Luto: Leonardo Villar, premiada estrela do Cinema e das Novelas, morre aos 96 anos
Protagonista de 'O Pagador de Promessas' de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro do festival de Cannes em 1962, morreu vítima de uma parada cardíaca
- Data: 04/07/2020 08:07
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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O ator paulista Leonardo Villar morreu nesta sexta-feira, aos 96 anos, em São Paulo. Na quinta, ele passou mal e foi levado a um hospital. Estava lúcido, apesar da idade, e se recuperava de uma cirurgia no fêmur, realizada há um mês, mas sofreu uma parada cardíaca. Por conta da pandemia, não haverá velório e seu corpo será cremado, como era desejo do ator.
Villar Villar ficou internacionalmente conhecido após interpretar Zé do Burro, personagem principal do filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, na França, em 1962.
Ele também interpretou Lampião em Lampião, Rei do Cangaço (1964), de Carlos Coimbra, e Augusto Matraga, em A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos, entre diversos outros filmes. Nas décadas seguintes, consolidou uma carreira na televisão ao participar de diversas novelas da Tupi e da Globo. Seu último trabalho foi na novela Passione, de 2010.
Foi no teatro, porém, que iniciou sua carreira. Leonildo Motta (seu nome de batismo) nasceu em Piracicaba, em 1923, começou na Companhia Dramática Nacional (CDN), e depois atuou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), onde permaneceu por oito anos. Uma peça de Arthur Miller (Um Panorama Visto da Ponte) e depois a de Dias Gomes, entre 1958 e 1960, alçaram seu nome ao primeiro círculo dos atores brasileiros.
No Estadão, em uma crítica da peça de Miller em 1958, Décio de Almeida Prado escreveu: “Leonardo Villar está tão comovente e humano como em Um Panorama Visto da Ponte. Não é fácil parecer bom em cena: percebemos, com facilidade, a contrafação. Leonardo Villar não só retrata com tocante veracidade a inocência, mas o faz sem emprestar-lhe nada de edulcorado ou de piegas”.
É conhecido o embate entre Anselmo Duarte (galã do cinema da época) e Dias Gomes, dramaturgo de opiniões de esquerda, sobre a adaptação de O Pagador de Promessas para o cinema. Ao comprar os direitos, Anselmo armou-se de uma cláusula, que lhe assegurava o direito de fazer mudanças no original. Dias Gomes assegurou-se de outra cláusula. Flávio Rangel teria de ser diretor assistente.
No limite, Anselmo fez as mudanças que julgava necessárias para tornar a história mais cinematográfica e eliminou a função do assistente. Dias Gomes leu o roteiro e achou uma m… Segundo Anselmo, acusou-o de estar estragando sua criação. A essa altura, Anselmo ligara-se ao produtor Anibal Massaini, que não estava colocando dinheiro, mas tinha know-how suficiente para fazer o projeto andar. Massaini teria lhe dito que tivesse calma, que Dias iria se amansar. O próprio Anselmo talvez tivesse se arrependido, se houvesse cedido a outra exortação do produtor. Pensando comercialmente, Massaini achava que o ator do teatro, Leonardo Villar, não teria apelo para grandes plateias. Tentou convencer Anselmo a contratar Mazzaropi para o papel, mas ele bateu pé. Seria Villar, e ninguém mais.
O filme foi a Cannes e brigava na competição com nomes como Michelangelo Antonioni (O Eclipse), Luís Buñuel (O Anjo Exterminador), Sidney Lumet (Longa Jornada Noite Adentro) e Agnès Varda (Cléo das 5 às 7). Depois, muita história rolou na imprensa brasileira. Criou-se um conflito de narrativas. O filme não teria vencido por suas qualidades, mas porque o júri não conseguira chegar a um consenso – mas não importa. O Pagador de Promessas é um clássico, e o Leonardo Villar foi parte fundamental nessa história.