Ilha da Queimada Grande: o recife de coral mais ao sul do Atlântico
Abaixo da Ilha das Cobras, um tesouro biológico. Cientistas descobrem no litoral paulista o recife de corais que possibilitará conhecer melhor o ecossistema da região.
- Data: 07/03/2019 13:03
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
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Em meio a tantas incertezas sobre o futuro da biodiversidade marinha, a equipe de pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acaba de revelar a existência de um recife de coral até então desconhecido.
Trata-se do recife de coral mais ao sul do Oceano Atlântico, localizado na Ilha da Queimada Grande, litoral do Estado de São Paulo. A descoberta acaba de ser publicada no periódico “Bulletin of Marine Science” e revela imagens de uma paisagem marinha exuberante. “Os recifes de corais promovem estruturas complexas nos fundos marinhos, promovendo abrigo para uma diversidade de peixes e outros organismos”, explica Guilherme Pereira Filho, professor da Unifesp e responsável pela descoberta.
Até então, a região de Abrolhos era considerada o limite sul de ocorrência dos recifes coralíneos, uma vez que a costa oeste do continente africano não apresenta essas formações. Além da importância ecológica que amplia a distribuição dos recifes de corais em mais de 1000 km, a descoberta reflete a carência de conhecimento do Brasil sobre sua biodiversidade marinha.
“É incrível que um ambiente como esse ainda não havia sido descrito. Somos capazes de explorar petróleo a milhares de metros e profundidade e ainda desconhecemos um recife de coral a 12 m de profundidade no litoral de São Paulo”, destaca o professor Pereira Filho. Segundo o professor Fabio Motta, também da Unifesp e coautor do artigo, a descoberta valoriza ainda mais a Ilha da Queimada Grande, que é reconhecida pela sua fauna terrestre, especialmente a jararaca-ilhoa, uma espécie de serpente exclusiva da ilha. “A descoberta é surpreendente e possivelmente explica a diversidade de peixes e os múltiplos usos registrados na região, como a pesca comercial, esportiva e as atividades de mergulho recreativo”, afirma Motta.
Os pesquisadores deixam bem claro, porém, que não são favoráveis a nenhuma intenção de fechar o acesso à ilha. A ideia é trabalhar em parceria com vários segmentos de frequentadores de Queimada Grande – pescadores comerciais e amadores, caçadores submarinos, operadoras de mergulho e turismo – para que suas atividades tenham pouco impacto sobre o recife, num esforço coletivo e voluntário de conservação. “Chegar com uma ótica de proteção integral num lugar que já tem usos históricos consolidados como esse não seria uma boa estratégia. Acho que temos a oportunidade de inovar nessa gestão da APA (Área de Proteção Ambiental) marinha do litoral centro e propor um ordenamento no qual o uso turístico coexista com a conservação da biodiversidade, evitando qualquer restrição que inviabilize a presença da sociedade naquele espaço”, avalia o professor Motta.
Para inovar é preciso ciência e geração de conhecimento. Nesse contexto, os autores explicam que os estudos não param por aí. Muito mais do que descrever o recife, os cientistas querem entender como ele se formou, se desenvolveu, e qual é o papel ecológico que ele desempenha no ecossistema marinho da região. Além da Unifesp, a pesquisa foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Fundação SOS Mata Atlântica, além de contar com a participação de outras instituições como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, UFRJ, UFRRJ e a UFABC.