Passageiros viram alvo de furtos de celulares dentro de ônibus na região da cracolândia
Casos em que ladrões até quebram janelas são relatados por motoristas e cobradores, que fazem alerta; bandidos aproveitam tumulto de usuários no centro de SP
- Data: 14/07/2023 13:07
- Alterado: 14/07/2023 13:07
- Autor: Redação
- Fonte: Paulo Eduardo Dias/Folhapress
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Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil
Motoristas, cobradores e passageiros de ônibus que transitam diariamente pela avenida Rio Branco, no centro de São Paulo, relatam medo de passar pelo local devido a uma onda de furtos de celulares.
São os próprios condutores que têm alertado os passageiros sobre o risco de manusear o telefone dentro dos coletivos. O motivo é evitar que os aparelhos sejam tomados por frestas nas janelas ou até mesmo pela quebra dos vidros.
Cerca de dez funcionários de quatro empresas do transporte municipal confirmaram à reportagem os casos e a sensação de insegurança a cada trecho percorrido no centro.
De acordo com eles, as ações de criminosos são diárias e acontecem a qualquer horário do dia, mas principalmente após conflitos ou alterações na dinâmica da cracolândia, como operações policiais e retirada de usuários para limpeza das ruas pela prefeitura.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública declarou que, desde o início do ano, tem atuado para combater a reduzir a criminalidade na região central. Conforme a pasta, o policiamento foi ampliado, o que permitiu a redução de 20% dos roubos e 22% nos furtos, entre os dias 3 e 9, na comparação com o mesmo período em 2022, na área que abrange o 3º DP (Campos Elíseos) e o 77º DP (Santa Cecília). Entre janeiro a junho, mais de 1.300 pessoas foram presas na região, diz a secretaria da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O trecho mais vulnerável de ataque fica entre a praça Princesa Isabel e a avenida Ipiranga, segundo os motoristas.
Um fiscal de linha contou que os ladrões se aproveitam da aglomeração de dependentes químicos que se fixou na rua dos Gusmões para atacar e se esconder entre os sem-teto.
O mesmo funcionário relatou três métodos de furto. O principal é tomar celulares pelas janelas abertas – nesse caso, o criminoso escolhe a vítima a uma certa distância, se aproxima de repente, enfia o braço no veículo e corre com o aparelho.
Em outra tática, o ladrão fica parado na porta do ônibus ao lado de uma pessoa que está com o celular na mão. Assim que o veículo para no ponto e abre as portas, o bandido pega o aparelho e foge.
A terceira prática relatada é quebrar o vidro da janela do coletivo para tomar o aparelho.
O fiscal mostrou para a reportagem um grupo no WhatsApp formado por motoristas e cobradores justamente para relatar problemas durante o trajeto entre a zona norte e o centro. Um dos vídeos mostra os vidros quebrados de um ônibus após ataque na avenida Rio Branco.
A cobradora Monisa Cruz, 47, confirmou que faz de tudo para ajudar os passageiros, mas nem sempre consegue. “Pessoal, cuidado. Presta atenção na janela”, é o que costuma dizer várias vezes, segundo relata.
No ônibus de Cruz estava a designer de interiores Amanda Carrijo, 23. Sentada em um dos bancos mais altos ao nível do chão, ele mexia no celular sem demonstrar preocupação. Ao ser informada que a cracolândia estava a apenas uma quadra dali, ela agarrou o celular.
Em outro coletivo, em direção à praça do Correio, a recepcionista Márcia Lima, 45, diz ter presenciado mais de uma vez ladrões atacarem passageiros de ambos os lados da avenida Rio Branco. Para fugir das estatísticas, ela diz que esconde o celular no sutiã. “Somos reféns da violência.”
Responsável pelo transporte público municipal, a SPTrans declarou que mantém contato com a Polícia Militar e que os registros de roubos e furtos são comunicados ao setor de inteligência das autoridades policiais.
A direção do SindMotoristas cobra medidas para melhorar a segurança. “Os ataques a ônibus têm sido recorrentes na região central. Nossos companheiros e passageiros estão com medo de transitar sob o risco de serem roubados ou atacados pelos grupos de viciados. Solicitamos à Secretaria de Segurança Pública e à Polícia Militar que adotem medidas efetivas para coibir os ataques e prover segurança”, diz o presidente do sindicato, Cristiano Porangaba, o Crizinho, em trecho da nota encaminhada.
Já o SPUrbanuss (sindicato das empresas de ônibus) afirma que a questão dos ataques aos ônibus na região da cracolândia está relacionada à segurança pública, fugindo da competência das empresas que não possuem poder de polícia.
O órgão afirmou não possuir estatísticas relacionadas, especificamente, a atos de vandalismos naquela região.
Na última terça (11), ao menos seis ônibus que passavam pela região central foram depredados, segundo a SPTrans.
Vídeos gravados por moradores e divulgados na internet mostraram o momento de um desses ataques, quando um grupo cercou um ônibus e arremessou objetos que romperam vidros do coletivo.
A confusão começou quando usuários de drogas depredaram uma viatura da Polícia Militar na praça Júlio de Mesquita. Houve confronto entre dependentes químicos e policiais na esquina da rua General Osório e da avenida Rio Branco.
Dois caminhões, um de coleta de lixo e outro que transportava bebidas, também foram alvos de ataques. Dois suspeitos foram presos.
Os problemas relacionados à dispersão da cracolândia, que há mais de um ano deixou o entorno da praça Júlio Prestes e se instalou em menos oito vias, afetam ainda moradores e comerciantes. O tema foi declarado como prioridade pelas gestões estadual, de Tarcísio, e municipal, do prefeito Ricardo Nunes (MDB), mas está longe de ser resolvido.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, só nos últimos três meses, a aglomeração de usuários de drogas ganhou cerca de 300 novos frequentadores. Portal da Secretaria estadual de Segurança Pública apontou nesta semana uma média de 1.100 pessoas por dia, em abril, eram 800, aproximadamente.
Além disso, o crime organizado voltou a montar barracas e guarda-sóis na rua dos Gusmões, onde está a principal concentração da cracolândia atualmente. Os equipamentos são um indício que o tráfico de drogas segue dominando a região, já que são usados para manter a venda e o consumo de crack escondidos das forças de segurança.