Atentado no Maranhão deixa dois índios mortos; Moro fala em enviar Força Nacional
Ataques ocorreram no município de Jenipapo dos Vieiras, 500 quilômetros ao sul de São Luís. Há um mês outro indígena havia sido morto
- Data: 08/12/2019 08:12
- Alterado: 08/12/2019 08:12
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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Firmino Silvino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara, índios da etnia guajajara, morreram após atentado a balas ontem às margens da BR-226, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão, 500 quilômetros ao sul da capital São Luís. Em pouco mais de um mês, foram três vítimas na região. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), os indígenas foram atingidos por tiros disparados por ocupantes de um veículo Celta, de cor branca e com vidros espelhados por volta das 14h30. Outros dois ficaram feridos.
Após a confirmação das mortes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, lamentou o ataque e informou no Twitter que uma equipe da Polícia Federal havia sido enviada ao local para investigar o crime e suas motivações. “Vamos avaliar a viabilidade do envio de equipe da Força Nacional à região. Nossa solidariedade às vítimas e aos seus familiares”, escreveu Moro.
Em nota, a Funai também lamentou as mortes ocorridas na Terra Indígena Cana Brava, próxima da Aldeia El-Betel, e afirmou que enviou equipe à região, assim como fez a secretaria de Segurança Pública e de Direitos Humanos do Maranhão. Depois do atentado, como forma de protesto, os indígenas interditaram a rodovia nos dois sentidos e a passagem de veículos ficou bloqueada. Episódios assim têm sido recorrentes na região.
No dia 1º de novembro, Paulo Paulino Guajajara foi morto em uma emboscada na Terra Indígena Arariboia (MA) quando realizava uma ronda contra invasões. Considerado um dos “guardiões da floresta”, era conhecido por ser calado e estrategista.
Há cinco anos que a escalada de violência em terras indígenas do Maranhão levou o Ministério Público Federal (MPF) a pedir na Justiça que as autoridades tomem providências para evitar mais mortes. Atualmente existem ao menos quatro “guardiões” sob ameaça de morte na área e outros 20 em todo o Estado.
O governador Flávio Dino (PCdoB) já criou uma força-tarefa para garantir a segurança dos indígenas e mediar possíveis conflitos. De acordo com o governo estadual, no entanto, para funcionar plenamente a força-tarefa depende da União. Organizados desde 2012 com auxílio da Funai, os “guardiões” são grupos formados pelos próprios índios para proteger suas terras de invasões. Na Aririboia são cerca de cem jovens que patrulham a floresta armados com arcos, flechas e cordas. Armas de fogo são vetadas.
LIDERANÇAS CONDENAM ATAQUE
Para a líder indígena Sônia Guajajara é hora de dar um basta nessas mortes. “Me preocupa a explosão de violência e intolerância na Amazônia. Esses três assassinatos em 35 dias no Maranhão não podem ser considerados crimes isolados. São casos articulados e fomentados por essa onda de incitação ao ódio em curso no Brasil”, afirmou ela ao Estado.
NOTA DE SÔNIA GUAJAJARA
“É com profundo pesar e indignação que externo meus mais sinceros e profundos sentimentos aos familiares de Firmino Silvino Prexede Guajajara e Raimundo Guajajara que, neste momento, sentem a dor e a tristeza de perderem pessoas queridas por tamanha brutalidade que hoje fez novas vítimas dentre o Povo Guajajara. Os indígenas assassinados vivam nas aldeias Silvino (Terra Indígena Cana Brava) e aldeia Descendência Severino (TI Lagoa Comprida), ambos do Maranhão, estado que há 35 dias sofreu também o assassinato de Paulo Paulino Guajajara, que atuava como Guardião da Floresta.
Sinto um misto de dor e revolta por mais esse crime que se debruça sobre o meu povo Guajajara. Crime este que reflete a escalada de ódio e barbárie incitados pelo espectro político nefasto do governo racista e perverso de Jair Bolsonaro, que segue nos atacando diariamente, negando o nosso direito de existir e incitando a doença histórica do racismo do qual o povo brasileiro ainda padece.
Estamos à deriva, sem a proteção do Estado brasileiro, cujo papel constitucional está sendo negligenciado pelas atuais autoridades. O governo federal é um governo fora da lei, criminoso em sua prática política e opera de maneira genocida com vistas a nos expulsar de nossos territórios, massacrando nossa cultura, fazendo sangrar nossas raízes.
O clima de tensão, insegurança e perseguição contra os povos indígenas do Brasil só aumenta. Estamos sendo atacados, dizimados, e vale sempre lembrar que um ataque a vida indígena é um ataque contra a humanidade uma vez que somos, povos indígenas de todo mundo, os defensores de 82% de toda biodiversidade global.
Chega de derramamento de sangue indígena! Chega de impunidade! Exigimos que providências sejam tomadas imediatamente e faça valer a Justiça! Exigimos que as autoridades competentes esclareçam os fatos, punindo rigorosamente esses criminosos, para que a sensação de impunidade não motive mais ações criminosas contra nossa gente, ceifando brutalmente vidas indígenas.
Sangue indígena: Nenhuma gota mais!”
Sônia Guajajara, coordenação executiva da Apib – Articulacão dos Povos Indigenas do Brasil
A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), líder da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, comentou que a situação é urgente e ligou o aumento da violência à impunidade. “A violência está crescendo porque não há punição”, disse.
Ela defendeu que a Polícia Federal e a Força Nacional atuem provisoriamente para garantir a segurança da região, mas pediu uma atuação contínua e permanente, com maior fiscalização. “É essencial que se crie uma base de proteção contra essa violência orquestrada”.