mark Ruffalo, três vezes indicado ao Oscar e conhecido por interpretar o personagem Hulk.

No Panorama Internacional Contemporâneo, com 27 filmes de 26 países, destaca-se uma seleção de títulos que abordam sobretudo questões ligadas ao racismo, mas que também não deixam de falar do legado do colonialismo e suas muitas consequências socioambientais presentes até os dias de hoje. Entre eles estão “Filhos do Katrina”, longa-metragem que discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina; “Duas Vezes Colonizada”, sobre o ativismo de uma defensora dos direitos humanos inuíte no parlamento europeu; “Uma História de Ossos”, sobre a luta de uma consultora africana para dar um fim digno aos restos mortais de mais de oito mil ‘africanos libertos’, descobertos durante a construção de um aeroporto na remota ilha de Santa Helena.

A seção traz abordagens de fluxos migratórios em títulos como “Recursos”, elogiado no importante festival de documentários IDFA-Amsterdã; “O Último Refúgio”, filme premiado no festival dinamarquês CPH:DOX, que registra um abrigo temporário de migrantes na África; e “Xaraasi Xanne (Vozes Cruzadas)”, filme de arquivo que lança luz sobre a violência da agricultura colonial no continente africano, premiado no tradicional festival Cinéma du Réel, na Suíça.

Discussões econômicas – sempre presentes no Panorama Internacional Contemporâneo – estão no centro de títulos da seção. Filme mais recente de Gabriela Cowperthwaite, diretora de “Blackfish”, o trepidante “A Apropriação” revela os esforços secretos de governos e multinacionais para controlar comida e água no mundo. Em “Amor e Luta em Tempos de Capitalismo”, produção francesa exibida no CPH:DOX e no Festival de Documentários DMZ com direção de Basile Carré-Agostini, o casal midiático formado pelos sociólogos Monique Pinçon-Charlot e Michel Pinçon, conhecido por suas pesquisas de mais de cinco décadas sobre os ultra-ricos, é retratado no auge do movimento dos Coletes Amarelos. Sobrinha-neta de Walt Disney e herdeira da The Walt Disney Company, Abigail Disney é documentarista e ativista social. Em “O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas”, codirigido por Kathleen Hughes, ela aborda a profunda crise de desigualdade nos Estados Unidos, usando o legado de sua família como um estudo de caso para explorar criticamente a intersecção entre racismo, poder corporativo e o sonho americano. Em “O Retorno da Inflação, de Matthias Heeder, diretor que causou forte impressão com o premiado documentário “Pre-Crime” (2017), discute-se os mecanismos que contribuíram para o retorno da inflação que atualmente atinge o mundo com força total e como pessoas de diferentes meios sociais reagem a ela. “A Máquina do Petróleo”, filme britânico de Emma Davies, toma o exemplo da óleo-dependência do Reino Unido para falar sobre como as principais economias contemporâneas – principalmente no hemisfério norte – se apoiam em boa parte sobre a indústria do petróleo. Já “Deep Rising: A Última Fronteira” revela as intrigas em torno da obtenção de recursos naturais no solo dos oceanos.

Uma programação é dedicada às estreias mundiais em salas de cinema de três títulos brasileiros que abordam o embate entre indígenas e garimpeiros, queimadas em quatro biomas do país e deslocamento de toda uma população.

“Cinzas da Floresta”, de André D’Elia, registra uma expedição com o ativista Mundano que percorreu mais de dez mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica como o objetivo de produzir uma cartela em tons de cinza a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados. Com esse material foi pintado um painel a partir da famosa obra modernista do artista plástico Candido Portinari (1903-1962) “O Lavrador de Café”.

O filme “Escute, A Terra Foi Rasgada”, de Fred Rahal Mauro (de “BR Acima de Tudo”) e Cassandra Mello, registra o acampamento Luta pela Vida, em Brasília, no qual lideranças dos povos Mebêngôkre (Kayapó), Munduruku e Yanomami se uniram para escrever uma carta-manifesto em repúdio à atividade garimpeira. Na sessão promovida pela 12ª Mostra Ecofalante de Cinema têm presença confirmada as lideranças indígenas da “Aliança em Defesa dos Territórios”: Davi Kopenawa, Beka Munduruku e Maial Kayapó.

“Parceiros da Floresta”, de Fred Rahal Mauro, percorre três continentes evidenciando casos de parcerias entre setores privado, público e comunidades locais que geram soluções para a proteção e restauração de florestas tropicais globais aliando tecnologia, negócios e conhecimento tradicional para gerar benefícios verdadeiramente compartilhados.

Na Mostra Histórica “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno”, são exibidos clássicos da cinematografia militante do período das décadas de 1960 a 1980 que refletem sobre as marcas do colonialismo nos diversos territórios, sobretudo do sul global. É o caso de “A Batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, que a mostra exibe em versão restaurada em 4K pela Cinemateca de Bolonha e Instituto Luce Cinecittà. A obra, que foi proibida pela censura da ditadura militar brasileira, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi  indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor diretor e melhor roteiro.

A aculturação de uma minoria mexicana inspirou o cineasta Paul Leduc a realizar o crítico e irônico “Etnocídio”. Marco do documentarismo brasileiro e referência mundial, “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, também está incluído. Com passagens pelos festivais de Cannes e Berlim (onde foi premiado), “Emitaï” traz as marcas do cinema político de seu diretor, o senegalês Ousmane Sembène, um dos pioneiros do cinema africano. Três filmes dirigidos por mulheres e restaurados pelo Instituto Arsenal, de Berlim, também fazem parte do programa: “Eu, Sua Mãe” (Senegal/Alemanha, 1980), da recém falecida pioneira do cinema senegalês e africano Safi Faye; “Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro” (Colômbia, 1982), de Marta Rodríguez e Jorge Silva, e “A Zerda e os Cantos do Esquecimento” (Argélia, 1982), um dos dois filmes dirigidos pela poeta e escritora argelina Assia Djebar e que era considerado perdido antes que uma cópia dele fosse redescoberta nos arquivos do Arsenal há alguns anos. A mostra também traz uma preciosidade recém restaurada pelo Harvard Film Archive, “I Heard It through the Grapevine” (1981), documentário de Dick Fontaine estrelado por James Baldwin, em que o escritor viaja pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que faz um balanço das lutas pelos direitos civis e melhora das condições de vida das comunidades negras em seu país.

Temáticas relativas aos povos indígenas e seus territórios marcam parte das produções selecionadas este ano para a Competição Latino-americana, havendo espaço nos 33 selecionados para discussões sobre racismo, migração e trabalho. Destaca-se “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge, que narra uma eletrizante jornada na Amazônia para tentar encontrar e estabelecer o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubo, tendo merecido quatro prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, inclusive o de melhor filme. Consagrado diretor já homenageado na 4ª Mostra Ecofalante de Cinema, Jorge Bodanzky (de “Iracema – Uma Transa Amazônica”, 1975) assina “Amazônia, A Nova Minamata?”, no qual acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje. No inédito “Mamá”, uma obra de cunho intimista com elaborada narrativa e técnica, o realizador de descendência maia Xun Sero relata como, sendo mexicano tzotzil, cresceu cercado pela sacralidade da Virgem de Guadalupe e da Mãe Terra – e sendo ridicularizado por não ter pai. Já o doc observacional peruano “Odisseia Amazônica”, de Terje Toomistu, Alvaro Sarmiento e Diego Sarmiento, testemunha o trabalho feito nos barcos que constituem o principal meio de transporte de mercadorias e pessoas no rio Amazonas.

Uma sessão especial exibe “Mulheres na Conservação”, dirigido pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa. O documentário, desenvolvido a partir da websérie homônima, mostra na prática o trabalho realizado por sete mulheres que lutam pela conservação da biodiversidade no país e que são referência em suas áreas de atuação.

O Concurso Curta Ecofalante promove competição entre curtas-metragens realizados em universidades e cursos audiovisuais. Em 2023, participam 18 produções, representando os estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Destaca-se na programação ainda um trabalho em realidade virtual, assinado por Estêvão Ciavatta (de “Amazônia Sociedade Anônima”, exibido na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema). Trata-se de “Amazônia Viva”, no qual a cacica Raquel Tupinambá, da comunidade de Surucuá (Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, no Pará), guia o espectador em uma viagem pelo rio Tapajós, em um passeio virtual em 360º.

Uma sessão infantil está incluída na programação da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema. Nela, ganha projeção o longa “A Viagem do Príncipe”, de Jean-François Laguionie e Xavier Picard, obra exibida nos festivais de Locarno, Roterdã, BFI Londres e na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Todas as informações sobre exibições e demais atividades do evento poderão ser encontradas na plataforma Ecofalante: www.ecofalante.org.br.

A Mostra Ecofalante de Cinema é viabilizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Ela tem patrocínio da White Martins, da Valgroup, do Mercado Livre e da Spcine, empresa pública de fomento ao audiovisual vinculada à Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e apoio da Evonik e da Drogasil. Tem apoio institucional do WWF-Brasil, da Cinemateca da Embaixada da França no Brasil, do Institut Français e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. A produção é da Doc & Outras Coisas e a coprodução é da Química Cultural. A realização é da Ecofalante e do Ministério da Cultura.

serviço:

12ª Mostra Ecofalante de Cinema

www.ecofalante.org.br

de 1 a 14 de junho de 2023

gratuito

Espaço Itaú de Cinema – Augusta (Salas 3 e 4) – Rua Augusta 1475, Consolação – São Paulo

Circuito Spcine Lima Barreto (Centro Cultural São Paulo) – Rua Vergueiro 1000, Paraíso – São Paulo

Circuito Spcine Olido (Centro Cultural Olido) – Av. São João 473, Centro – São Paulo

Circuito Spcine Roberto Santos – Rua Cisplatina 505, Ipiranga – São Paulo

e ainda unidades do Centro Educacional Unificado – CEU, Casas de Cultura, Fábricas de Cultura e Centros Culturais

evento viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura

patrocínio: White Martins, Valgroup, Mercado Livre e Spcine

apoio: Evonik e da Drogasil

apoio institucional: WWF-Brasil, Cinemateca da Embaixada da França no Brasil, Institut Français e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima

produção: Doc & Outras Coisas

coprodução: Química Cultural

realização: Ecofalante e Ministério da Cultura

SOBRE A PROGRAMAÇÃO

Panorama Internacional Contemporâneo

Com um total de 27 filmes, representando 26 países, o Panorama Internacional Contemporâneo destaca, entre os temas em discussão, questões ligadas ao colonialismo e seu legado principal: o racismo institucional, a exploração da terra e de corpos racializados. Na programação estão incluídas obras que tratam de aspectos econômicos atuais e futuros, ativismo, racismo ambiental, colonialismo, migração e saúde pública.

Edward Buckles Jr. foi premiado como diretor revelação no prestigioso Festival de Tribeca pelo tocante “Filhos do Katrina”, longa-metragem que discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina e expulsou de suas casas parte da população negra de New Orleans, abandonada pelo governo da época. Já a produção palestina “Forrageadores”, de Jumana Manna, revela como a discriminação racial atua nesta parte do globo: leis que proíbem a coleta de uma tradicional espécie de tomilho aliena ainda mais o povo da Palestina de suas terras. Lançado no importante Festival de Sundance, “Duas Vezes Colonizada”, de Lin Alluna, focaliza Aaju Peter, uma renomada advogada e ativista da nação inuíte da Groenlândia que defende os direitos humanos dos povos indígenas do Ártico e uma feroz protetora de suas terras ancestrais.

Discussões sobre o colonialismo estão presentes no britânico “Uma História de Ossos”, de Joseph Curran e Dominic Aubrey de Vere. A obra, também destacada no Festival de Tribeca, acompanha a jornada da consultora de patrimônio ambiental e cultural namibiense Annina em torno da descoberta, na ilha de Santa Helena, de uma antiga vala comum com os restos de mais de oito mil “africanos libertos”.

Três títulos tematizam os fluxos migratórios contemporâneos. Inédito no Brasil, “Recursos”, de Hubert Caron-Guay e Serge-Olivier Rondeau, colheu elogios no IDFA-Amsterdã e em outros festivais internacionais ao retratar a contratação de requerentes de asilo no Canadá para trabalhar na indústria da carne no Quebec, a maior província do país. Dirigido pelo cineasta malinense Ousmane Samassekou, “O Último Refúgio” volta suas câmeras para a Casa dos Migrantes, um abrigo temporário para aqueles que cruzam a África tentando chegar à Europa cheios de esperanças e de incertezas. Já a coprodução entre a França, Alemanha e Mali “Xaraasi Xanne (Vozes Cruzadas)”, de Bouba Touré e Raphaël Grisey, foi contemplada com o Prêmio Louis Marcorelles e o prêmio do júri jovem no importante festival Cinéma du Réel, na Suíça, ao recuperar a aventura exemplar de uma cooperativa agrícola fundada por trabalhadores imigrantes retornados da França, lançando luz sobre a violência da agricultura colonial e os desafios ecológicos na África hoje.

A complexidade e as consequência de decisões econômicas no mundo contemporâneo estão em pauta na programação. Inédito no Brasil, o premiado “A Apropriação” é o mais recente trabalho de Gabriela Cowperthwaite, diretora do impactante “Blackfish: Fúria Animal” (2013), exibido na 3ª Mostra Ecofalante de Cinema e cuja repercussão nos EUA foi tanta que motivou um debate sobre a proibição do uso de orcas como entretenimento. Aqui, ela acompanha um jornalista investigativo que descobre a verdade por trás do dinheiro, da influência e da lógica que envolvem os esforços secretos para controlar os recursos mais vitais do planeta – comida e água. Inédito no Brasil e considerado como revelador pela crítica internacional, “A Felicidade Vale 4 Milhões”, de Weixi Chen e Kai Wei, também focaliza um trabalho jornalístico: uma repórter idealista em busca do perfil do maior especulador imobiliário da China. A chegada da renda básica universal a uma aldeia africana, transformando para sempre a vida de seus habitantes, é observada no longa “Free Money”, obra exibida no Festival de Toronto assinada pelo engajado cineasta queniano Sam Soko (de “Softie”, 2020, premiado no Festival de Sundance e exibido na 10ª Mostra Ecofalante de Cinema), aqui em parceria com Lauren DeFilippo.

Discussões econômicas estão no centro de outros quatro títulos da seção. Quais mecanismos contribuíram para o retorno da inflação que atualmente atinge o mundo com força total e como pessoas de diferentes meios sociais reagem a ela – estes os temas da produção na Alemanha “O Retorno da Inflação, de Matthias Heeder, diretor que causou forte impressão com o premiado documentário premiado “Pre-Crime” (2017). O nosso envolvimento econômico – e também histórico e emocional – com o petróleo é analisado na produção britânica “A Máquina do Petróleo”, de Emma Davie. Exibido no IDFA-Amsterdã, o mais importante evento internacional dedicado ao cinema documental, o filme levanta questões que tornaram-se ainda mais urgentes com as recentes reviravoltas na segurança energética, no custo de vida e no clima do planeta. A produção norte-americana “Deep Rising: A Última Fronteira”, de Matthieu Rytz, discute questões sobre a obtenção de energia ao apresentar um retrato urgente das intrigas geopolíticas e corporativas em torno ao acesso irrestrito à última fronteira: o solo dos oceanos. Segundo o Festival de Sundance, no qual mereceu pré-estreia mundial, o filme “examina o padrão destrutivo da humanidade de extrair materiais para obter lucro e pergunta por que não escolhemos, em vez disso, desenvolver recursos abundantes para resolver nossos problemas de energia”.

Aspectos da vida de populações específicas do globo estão em obras premiadas e inéditas no Brasil. Aldeias, bairros populares, nômades e seus rebanhos, assim como trilhas ecológicas estão sendo rasgadas para construção de rodovias na Índia, como alerta “Para Além das Estradas”, de Nitin Bathl e Klearjos Eduardo Papanicolaou, que ganha sua primeira exibição no Brasil. Lançado no Festival de Berlim e igualmente inédito nas telas brasileiras, o português “Águas de Pastaza”, de Inês T. Alves, focaliza uma comunidade isolada na floresta tropical amazônica na qual crianças vivem o seu quotidiano de forma quase autônoma e com um forte sentido de colaboração.

Produções tendo o ativismo como pauta sempre marcaram a programação da Mostra Ecofalante de Cinema – e em 2023 isso não é diferente. Inédito no Brasil, o belga “Amianto: Crônica de um Desastre Anunciado”, de Marie-Anne Mengeot e Nina Toussaint, por exemplo, denuncia, através de uma impressionante montagem de imagens de arquivos de mais de 40 anos, como a indústria do amianto sabia dos riscos que o material oferecia para a saúde, e como sua insistente ocultação dos perigos deste produto “milagroso” e muito rentável levou à doença e à morte de inúmeros trabalhadores e suas famílias. Premiado em festivais na Espanha e na Austrália, “Delikado”, do famoso jornalista Karl Malakunas, acompanha três defensores ambientais em sua luta para proteger a idílica ilha de Palawan, na Ásia, da exploração ilegal de suas florestas, rios e montanhas, em um dos países com a maior taxa de assassinato de ambientalistas. Outra obra inédita no Brasil, o canadense “Davi e Golias: O Caso de Dewayne Johnson Contra Monsanto” segue a história de um jardineiro em sua luta por justiça contra a gigante agroquímica Monsanto, fabricante de um herbicida causador de câncer. A realizadora do filme, Jennifer Baichwal, assina também o premiado “Antropoceno – A Era Humana” (2018), exibido na 8ª Mostra Ecofalante de Cinema.

A desertificação daquele que já foi o quarto maior lago do mundo, o mar de Aral, na Ásia Central, é abordada em “Aralkum”, coprodução entre o Uzbequistão e a Alemanha assinada por Daniel Asadi Faezi e Mila Zhluktenko que venceu o prêmio de melhor curta-metragem no Visions du Réel, um dos mais importantes festivais internacionais de documentários.

Inédito no Brasil, “Girl Gang”, de Susanne Regina Meures, causou polêmica ao ser exibido em festivais como IDFA-Amsterdã, DOC NYC, Hot Docs, CPH:DOX e DocsBarcelona: rumores diziam que algumas de suas situações teriam sido forjadas. O filme retrata uma influencer adolescente de Berlim e mostra que, apesar dos seguidores, brindes e dinheiro, as aparências enganam.

Em primeira exibição no Brasil, “Good Life”, de Marta Dauliute e Viktorija Šiaulyte, adentra nos bastidores de uma start-up de convivência que inspira seus inquilinos a administrar toda a sua vida como uma operação comercial, tornando a comunidade em uma mercadoria.

Vencedor do Prêmio Pardo Verde WWF no respeitado Festival de Locarno, “Lixo Fora do Lugar”, de Nikolaus Geyrhalter, é um filme sobre dejetos que se espalham pelos mais remotos cantos do planeta que destaca a luta para se ter controle sobre sua vasta quantidade.

A brasileira Heloisa Passos, diretora de premiados documentários, assina a fotografia do inédito “Nada Dura para Sempre”, obra selecionada para o Festival de Berlim que realiza uma autêntica investigação criminal sobre a atual onda de diamantes sintéticos, cuja inautenticidade é quase indetectável.

Compartilhar:

  • Data: 22/05/2023 08:05
  • Alterado:22/05/2023 20:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Assessoria









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados