Interferência: Ações da Petrobras despencam no pré-mercado de Nova York
Papéis negociados nesta manhã nos EUA tem queda de mais de 16% após Bolsonaro decidir trocar o comando da petroleira.; na sexta-feira, petroleira perdeu R$ 28 bilhões em valor de mercado
- Data: 22/02/2021 09:02
- Alterado: 22/02/2021 09:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Agências de Notícia
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Investidores reagiram negativamente à decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da estatal, com a indicação do general e ex-ministro da Defesa Joaquim Silva e Luna, atualmente diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, no lugar de Roberto Castello Branco.
A troca no comando pode resultar em um processo administrativo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A CVM informou que “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário” e recomendou a leitura de um alerta feito em 2016 sobre as responsabilidades na divulgação de fatos relevantes. O documento destaca que a Lei das S/A e a regulação da CVM determinam a divulgação ao mercado de qualquer fato relevante que possa mexer com os papéis de uma companhia.
Na sexta-feira, 19, as declarações do presidente provocaram pânico no mercado financeiro e as ações tiveram queda de quase 8%. Num único dia, a Petrobrás perdeu R$ 28,2 bilhões em valor de mercado.
A XP rebaixou a recomendação das ações da Petrobras para “venda” de “neutro” anteriormente, revisando, ao mesmo tempo, o preço-alvo do papel para R$ 24,00, de R$ 32,00. Em relatório distribuído neste domingo, 21, o analista Gabriel Francisco atribuiu a alteração à sinalização negativa em termos da perspectiva de governança da estatal e à atual gestão de preços com o anúncio de substituição do presidente da companhia. “Vemos esse anúncio como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio“, diz Francisco, e acrescenta que “Acreditamos que as ações deverão daqui em diante negociar com um desconto mais alto em relação ao histórico e a outras petroleiras globais“.
No sábado, Bolsonaro disse que precisa “trocar as peças que porventura não estejam funcionando“. E que, “na semana que vem, teremos mais“, sem dar mais detalhes.
SEGUNDA-FEIRA
Na manhã desta segunda-feira ações da Petrobras despencam no pré-mercado de Nova York. Por volta das 8h30 os American Depositary Receipts (ADR) da Petrobras (recibos das ações da petroleira negociados na Bolsa de Nova York) caíam 16,92%, a US$ 8,35.
Há uma certeza de que a interferência de Bolsonaro deve mexer com as ações da Petrobrás nesta segunda também no Brasil. O Ibovespa deve abrir com recuo entre 4% e 5% na manhã desta segunda-feira, 22, puxado pelas incertezas que rondam a Petrobras.
Ao considerar o fechamento na sexta-feira na B3 e a queda no pré-mercado em Nova York, as ações da Petrobras já caem mais de 23%, perdendo em torno de um quinto de valor de mercado, avalia em nota André Machado, sócio fundador do Projeto Os 10%, escola de traders. “Mas ainda temos um pregão inteiro pela frente. Será um pregão bastante tenso não só para as ações da Petrobras, mas também para todas as estatais uma vez que não se sabe onde mais o presidente colocará o dedo” diz.