Homem negro é amarrado com cordas e carregado por policiais em SP

As imagens causaram repercussão e a Polícia Militar afastou os envolvidos do trabalho operacional

  • Data: 07/06/2023 11:06
  • Alterado: 07/06/2023 11:06
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Homem negro é amarrado com cordas e carregado por policiais em SP

Crédito:Reprodução/Twitter

Você está em:

Um homem negro suspeito de furtar chocolates em um supermercado teve os pés e mãos amarrados com uma corda por policiais militares, na madrugada de segunda-feira, 5, na Vila Mariana, no centro-sul de São Paulo. Imagens de um vídeo publicado em redes sociais mostram o homem gritando enquanto era carregado por dois policiais no interior de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). 

Um vídeo, divulgado pelo padre Júlio Lancelotti em seu perfil no Instagram, mostra quando os policiais seguram o morador de rua pela camisa e pela corda que amarra seus pés e suas mãos juntos e o levam dependurado para o interior da UPA. Em seguida, eles o jogam em uma maca.

Por fim, enquanto o suspeito grita e pede calma, dizendo que está colaborando, os PMs o enfiam na traseira de uma viatura. É possível ver no vídeo que são ao menos quatro policiais, entre eles uma PM feminina, em duas viaturas. A policial orienta os colegas e avisa o homem. “Você vem nessa viatura aqui”, diz. No vídeo, é possível identificar as placas das viaturas.

Além do padre Júlio Lancellotti, conhecido pelo seu trabalho social com moradores de rua na capital, o sociólogo Paulo Escobar também postou o vídeo. “A pobrefobia institucional”, disse Escobar em sua página.

O padre Júlio disse que o episódio é triste e lamentável. “A cena que nós vimos deixa claro que a escravização no Brasil não acabou e que a Polícia Militar e a Guarda Metropolitana continuam sendo os capitães do mato e continuam escravizando os pobres”, afirmou.

Conforme o registro feito pelos policiais na Polícia Civil, três homens teriam entrado na loja de uma rede de supermercados, na zona sul da capital, e furtado produtos alimentícios e bebidas, avaliados em aproximadamente R$ 500.

A gerência do estabelecimento acionou a PM e os policiais encontraram próximo do local o homem negro, de 32 anos, com duas caixas de chocolate. Segundo os policiais, ele teria confessado o furto, na companhia de outro homem e de um menor de idade.

Ainda segundo a versão dos PM, o suspeito teria ameaçado “pegar a arma deles” e dar tiros. Como o homem teria se negado a se sentar para ser revistado, segundo o registro, foi “necessário o uso da força para algemá-lo”.

Outros policiais patrulharam a região e detiveram os outros dois suspeitos do furto – um homem de 38 anos e um menor de 15 anos. Eles foram identificados pelas roupas e teriam confessado o furto.

Os dois também foram levados para a UPA da Vila Mariana. Os dois adultos vão responder por furto qualificado e corrupção de menores, devido à presença do menor de 15 anos. O homem que foi amarrado responderá também por ameaça e resistência à prisão.

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Claudio Silva, disse que as cenas remetem à tortura e racismo. “Esse caso nos remete aos idos anteriores a 1888 (abolição da escravatura). As cenas mostradas nos vídeos são contundentes contra a ação dos policiais.” Segundo ele, a Ouvidoria abriu apuração própria e pediu à PM as imagens das câmeras corporais dos agentes e à Polícia Civil as imagens de câmeras do entorno.

“Essa postura dos policiais enseja para nós um diálogo com a PM e a Secretaria de Segurança Pública e com a comunidade para discutir esse modelo de abordagem”, afirmou.

Afastamento

Em nota, a PM informou que os policiais envolvidos no caso foram afastados das atividades operacionais e que um inquérito já foi aberto para apurar a conduta dos agentes de segurança. Segundo a corporação, a conduta dos agentes é incompatível com o treinamento e valores da instituição, uma vez que as imagens mostram que eles agiram “em desacordo com os procedimentos operacionais padrão da instituição”.

A reportagem pediu um posicionamento à Prefeitura de São Paulo, devido à ação ter se dado em uma UPA, e à Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre a ocorrência, e ainda aguarda os retornos.

Compartilhar:

  • Data: 07/06/2023 11:06
  • Alterado:07/06/2023 11:06
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados